26 de fev. de 2024

мне нужно

Há uma parte de mim, pode se dizer que uma parte importante de mim, precisa disto. Precisa acreditar nisto. 

Acreditar não é o mesmo que tornar real?

Essa parte tão grande de mim... tão bonita em mim... precisa acreditar que nada é por acaso.

Acreditar que estamos cobertos por um maravilhoso véu feito de pura e translúcida seda, véu este bordado ao pormenor, com os mais sofisticados detalhes, com fios de ouro e cravejado pelos mais pequenos brilhantes, feitos dos mais puros diamantes, tão reluzentes e tão delicadamente esculpidos no véu que este, ao dançar com a mais leve das brisas, reflete todos os tons do arco íris ao seu redor, de uma forma ténue, subtil e a espalhar encanto e magia por toda sua volta.

E estamos nós cobertos por este véu, abençoados por ele, embora só agora, depois de tanto tempo, possamos adivinhá-lo. Não podemos, obviamente, vê-lo por tão subtil e ténue que é.

Essa parte minha, que sabe de maneira certa e segura de como o véu serviu como um fio que nos aproximou e colocou juntas as nossas mãos. O tempo que passou, ancorado pelo véu que com o seu esvoaçar leve e determinado nos aproximou de uma forma tão cheia de meandros, teceu curvas e reviravoltas, avanços e dificuldades, que fez nos encontrarmos e bordarmos pouco a pouco, ainda que com uma grande distância entre nós, uma amizade que foi desde o princípio presente e discreta, empática e cúmplice, enquanto vivíamos cada um a sua própria história e própria luta, desafios e descobertas.

Uma parte tão grande de mim precisa e quer tanto acreditar... que o véu trouxe o que desde sempre já existia.

Que me vias antes e lá atrás do jeito como me vês agora, e que soubeste desde sempre quem éramos um para o outro e assim, de uma forma descomunal por tamanha gentileza e cavalheirismo, conseguiste te fazer presente e ao mesmo tempo, esperar com tranquilidade e certeza.

Parte esta minha que sonha agora com os olhos abertos e que procura encontrar nas lembranças de anos atrás olhares e abraços, gestos de apoio e de carinho, atitudes e situações que comprovem o sonho que meus olhos abertos sonham, e encontra tantos! Encontra realmente! E esta parte minha abraça as lembranças, colocando-as ao colo e com o toque mais suave e mais doce de que minhas mãos são capazes, afaga estas memórias como se fossem o mais frágil e mais belo e puro dos recém-nascidos. Foram aqueles gestos assim, tão carregados de amor? Um amor que já sentias desde sempre e guardavas para mim?

E quantas vezes, quando o tempo passou e eu passei a ser apenas eu, senti afinal que talvez... talvez pudesse existir realmente ali alguma coisa, uma intenção, uma vontade! E a dúvida logo se seguia, não havia nada claro, não havia um avanço certeiro, havia doçura. Sempre houve. E amizade. E tantas dúvidas minhas...

Amizade que esteve ali, presente, sempre. E o véu que agora nos enlaça, não havia ainda nos abraçado... havia sido apenas tecido o bordado dedicado a me colocar na vida das pessoas que eram também próximas à você, e fio a fio, dar a força e a coragem para que assim chegasses mais perto de mim.

Esta parte tão grande e tão bonita de mim, que procura resgatar a pessoa que eu fui, quando acreditei que um véu como este poderia existir. Resgatar o sorriso que eu sentia me rasgar o rosto, e o brilho que eu sentia sair dos meus olhos. Resgatar as mãos frias e o estômago dançante, as pernas trêmulas e os pés decididos no caminho e na direção à seguir, tendo o futuro e a felicidade como certos.

Uma parte de mim precisa vestir este véu como quem veste a própria essência.

Mas... há uma parte de mim que não deixa.

A parte que antecipa a ilusão, e que vê uma realidade distinta, sem véu e sem tecidos bordados, sem magia e sem esperança. Porque eu sou feita de várias partes. Não somos todos?

E a parte que não ousa sonhar, que crava os pés no chão com tamanha força e determinação que sente os dedos afundarem na terra, não espera por nada. Aliás, espera. Espera pela desilusão, espera pela mágoa, para depois dizer "afinal eu era a parte que tinha razão".

Uma parte que procura pela falha em cada detalhe, que busca, feito um psicótico errante, desesperadamente por algum ato falho, pela palavra não dita e a toma logo como segredo obscuro, busca sôfrego e sedento pela mentira e enganação, e através da imaginação (tão fértil quanto pode ser a mente insana e alucinada), faz a sabotagem dos próprios anseios e desejos e oprime de forma tão violenta e bruta a vontade própria, que corta na própria carne os sentimentos cultivados até sangrar para o chão todo o afecto e todo o amor que desejava ter guardado.

Ai, essa parte de mim!

Parte venenosa, pontiaguda, fria e desconfiada, que se coloca na defensiva com os pêlos arrepiados e as garras de fora, inclina para baixo o pescoço, eleva os olhos fixos e fumegantes para cima, aguça os ouvidos e tenciona cada músculo e cada nervo do corpo, à espera do tão esperado desfecho, de quando cairão os sonhos por terra e as ilusões decapitadas pelo chão.

Treme de antecipação, ansiedade e gozo. Mas não, não há o que temer. Porque é a antecipação da vitória o que se antecipa, e não nenhum tipo de ataque. A tensão pressionada nas vértebras e nas articulações não pretende avançar, porque não crê sequer que vale a pena! Já não era desde sempre sabido que seria este o desfecho? Já não era então um facto de que os sonhos e esperanças todas terminariam feito cacos de vidros estilhaçados pelo chão? Atacar o quê, se em momento algum esta parte de mim acreditou ou foi enganada sequer?

Não... apenas relaxa-se a tensão, e com um sorriso macabro de miséria e vazio, esta parte de mim afirma-se com razão. "Vês? Eu já sabia. Bem feita. Eu avisei."...

E o que seria mais mordaz e mais fatal do que um ataque assim? Palavras de sabedoria e de certeza que perfuram mais que qualquer golpe, ataque, ferocidade ou mordida. Mata um bocado mais a parte bonita de mim. Mata a esperança e mata o sonho, mata a fé e mata o encanto, mata a força e mata a vida. Deixa no espaço em que havia o véu delicado, mágico e tão bonito, o escuro e uma casa vazia dentro de mim.

Há uma parte de mim, pode se dizer que uma parte importante de mim, precisa disto. Precisa acreditar nisto... 

Acreditar não é o mesmo que tornar real? Qualquer parte de mim?




22 de fev. de 2024

Para o Dani

Fazer 17 não é pouca coisa, ao contrário!
Fazer 17 é muito mais do que fazer 25, do que fazer 30 ou fazer 40.
Fazer 17 é quase mais que qualquer outro número! Aos 17 você tem o mundo inteiro e a sua própria vida inteirinha pela frente, sabendo muito mais e podendo fazer muito mais do que você podia fazer e saber aos 16, aos 15 ou aos 14 - mas ainda sem todas as responsabilidades e consequências que existem quando você faz 18.
Aos 17 todos os seus planos e todos os seus sonhos são possíveis, e não surgiram pedras nem muros altos demais no seu caminho - todas as escaladas e todas as caminhadas são possíveis.
E o que eu desejo para você, é que você tenha mesmo todos os sonhos do mundo, e que conquiste todos eles do jeito que só mesmo aos 17 anos é possível conquistar. Que você viva cada dia com o seu coração cheio de certezas, de confiança e de esperança, de amor e de paixão pela vida. Que você seja muito, muito, muito feliz em todos e em cada um dos dias dos seus 17!
Amo muito você!
Aproveita muito hoje e todos os dias!

21 de fev. de 2024

Verbos (02/06/2010- edit 21/02/24)

Eu amei. E odiei. Perdoei, esqueci. Adormeci, amorteci. E de novo sonhei, quando já não mais acreditava. E amei. E odiei. Perdoei, esqueci, amorteci, adormeci, sonhei, e de novo, acreditei.
E então amei. E esqueci. Perdoei, adormeci, odiei, amorteci, acreditei, sonhei.
E de novo, amorteci. E sonhei. E amei (era sonho?). Odiei. Adormeci. Acreditei... esqueci. Perdoei.
E uma vez mais, odiei. Perdoei, amorteci, esqueci, adormeci. Sonhei, acreditei. Amei... e então eu odiei. E esqueci. Perdoei (me à mim). Amorteci... e então eu sonhei. Acreditei. Amei. Morri.