30 de mai. de 2016

37


Andei a ler alguns artigos sobre a minha geração, que oscila entre o desejo pela liberdade e os conceitos mais tradicionais da nossa sociedade. Tambem andei a ler sobre a “virtualidade” do nosso mundo atual, sobre as possíveis consequências nas pessoas, sobre sentimentos de realização pessoal e insatisfação. Andei a ler mesmo muitas coisas nos últimos tempos... e percebi que não li o que eu queria, alguma coisa sobre os 37 anos ou essa fase da vida. Então, seja por não ter procurado no lugar certo ou seja por realmente ter algo realmente diferente a dizer... resolvi escrever.
Não posso falar dos 37 anos dos outros, mas posso falar dos meus. Uma idade em que já tenho alguma coisa para olhar para trás, e com um bocado de saúde e sorte, algumas para olhar para frente. Já passei da idade de sentir uma espécie de necessidade emocional dos outros, a necessidade emocional que tenho é de mim. Saber e perceber exatamente o que sinto e o que eu quero – sim, tenho necessidade disso.
Assim como a de fazer qualquer tipo de atividade por gosto e por prazer, seja profissionalmente, seja ao estar com amigos. “Meios amigos” não interessam, a qualidade da companhia é muito mais importante.
O grau de exigência para as pequenas e grandes coisas cresceu, aprendi a conhecer-me e, portanto, reconhecer o que mereço.
Se for para assistir a um filme, que seja bom. O mesmo para um livro, para um jantar, para uma conversa ou um café. Se for para estar apenas na minha própria companhia, que seja a sentir a brisa no rosto, o sol na pele, preencher-me com o ar a minha volta. As coisas simples tem sabor especial.
Percebi que mais do que qualquer sonho, a capacidade de sonhar é muito mais importante... até porque os sonhos já são mais espaçados, mais raros, e apenas o “próprio sonhar” já é lindo. Um sonhar que não carrega pesos nem dramas, urgências ou desesperos.
Já sei conviver com o que faz falta sem lamentar-me a cada instante por isso ou por aquilo, o dia de amanhã sempre pode trazer algo mais, desde que se continue a caminhar.
A compreensão e o respeito pelas outras pessoas são cada vez maiores, uma vez que os anos nos mostram que cada pessoa tem fragilidades diferentes das nossas e sempre podemos aprender algo novo com qualquer um – ou se não podemos ou não conseguimos, basta seguir adiante sem atritos e sem mágoas.
A família faz falta, uma falta enorme. Mas trazê-la dentro do coração é a melhor forma de estarmos sempre no nosso núcleo, no nosso centro e de nos lembrarmos sempre de quem somos.
A coragem vem mais fácil, a insegurança não conta, o drama não merece nossa atenção. A vida não é perfeita, mas pode ser (e é) exatamente a vida que escolhemos. E se por um lado não temos tudo o que queremos, podemos ser tudo que desejarmos – e isso já é mesmo muito.
A sociedade, os conceitos, os valores e etc. podem não ser do nosso gosto, podem estar um pouco desviados do que consideramos ideal, mas somos plenamente capazes de assumir o nosso papel e fazer a diferença na vida que escolhemos levar e na nossa forma de viver – e se não fizermos isso, a falha não é da sociedade, dos conceitos, dos valores e nem de ninguém, é nossa.

37 anos... gosto disso!