14 de jul. de 2022

Paciência

Às vezes não sei interpretar tudo o que me cerca, ainda que sinta a constante necessidade da consciência sobre tudo.
E então aparece quem não pede nada, mas que também não fica à espera. Uma espécie de calma com firmeza, de deixar ver mas sem deixar nada solto demais ou ao acaso. É o que vejo, ou sou eu a interpretar aquilo que eu gostaria?
Gosto da calma. Da ausência da necessidade de ser o que for, da falta da expectativa e ao mesmo tempo da presença marcada, definida. Não parece haver dúvida, embora não exista qualquer certeza.
Como uma página em branco.
Um espaço para a criação... com paciência, de forma lenta e calma e tremenda firmeza na escrita.
Tudo em aberto, tudo em branco.
Não sei nada... mas acho que gosto.

2 de jul. de 2022

Naquele instante

Agora a tentar racionalizar eu já nem sei bem se foi apenas sonho
O tempo e todos os sentimentos que me abraçaram aquele dia
Sei apenas que depois acordou me o pesadelo medonho
E tudo que havíamos partilhado e sentido já não mais existia

Mas se fecho os olhos e me permito apenas sentir e lembrar
Nenhuma realidade antes pôde ser mais forte ou mais real
O castigo é ter como companhia apenas o mero recordar
Como se fosse possível beber veneno sem um resultado fatal

E que ingenuidade absurda foi a minha naquele instante...
Esperando conter todos os sentidos do mundo em um segundo
Sem depois sentir o peso e a ausência do ser distante
Esperando um desfecho melhor que me pudesse mudar o mundo

E que ingenuidade absurda foi a minha naquele instante...
A sorrir com o coração, a vibrar com toda a minha alma
Como se o destino não castigasse sempre quem foi amante
Como se pudesse existir dentro do meu peito depois qualquer calma...

E que ingenuidade absurda foi a minha naquele instante...
E que ingenuidade absurda foi a minha naquele instante.



26 de jun. de 2022

Quem dera...

Quem dera eu soubesse como me despir de todas as ideias que nasceram fora de mim, e que não condizem com meu espírito ou com a verdade do meu peito.

Quem dera eu tivesse a fórmula para descartar todos os valores, os conceitos e os ensinamentos que vieram por interesses distintos daqueles que promovem a minha evolução como ser humano e espírito.

Quem dera eu pudesse enxergar tudo o que reage em mim pelo meu ego ou apego, e assim pudesse descartar cada reação que não seja a do meu coração.

Quem dera eu conseguisse... por mim, e por todos os que me fazem tão enormemente desejar ser melhor e conseguir mais...

Quem dera fosse possível que eu fizesse... por nós

16 de jun. de 2022

Infinito

É o mesmo infinito aquele que dói e aquele que preenche. Aquele que faz o sangue congelar dentro das veias e o que ilumina as noites mais escuras.

É o mesmo infinito aquele em que me perco e que me torna às vezes possível encontrar-me.

É o mesmo infinito. Quem muda sou eu. O que muda é a circunstância. Para onde olha o olhar é que muda.

É o mesmo infinito que me faz crer e que me faz desesperar. Infinito... porque o sentir não conhece fim, limite ou espaço. O mesmo amor que voa alto e onipresente é do mesmo tamanho da dor que sufoca e aterra os sonhos e esperanças.

É o mesmo infinito que habita em todos os sentidos assim como são os mesmos sentimentos a vagar pelo infinito.

A questão é vagar...

3 de jun. de 2022

OldTown Tree


Passaram-se anos, mas às vezes é como se tempo nenhum tivesse se passado e estou novamente em pé, a sustentar nas pernas os sonhos e medos muito maiores que eu, escondida atrás da aba do meu chapéu enquanto rezo em pensamento pela proteção invisível da árvore imensa que nunca cheguei a saber a espécie, mas que tanto me sombreava e amparava. Ou então ainda a gastar as solas dos ténis nas ruas calçadas de Lisboa, sem pensar para onde eu ia, ou se eu saberia como voltar, ou quantas ladeiras ia precisar subir depois.

Passaram-se anos.... mas novamente ainda lá estou. A vantagem é que talvez eu já não precise mais literalmente gastar as solas ou me esconder atrás do chapéu, para me sentir com as solas gastas ou escondida. Já aprendi como fazer. E novamente... lá estou eu.

É quando o coração mais aperta, quando não há mais nenhuma estrada e nem caminho, nem certezas e nem sonhos que justamente podemos escolher realmente e percebermos a essência de quem somos. E com alguma sorte, nos reencontramos a nós mesmos.

É por ter o coração assim apertado que mais decidido ainda estarão os meus passos - não é por não saber para onde caminho que preciso oscilar ou fraquejar das pernas, é justamente o oposto. É justamente por não haver estrada e nem caminho, destino ou parada que mais e mais forte tenho que caminhar. E seguir. E é por não existir qualquer certeza que desde que eu siga, tanto faz.

É por não existirem mais os sonhos que posso finalmente só viver.

30 de mai. de 2022

Descalçar



Talvez, e não sei bem ainda, eu precise começar por me descalçar.

Descalçar mas não os sapatos, que estes já não uso. Preciso me descalçar dos passos que pensei dar. Me descalçar da direção dos pés, dos passos e de qualquer movimento - porque não há passos para dar.

Preciso aproveitar e também me despir. Me despir de todos os planos, de todos os sonhos, por mais sutís, enraizados ou escondidos que estejam... preciso buscá-los, cavá-los, encontrá-los à todos e um a um, para depois despí-los. Que não fique nem sequer o lenço ou a luva, nem a echarpe e nem a meia, que não sobrem brincos, laços ou enfeites de cabelo - é preciso encontrar e retirar tudo.

E depois, preciso limpar-me. Limpar-me de todas as esperanças e de todas as vontades, de todos os sonhos e de todos os desejos, para poder enxergar o que sobrará de mim sem eles. Sem os sapatos, sem as roupas, sem os acessórios...

E as esperanças são acessórios. Às vezes até chegam a ser verdadeiros casacos, botas ou armaduras. Como os sonhos... como os sentidos...

Preciso encontrar onde se escondem, para tirar delicadamente mas com firmeza todos e cada um deles. O que sobrar, o que restar, e só o resto que ficar, serei eu.

E talvez assim, se e quando sobrar só a essência e o vazio de mais nada, sem direção e sem vontade, sem sonho e sem expectativa, sem calor e sem frio, sem cor e sem perfume, sem futuro e sem passado, aí talvez conseguirei ser eu e mais nada - e não pensar... e não querer... e não sentir. Ser. Só.

Talvez só perca o por que.

24 de fev. de 2022

My thoughts are with you. 
If you can come, I can search for a place - my number is the same. Messages here I receive on time