28 de abr. de 2012

A história de Sebastião


Da Baixa de Albufeira – Uma ilha no centro do mundo

Se há uma coisa que faço automaticamente sem me aperceber, é cumprimentar os cães. Uma vez que cumprimento as pessoas e também as crianças (mesmo as pequeninas de colo), por que razão eu não cumprimentaria os cães, seres muitas vezes mais simpáticos e autênticos em sua naturalidade?

Despertou minha atenção hoje um cão aparentemente ainda jovem que ia muito apressado com ar atento, passou por mim tão depressa que nem se deu conta de meu cumprimento sussurrado. Andou alguns metros e sentou-se na praça a observar crianças que estavam a jogar bola.

Um grande pastor capa-preta dificilmente passa sozinho e sem coleira sem despertar algum receio nas pessoas em sua proximidade.

Passou também por ali um casal um tanto desatento, a puxar pela coleira um poodle branco com ares de aristocrata. O pastor, nada desatento, viu e foi logo ver de que espécie de aristocracia se tratava, a mostrar os dentes do proletariado que não simpatiza muito com a nobreza e hierarquias sociais...

A observar a cena assim como observo o mundo (sempre por debaixo da aba de meu chapéu, para que não me confundam jamais com um dos atores da peça sempre em andamento), ouvi os gritos agudos da mulher que foi bruscamente tirada de sua desantenção e a dança do homem que tentava afastar o pastor com um guarda-chuva aberto. Não pude deixar de pensar em Fred Astaire e Ginger Rogers e sua dança na chuva...

Por fim o casal e o poodle safam-se e distanciam-se, deixando o pobre do pastor sem ter mais o espetáculo das crianças a jogar bola para observar e nem a aristocracia para morder.

Mas o teatro da vida, sempre cheio de surpresas e imprevistos faz com que se aproxime do pastor um rapaz, que emocionado ajoelha-se no chão diante do pastor. O pastor estranha, olha desconfiado, fica na dúvida.

Descobre-se por fim que o pastor tinha nome, Sebastião (desconfio que deveria ter também algum sobrenome que denunciasse sua linhagem pura e de sangue real, mas isso já não pude averiguar devidamente).

Sebastião, cerca de dois anos atrás havia sido roubado (os ladrões permanecem anônimos e desconhecidos), tendo sido hoje encontrado por seu primeiro dono. Um chip confirma a identidade de Sebastião.

Sebastião e seu dono reencontrado foram embora juntos, felizes e satisfeitos, enquanto caia a tarde e novas peças se desenrolavam para observadores e atores desconhecidos.