18 de nov. de 2010

Pintura

E no quadro uso o amarelo gasto da sede para preencher os contornos das lembranças doces que são as raízes da minha alma, uso o azul do mar da Ponta da Praia para colocar os contornos nas ruas estreitas de Lisboa, uso também cor nenhuma para representar o vento que sopra sempre, e entre os retratos de olhos uso o castanho para pintar o tronco das árvores que ficam às margens do lago cada vez mais profundo.
Faço manchas na tela que representam as mãos envelhecidas dos abraços ternos e quentes, coloco imagens que para ninguém além de mim pode fazer sentido, como as palavras que escrevo que não possuem outra tinta senão a minha própria.
Deixo passar o tempo como que para fazer um efeito de betume por cima, sei e reconheço o que fica para trás e percebo o pouco espaço que fica para novos desenhos, rabisco por cima, reescrevo, re-invento, mudo as cores, mas as antigas permanecem como pano de fundo, a música que não para de tocar, o som constante que não aumenta, que nem mesmo está lá, mas que continua a tocar como que na cabeça da gente...

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