11 de jul. de 2010

Quadrados

Somos feios, muito, muito feios. Nossas formas são ponteagudas, afiadas e irregulares. Somos pedras com camadas de ilusões para disfarçar nossa aparência até de nós mesmos. Egoístas e cegos, apalpando e mendigando por quem veja em nós uma beleza que não existe. Somos extremamente iguais, disfarçamos é a nossa superfície.
Amor (paixão) é necessidade. Amor, amor mesmo, é simples, sem nenhum tamanho, sem nada, só é.
E pode não ser nada.
Uma pedra que ama não deixa de ser pedra, reconhece a pedra que é.
E sou pedra.
E quem diz que não é?

7 de jul. de 2010

Historinha

Ninguém vai entender isso, então não se dêem ao trabalho de ler. Escrevo para mim, só para me lembrar disso depois.
Ela era louca.
Acordou numa manhã e foi comprar uma armadura, ela decidiu ir pra guerra. Comprou também uma espada. Brigou com todos para poder ir pra guerra. Aquilo transformou-se num ideal, ela ia e ia vencer todo um exército.
Ia arrancar cabeças e amputar braços e pernas, se veria mergulhada em sangue e conquistaria sozinha a batalha toda. Ninguém poderia detê-la. Pois, não poderiam mesmo, quem detêm um louco???
E ela foi para o campo de batalha, e encontrou cachorros doentes de raiva no caminho, se engalfinhou com eles, desconfio até que pode ter mesmo mordido alguns. Saiu sem um arranhão, até os cães raivosos viam o perigo de enfrentar um louco.
E mantinha a postura de ataque constantemente, pobre de quem se aproximasse! Ela era louca.
Pior ainda. Ela era louca e tinha um objetivo, o que pode ser pior ou mais perigoso que um louco com um propósito? (Saiam da frente se encontrarem alguém assim)
Muita gente bateu palmas a cada corpo que ela deitava ao chão. Era um espetáculo! (Tipo pão e circo ou qualquer coisa assim) Muita gente não conseguia sequer olhar e desviava o rosto. Alguns não sabiam o que pensar.
Mas chegou um dia em que a noite durou tempo demais, e não clareava. E ela, com a armadura cheia de sangue e brandindo a espada na mão, com dores de cansaço e câimbras por todo corpo persistia... Olhava para o céu escuro, estranhava aquilo, mas persistia.
Sem se saber como ou por quê, de repente a noite acabou. Mas não se fez dia. Não era claro nem escuro, não havia Lua ou Sol, não havia nada, nem mesmo o campo de batalha estava mais ali.
Era nada. E era tudo. Era consciência.
Como louca que era, ela viu a existência. Viu o próprio caminho, tanto passado quanto futuro, viu a própria alma e a própria existência. Tomou um susto. Não havia desafio. Não havia guerra. Não havia busca, não havia nada, eram apenas passos, quaisquer passos, em qualquer direção.
Estava tudo certo, estava tudo bem. Não havia luta.
E o objetivo, o propósito, não era sequer um propósito. Era normal também, fazia parte daquela dança enlouquecida, fazia parte como também fazia parte qualquer armadura ou espada que ela decidisse empunhar.
E como louca que era, ela se sentou. E riu. E não era um riso histérico, desesperado. Era cômico! Aquilo era cômico!
Dizem por aí que só os loucos conseguem perceber e se divertir com algo cômico. Pois... ela era louca... e conseguiu.
Também há quem diga que ela nunca foi louca, mas sim que ela conseguia ver o que outros não viam. Nunca fez diferença para ela se ela era louca ou não.
É como quando alguém conta uma história engraçada que só você entende e ri. Faz diferença se alguém mais dá risada? Não... não faz diferença nenhuma, porque você ri. Você percebeu. E o fato de só ter sido você a perceber, torna a história ainda mais cômica. E então você ri ainda com mais vontade.
Ai, ai....
(suspiro)
Rsrsrsrsrs

Pois.

Então sentei. Sem Sol e sem Lua sobre mim ou meus sonhos. Apenas me sentei, e então eu vi. Não foi nenhum relâmpago ou estremecimento de chão, nada demais aconteceu, apenas enxerguei. Sem mistério, sem música de fundo.
Enxerguei e dormi um sono tranqüilo depois de dias de pesadelos. Nenhum furacão, nem redemoinho, nem tempestade. Enxerguei o que esteve na minha frente por tanto tempo e que eu me neguei a ver. Porque não queria ver, porque tinha escolhido pintar as cores por mim mesma ao invés de ver o que estava ali, o que sempre esteve ali.
E assim, percebi que posso tudo o que eu quiser, se eu decidir acreditar no que eu quiser. Mas é muito mais fácil quando não se acredita, exige menos trabalho, menos sacrifício, menos esforço.
Uma longa caminhada, mas agora sentei. Eu poderia exclamar com um ar de decepção “É só isso???”, mas não é nenhuma surpresa... sempre esteve ali, eu que não quis ver.
Não é nada demais, nada de menos. Normal.
Sem fadas e duendes, sem mistérios para serem desvendados.
Pois...
Pois.

1 de jul. de 2010

Freedom

It is very easy to talk about what you want. What we want, what is expected. But there is greater freedom in not wanting. In not wait. In not need. Everybody wants something, wait for something, seek or search for something. When you find in yourself the certainty that things, whether they can be better or not, are fine as they are, you become free. Becomes owner of your own life, and learn how to accept, to simply be.
Everything becomes a gift, or simply a problem that sooner or later will pass. You are not the time you are living. The moment will pass - you don't. You can change, learn, hit, miss.
You can laugh or cry. Another day will come, and will be another day.
More than the situation you live, you're the sum of the choices you make.
If you choose to just be instead of trying to be a necessity, a desire, fear or uncertainty, you're free.
And you became you and not what you live.

É muito fácil falar sobre aquilo que se quer. O que se deseja, o que se espera. Mas a liberdade maior existe no não querer. No não esperar. Em não precisar. Toda gente quer alguma coisa, espera alguma coisa, busca ou procura alguma coisa. Quando você encontra em você mesmo a certeza de que as coisas, independente de poderem ser melhores ou não, estão bem como estão, você torna-se livre. Torna-se dono da própria vida, e aprende a aceitar, a simplesmente ser.
Tudo passa a ser um presente, ou apenas um problema que cedo ou tarde passará. Você não é o momento que vive. O momento passará - você não. Você poderá mudar, aprender, acertar, errar.
Pode rir ou chorar. Outra dia virá, e será outro dia.
Mais do que a situação que você vive, você é a somatória das escolhas que faz.
Se você escolhe apenas ser ao invés de tentar ser uma necessidade, uma vontade, um medo ou uma incerteza, você é livre.
E torna-se você, e não aquilo que vive.