19 de jun. de 2010

"Já tá"

Carência. As vezes tanta, que impede as pessoas de comportamentos “normais”. É triste. Estranho. Faz pensar... sou uma completa estranha para muita gente, qual a necessidade que faz pessoas desconhecidas abrirem seus corações, chorarem suas mágoas e desesperadamente pedirem por conforto para uma estranha? Não é a primeira vez, nem a segunda ou terceira... Mas hoje teve uma diferença, não consegui evitar, ao ouvir mais uma história de desilusão e procura... Separação? Divórcio? Filhos que não compreendem? Mulheres que não se expõe? Tantas personagens, tantas histórias semelhantes... Contei a minha também. Querem que eu dê carinhos e consolos? Como posso??? Dessa vez, falei a sério. Olhe bem para a minha cara! Acha que as desgraças só acontecem com você? Acha que só a sua história é uma desilusão? Me impressiona tremendamente ver homens tão “maduros”, com idades bem maiores que a minha, acharem que posso ser alguma espécie de solução! Ou amiga! Não, não sou! Nem quero ser! Não quero ser amiga de ninguém, dá licença? Tudo bem, escrevo agora porque fico me sentindo um tanto culpada pela minha explosão com um pobre coitado qualquer, mas que sirva então para todos os outros pobres coitados do mundo! O que se passa aqui? Que raio de situação é essa??? Tanta procura por companhia, tanta busca por afeto! Não, não, eu não quero entrar nesse jogo, não faço parte desse esquema, não quero fazer – e não vou! E olha lá, me serviu de lição, de espelho até! Essa não sou eu! NÃO sou! Entrei sem querer nesse comboio desgovernado, olha lá, é minha hora de descer! Não quero nem me atrever a tentar fazer qualquer coisa, essa missão é demais para mim! Acho que estou tão assustada que posso correr por quilômetros a fio sem parar nem pra tomar fôlego, e só correr, correr, fugir disso! Esses não são meus monstros, não são minhas escolhas. As minhas foram muito diferentes de tudo isso... Agora entendo vosso jeito de pensar que cada um tem que carregar os próprios problemas! Claro! Isso pega! É contagioso! E eu acho que eu ainda tenho cura! Porque essa solidão é uma porta que ninguém quer assumidamente fechar, ninguém tem a coragem de pegar no raio da fechadura e fechar a porta! Não serei eu, não mesmo... Caro estranho, desculpe se não pude ajudar, mas não estou aqui para ajudar a mais ninguém, desde que eu consiga ajudar-me a mim estou mais que satisfeita! Que façam dias de sol. Preciso de sol.

17 de jun. de 2010

Eu

Essa sou eu, cheia de sonhos e impulsos ainda maiores que meu coração. Sou eu entrando pelo corredor do residencial, batendo nas portas de todos os quartos (sem saber de quem são) chamando todos para uma bagunça. Sou eu, andando pelas ruas de Lisboa com meu velho casaco preto, mãos nos bolsos e fones nos ouvidos. Sou eu, muitas noites tentando ler um livro e esperando que o telefone toque e sabendo que não tocará. Sou eu, querendo esticar os programas combinados para dançar ou beber. Sou eu, muitas vezes entrando em portas desconhecidas esperando por alguma revelação atrás do batente escuro. Eu, querendo ir ao karaoke, querendo dançar, querendo escrever. Eu, muitas vezes deitada em um banco do Gulbenkian só olhando as folhas das árvores acima da minha cabeça, deixando passar uns raios de sol. As vezes, tambem sou eu carregada de uma nostalgia que vem de não sei onde, e que me toma como um oceano em fúria, esperando pelo naufrágio. Tambem sou eu quem acaba as vezes cheia de desconfiança, evitando um contato que se aproxime demais. Tambem sou quem chora, muitas vezes copiosamente, quando escuto a voz de minha mãe, meu pai ou avó. E não é um choro desesperado, é um choro de quem não entende como pode existir essa sensação, como a de uma saudade que nunca será morta, como de uma vida que não existe mais, e que não vai mais existir. Sou tambem aquela que corre atrás dos gatos, e se surpreende quando eles simplesmente seguem seus caminhos. Sou eu. Eu. Feliz, uma felicidade de louco, sem lógica, sem explicação. Um encantamento pela vida, uma vontade constante de rir, uma questão ilógica de não levar nada a sério demais. Eu. E meus sonhos, dúvidas e certezas. Eu. Sozinha. Dona de mim. E sem ter um único lugar em não possa estar, e nenhum lugar em particular que me faça querer ficar. Porque o lar da gente não é um lugar. É aonde está o nosso coração.

15 de jun. de 2010

Me and myself

And then, I ask myself “Can I do it?” and I get the answer “Yes, will be hard, I know… but I want to do it?” and I get the answer “No, I don’t want to do it”… I ask me again “Do I have to do it?” And I know “Yes, I have to. I have to … ”

11 de jun. de 2010

Um Amor

Alguns amores vem quando somos jovens, quase crianças. Nos enchem de sonhos, nos fazem acreditar na eternidade dos pequenos gestos, nos fazem acreditar que uma pessoa pode significar o mundo, ser perfeita. Nos deitam ao chão quando o amor acaba... Nos mata... Mata uma parte linda em nós, a inocência. Outros amores vêm depois, nunca iguais. Cada um de uma forma, de um jeito especial e nos fazem resgatar pequenos pedaços do primeiro amor que tivemos. Chega o dia em que somos adultos, e que fantasias e emoções nos deixam em dúvida, em conflito com todas as coisas que, à duras penas, aprendemos, tivemos que aprender. E nos vemos frente à uma escolha... Tentar de novo? Nos abrirmos para todas as mágoas que podem vir e nos deitar de novo ao chão? Entregarmos nosso coração já tão machucado de novo? Mas então vemos um olhar, e vem a vontade louca de acreditar mais uma vez, de tentar... Sabemos que não existe perfeição, que como o primeiro amor, nenhum mais haverá. Mas há de haver o último, aquele que nos será o conforto para o cansaço, o porto seguro para os dias de maré violenta. O nosso jeito de pintar a vida com outras cores, outras formas, nossa tentativa de dar uma chance para aqueles velhos sonhos de criança que nunca morrem de vez em nós. Um amor. Que não seja apenas para recordar, mas que seja para tornar a vida mais leve, a alma menos solitária, para trazer esperança para os dias que virão. Um amor. Para que possa se sentir novamente, para que se possa lembrar que ainda estamos vivos.

6 de jun. de 2010

Sem bobagem

Um dia. Depois outro dia. E mais alguns. E é assim, dias seguidos de dias, quanto menos bobagem, melhor. Não há necessidade de mais. Não quero mais. Não quero nada, só assim, o seguir dos dias, e a minha certeza de que vou fazer o melhor. Sem embrutecer, sem perder a ternura, que eu não esqueça de como sorrir, mesmo que chore. Outro dia há de vir.

4 de jun. de 2010

Almas Inquietas

Eu vi os olhares pelas ruas, vi a inquietação nos gestos. Vi aquele que regressava à casa, para a família, esposa e os filhos e se perguntava se a vida era só aquilo, se questionava como preencher o imenso vazio que cobria seu peito. Eu vi a menina de mãos dadas com o namorado e o seu olhar de cobiça para o rapaz bem apanhado que entrava distraído. Eu vi a velha senhora que folheava um livro qualquer se perder em pensamentos de como era absurdo o comportamento do filho, que só fazia escolhas erradas na vida. Vi os olhos do velho recuarem no passado para relembrar o amor ausente, que ele não soube manter. Eu vi as almas inquietas, insatisfeitas, a procura de consolo em qualquer lugar que não neles mesmos. Eu vi a mulher batalhadora sem perguntas no olhar, apenas indo para mais um dia de trabalho buscar o sustento dos filhos ainda pequenos, ali não havia tempo para pensar, mas haverá. Eu vi as crianças brincando querendo os brinquedos umas das outras. Eu vi o tempo passando. Vi meus pés cheios de bolhas, senti o peso das minhas costas e me dei conta dos meus cabelos brancos. Eu vi uma menina se esconder atrás de grossos óculos e do cabelo despenteado, puxado para a frente do rosto, as roupas largas e sóbrias, o sorriso medroso e as pernas inseguras, esperando pelo milagre ali, sentado ao lado dela sem que ela percebesse. Eu vi o olhar carinhoso do pedinte de esmolas ao olhar para o cão ao seu lado. Eu vi o tempo voar, eu vi minhas escolhas e chances me passarem pelas mãos sem tentar sequer tocá-las. Eu vi a noite cair, o mar se revoltar, ouvi os sons das ondas batendo nas rochas. Eu vi o morto descer em seu caixão para dentro da terra, já não havia inquietação em seu olhar. Vi os amigos irem aos copos e esquecerem-se da vida, por instantes, apenas estando ali, até a hora de cada um seguir seu caminho, todos eles sem vontade de ir. Vi nascer e morrer o amor dos amantes. Vi o tempo passar. Soube da notícia antes de recebê-la, conheci a história sem ver o livro, escolhi não ler. Eu vi os olhares pelas ruas, vi as almas inquietas. Reconhecemo-nos, por instantes, olhamo-nos nos olhos, e seguimos nossos caminhos.

1 de jun. de 2010

Seleção

Seletividade. Não sei se essa palavra existe. Se não, deveria existir. Que a menina que um dia eu fui me perdoe, mas sou seletiva. Prefiro as noites vazias, o som do silêncio a minha volta do que substituir com algo qualquer. Prefiro o escuro, prefiro a solidão do que tentar fechar um buraco que não será tapado. A gente aprende, a gente cresce. A gente não se contenta mais com pouco, com qualquer coisa. Tem que ser aquilo, ou que não seja nada. Nem todas as pessoas são substituíveis, nem tudo se remenda de qualquer jeito. As vezes, deixar o buraco é melhor do que tapá-lo com qualquer areia. Escolho o buraco... que a areia qualquer me desculpe. Não estou disponível, não estou acessível, não estou aberta. Se a vida é dura, que assim seja. Se sonhos não se tornam realidade, que assim seja. Se nem toda luta termina em vitória, só peço sabedoria e humildade para reconhecer a derrota. Sei curvar os joelhos. Se eu não puder bastar para mim mesma, ninguém mais poderá. Peço apenas força para enfrentar os dias, para suportar as noites. Sem muletas, sem dependências. Se ainda balançam minhas pernas, se ainda tropeço e perco o equilíbrio, hei de aprender a andar por mim mesma um dia.