30 de set. de 2010

Teatro

Uma mistura de pato e o sabor doce e amargo do experimentar. Cansada de Nietzsche, Blake e Tolstoi. Livros demais, filosofias e reflexões demais. A vontade de andar de pés descalços e dançar na chuva, o grito que ficou preso na garganta, as coisas não ditas... Ah, as coisas não ditas...
A raiva contida, as expressões jogadas para dentro sem a emissão de um som, a inconformidade. A esperança num olhar de compreensão de uma mãe ausente (foi sonho? foi pesadelo? ou apenas o filme que vi na TV?). O desinteresse fingido de um pai (foi sonho? foi pesadelo? ou apenas o filme que vi na TV?), e a loucura que bate na porta. Um meio irmão que se afoga, a briga e a discórdia enquanto no alto a alma passeia alheia. Uma mistura de vinho caro e fumaça na boca, as cenas de um teatro fantasma repleto de subjetividade e terror.
Nietzsche nos ouvidos em conversas imaginárias com Shakespeare. Beethoven ou Bach ao fundo?
Filosofias demais, curvas e mais curvas no teatro dos moribundos. Zumbis perdidos que deixam de procurar por cérebros para apreender corações. A vontade de gritar os desaforos guardados, a mão sempre contida e aquele olhar de mãe que poderia dizer qualquer coisa, por que afinal a mensagem seria para mim, se nem a mãe era minha?
O gosto de pato, o cacau ainda quente na boca e os olhos perdidos que já não vêem nenhuma direção.
Não me venham com conversas moles e de falsa intelectualidade, de frases decoradas e textos repetidos. Falta de originalidade, de libertação.
Influências de toda gente em toda gente, falta autenticidade. Uma montoeira de carências e frustrações, os passos nas ruas e a solidão dos olhares. Não haverá um olhar como aquele, jamais haverá tanta solidão num brilho de olhar como aquele.
A escuridão absoluta e o profundo de uma alma que não se deixa conhecer, carregada demais de coisas que não são autênticas ou próprias, o cansaço em se buscar. As palavras não ditas, o confronto... confronto de monstros e titãs, de deuses e demônios, não sobrará sequer pedra no chão.
Eu queria me fazer ouvir, eu queria não calar. Calo, calo, silencio e deixo a hora passar.
As perguntas que ficarão sem respostas, quebram-se as correntes, soltam-se as amarras... que diferença e que sentido tem em se libertar um escravo que conhece apenas a escravidão?

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