23 de nov. de 2010

# 3

E já não sei se o que dói é por ser noite, por ser dia,
Se é o descanso ou se é a poesia,
A distância ou a melancolia.

18 de nov. de 2010

Pintura

E no quadro uso o amarelo gasto da sede para preencher os contornos das lembranças doces que são as raízes da minha alma, uso o azul do mar da Ponta da Praia para colocar os contornos nas ruas estreitas de Lisboa, uso também cor nenhuma para representar o vento que sopra sempre, e entre os retratos de olhos uso o castanho para pintar o tronco das árvores que ficam às margens do lago cada vez mais profundo.
Faço manchas na tela que representam as mãos envelhecidas dos abraços ternos e quentes, coloco imagens que para ninguém além de mim pode fazer sentido, como as palavras que escrevo que não possuem outra tinta senão a minha própria.
Deixo passar o tempo como que para fazer um efeito de betume por cima, sei e reconheço o que fica para trás e percebo o pouco espaço que fica para novos desenhos, rabisco por cima, reescrevo, re-invento, mudo as cores, mas as antigas permanecem como pano de fundo, a música que não para de tocar, o som constante que não aumenta, que nem mesmo está lá, mas que continua a tocar como que na cabeça da gente...

Vácuo

São cinco da tarde, me parece ser cinco da manhã. Mais que horas trocadas, troquei também os dias, as estações do ano, o pensar, o querer e o sentir.
Se fosse madrugada, era uma madrugada daquelas onde se pensa em mergulhar em silêncio e reflexão, talvez escrever cartas falando de saudades e de solidão. Mas são cinco da tarde, e não é madrugada nem tão pouco dia, é o instante entre uma e outra coisa, onde o relógio se perde e não há definição de tempo ou de espaço.
Um mergulho no abismo do infinito, uma pausa no correr da vida e dos dias, um buraco negro que não pertence a nenhum mês, nenhum ano específico.
Saõ cinco da tarde e podia ser qualquer hora, qualquer dia, qualquer ano e qualquer lugar.
Um espaço à parte. Um mundo à parte.
Não existe nada lá fora que não exista cá dentro.
Um suspiro, um inspirar e um expirar no silêncio e tempo imóveis.
Tudo passa, só não passa o que é, o que sou, que acompanha imutável a mutação em torno de mim.
Tudo e nada numa coisa só, que é em mim.

3 de nov. de 2010

Receita

Está frio, e depois de ir ao supermercado e não saber muito bem o que fazer, tirei do frigorífico raviollis de espinafre com ricota. Resolvi fazer uma receita para aquecer as paredes frias, e com metade de um queijo gorgonzola e um outro chamado "castello Danablu extra creamy", juntei um pouco de alho e nozes picadas, fiz um bechamel à parte para juntar aos queijos e as nozes.
Tudo no forno para gratinar tendo antes acrescentado um pouco de uma redução de balsâmico pra ver no que dá, aproveitando o calor do forno tambem como uma lareira improvisada que aquece a casa inteira.
Com um pouco de música começo a jantar, enquanto penso em almoços cheios de risadas e de pessoas queridas com cachorros pelo meio, no Natal que se aproxima e na família que sinto saudades.
Amo vocês, e não sei se é o amor por vocês ou se foi o forno que acabou por esquentar a casa...
:)