23 de dez. de 2010

Feliz 2011

Enxergamos aquilo que queremos ver. Deixamo-nos guiar por nossos sonhos e expectativas, ainda que não consigamos percebê-las de todo. Nossas atitudes são fundamentadas em nossas crenças, e, principalmente, naquilo que queremos acreditar como verdade. Acredite que seus projetos são viáveis, e você caminhará para viabilizá-los. Acredite que não são, e você não sairá do lugar. Acredite que as pessoas em seu trabalho não te aceitam, e você se verá atuando para ser aceito independente da realidade ser ou não a que você acredita.
Acredite que há cura, e você caminhará para encontrá-la. O maior universo existente é aquele que criamos para nós mesmos. Acredite que alguem se preocupa com você, e você se verá o tempo inteiro tentando tranquilizar essa pessoa, talvez, até o ponto de perder seu próprio sono.
Acredite que pode, e você poderá até morrer tentando. Acredite que não é possível, e você não conseguirá dar um passo sequer.
Já estive em um tempo onde acreditei que são as nossas atitudes que nos definem como pessoa, porém, hoje sei que o que define nossas atitudes são as nossas crenças, portanto, é no que acreditamos que nos faz ser quem somos. O fantástico é percebermos que temos o poder de escolher no que acreditamos, assim sendo, temos o poder de escolhermos a pessoa que somos e seremos.
Aproxima-se um novo ano, onde muita gente se vê diante de resoluções de ano novo, tudo o que pretendem fazer, mudar e criar no ano que vem. Mas digo, correndo ainda o risco de ser prepotente, que nada mudará, se não mudarem suas crenças. Planos para mudar de emprego, de cidade, de fazer exercícios, de se alimentar melhor, de ser mais aberto, de seja lá o que for, cairão por terra se você não puder acreditar que é capaz ou que existe um sentido em se fazer qualquer uma dessas coisas. O que você acredita ser capaz e o que você acredita ser importante são o que te define como pessoa, são o que define as fronteiras de suas capacidades.
E embora exista um limitação por sermos humanos, simplesmente humanos, a sua definição do que é ser humano pode te levar por fronteiras longínquas e infinitas, ou te fazer paralizar no exato lugar em que você está nesse instante.
Sim, a fé remove montanhas. E pode até movimentar a nós mesmos.
Feliz 2011.

9 de dez. de 2010

Feliz Natal

Mais que um Natal feliz, onde as pessoas que se gostam estejam juntas e compartilhem de doces momentos e refeições, desejo um Natal pra dentro de cada um, onde se reconheçam os valores individuais das coisas realmente importantes, onde renasça a confiança em si mesmo, onde a caridade e boa vontade possam existir sem bloqueios, ressentimentos, tristezas ou culpas.
Que nesse Natal, cada um possa olhar pra si mesma e renascer, renovar a autoconfiança, o amor próprio, reconhecer seus próprios anseios, desejos e expectativas sem medo das coisas que vai ver.
Que as pessoas que decidam estar juntas realmente estejam, não com ilusões e fantasias, mas com o coração e alma presentes. Que a realidade faça parte da festa.
Desejo que as prendas não sejam importantes, a não ser aquelas prendas que a gente mesmo se dá, as chances e oportunidades que damos à nós mesmos e as pessoas que nos são importantes.
Que o Natal sirva como o preparo do terreno para o novo ano, e que este venha de encontro com a verdade de cada um.

4 de dez. de 2010

Consciência

Não sou mais a mesma, e me pergunto quem é.
Acho que mesmo as árvores que permanecem sempre no mesmo lugar acabam por sofrer também suas transformações. É muito mais uma questão do quanto estamos conscientes de todas as mudanças que acontecem conosco. As vezes pode parecer que muita coisa aconteceu mas que estamos parados no mesmo lugar, o que é na verdade só uma impressão. Mesmo quando nada acontece, acontece alguma coisa, ainda que seja só lá dentro da gente. Nossa disponibilidade para estarmos conscientes de tudo isso que é a grande diferença.
Claro que estarmos apenas conscientes não é por si só uma solução ou uma resposta, mas ajuda. Ajuda a gente a se perceber, a sabermos quem somos, aonde estamos e o que queremos, que é o primeiro passo para buscarmos seja lá o que for.
Também acontece muitas vezes da gente pregar peças a nós mesmos, nos acomodando em situações e até imaginarmos que queremos alguma coisa só por não conseguirmos encarar conscientes a verdade de que podemos querer uma outra coisa. Daí a importância de estarmos conscientes.
E é preciso coragem para a consciência e suas conseqüências. É preciso reconhecermos nossa pequenez e grandiosidade, nosso céu e nosso inferno. No meio do caminho, conquistamos um dos bens mais preciosos que pode existir. A verdade.

23 de nov. de 2010

# 3

E já não sei se o que dói é por ser noite, por ser dia,
Se é o descanso ou se é a poesia,
A distância ou a melancolia.

18 de nov. de 2010

Pintura

E no quadro uso o amarelo gasto da sede para preencher os contornos das lembranças doces que são as raízes da minha alma, uso o azul do mar da Ponta da Praia para colocar os contornos nas ruas estreitas de Lisboa, uso também cor nenhuma para representar o vento que sopra sempre, e entre os retratos de olhos uso o castanho para pintar o tronco das árvores que ficam às margens do lago cada vez mais profundo.
Faço manchas na tela que representam as mãos envelhecidas dos abraços ternos e quentes, coloco imagens que para ninguém além de mim pode fazer sentido, como as palavras que escrevo que não possuem outra tinta senão a minha própria.
Deixo passar o tempo como que para fazer um efeito de betume por cima, sei e reconheço o que fica para trás e percebo o pouco espaço que fica para novos desenhos, rabisco por cima, reescrevo, re-invento, mudo as cores, mas as antigas permanecem como pano de fundo, a música que não para de tocar, o som constante que não aumenta, que nem mesmo está lá, mas que continua a tocar como que na cabeça da gente...

Vácuo

São cinco da tarde, me parece ser cinco da manhã. Mais que horas trocadas, troquei também os dias, as estações do ano, o pensar, o querer e o sentir.
Se fosse madrugada, era uma madrugada daquelas onde se pensa em mergulhar em silêncio e reflexão, talvez escrever cartas falando de saudades e de solidão. Mas são cinco da tarde, e não é madrugada nem tão pouco dia, é o instante entre uma e outra coisa, onde o relógio se perde e não há definição de tempo ou de espaço.
Um mergulho no abismo do infinito, uma pausa no correr da vida e dos dias, um buraco negro que não pertence a nenhum mês, nenhum ano específico.
Saõ cinco da tarde e podia ser qualquer hora, qualquer dia, qualquer ano e qualquer lugar.
Um espaço à parte. Um mundo à parte.
Não existe nada lá fora que não exista cá dentro.
Um suspiro, um inspirar e um expirar no silêncio e tempo imóveis.
Tudo passa, só não passa o que é, o que sou, que acompanha imutável a mutação em torno de mim.
Tudo e nada numa coisa só, que é em mim.

3 de nov. de 2010

Receita

Está frio, e depois de ir ao supermercado e não saber muito bem o que fazer, tirei do frigorífico raviollis de espinafre com ricota. Resolvi fazer uma receita para aquecer as paredes frias, e com metade de um queijo gorgonzola e um outro chamado "castello Danablu extra creamy", juntei um pouco de alho e nozes picadas, fiz um bechamel à parte para juntar aos queijos e as nozes.
Tudo no forno para gratinar tendo antes acrescentado um pouco de uma redução de balsâmico pra ver no que dá, aproveitando o calor do forno tambem como uma lareira improvisada que aquece a casa inteira.
Com um pouco de música começo a jantar, enquanto penso em almoços cheios de risadas e de pessoas queridas com cachorros pelo meio, no Natal que se aproxima e na família que sinto saudades.
Amo vocês, e não sei se é o amor por vocês ou se foi o forno que acabou por esquentar a casa...
:)

21 de out. de 2010

# 2

Make mistakes, but make it trying to hit, to be more, be better. Dream, but dream about the prospect of doing, to accomplish. Do not do anything for anybody, do it because you choose to do. There is no merit or achievement if there is no one to share. There is no life if there's no reason, no goal.

19 de out. de 2010

# 1

Vem dos recantos mais escondidos daquilo que em mim habita as certezas que trago em mim, e de nada adianta vir se o véu que crio serve de coberta e abrigo. Enxergar o abismo existente entre o saber e o fazer não transforma o homem que sabe no homem que realiza.

4 de out. de 2010

Ausência

Vou estar sem internet nos próximos dias, o que poderia ser uma "ausência", mas não é. Porque não existe ausência quando o coração está presente. :)

3 de out. de 2010

Saudades!

Essa manhã o dia não nasceu, veio chegando devagar e cinzento, molhando as ruas de Lisboa e fazendo barulho com o vento a ir de encontro com as casas e telhados, procurando saída entre becos e espaços.
Faz frio, mas um frio apenas de aviso, a dizer que isso é só o princípio, só um anúncio para dias ainda mais frios e cinzentos.
Entre blues, cafés e um ou outro cigarro, escuto o vento a dançar, a pregar sua religião do inverno que se aproxima, e desejo ter uma inspiração que simplesmente não vem.
Na cabeça, memórias de filmes e livros, de contos e de sonhos, coisas e imagens demais pra tentar colocar em alguma ordem ou pensamento consciente e organizado.
Uma casa que precisa de alguma arrumação, roupas que precisam secar mas não secam, uma vontade de sabe-se lá de quê. Um silêncio interior que conforta, uma paz interna que aconchega, uma saudade grande de pessoas queridas.
Saudade grande, mas saudade boa. Que trás lembranças doces que são como abraços. Lembranças de risadas, conversas, cafés e almoços. Casamentos, danças e do compartilhar de sofrimentos e tristezas. Sensação boa a de saber presentes ou ausentes, a certeza de estar só e nem por isso sozinha.
Mais que isso, é a sabedoria de cada momento vivido e vivido com verdade, com presença absoluta do corpo, da alma e do coração. A vontade de transmitir essa verdade, a de que a saudade é como a lareira que aquece o inverno que chega.
Talvez eu nunca tenha estado tão longe, e ao mesmo tempo, nunca tenha estado tão perto.
Estou suficientemente perto para inclusive, dar e sentir um abraço, estou dando o abraço, sentindo o abraço mesmo agora. E o que é o amor, senão isso?
(Saudades de vocês!)

2 de out. de 2010

Espelho

E ao olhar no espelho, percebeu que era gente, que era carne, osso, virtudes e defeitos. Percebeu que usava roupas, e vestia-se de atitudes e conceitos.
Percebeu que sendo gente, era também sentimentos e razões. Viu que era tanto grande quanto pequena, e que também possuía casca.
Reconheceu que era quem era, e que ser quem se é não é tarefa fácil, mas possível. Porque não é preciso sorrir sempre, às vezes chorar também é importante. Nem ser forte sempre, porque existe grande força nas fraquezas.
Olhou-se no espelho, e atrás do reflexo visto, viu também inúmeros rostos, rostos que olham por sobre seus ombros na imagem refletida – e que ajudavam a compor a imagem que então via.
Ao olhar os reflexos dos rostos e o de si, sorriu, sorriu com satisfação. Ainda mais que isso, sorriu com gratidão. Era seu reflexo, sua história, e era também as pessoas em seu coração.

30 de set. de 2010

O Por quê deste Blog:

Porque as coisas são como são, e porque a realidade de cada um é aquela que cada um escolhe.

Divagações

Nossa vida pertence apenas a nós mesmos, e a única pessoa que irá um dia responder por ela somos nós. Assim como a vida de uma outra pessoa pertence apenas à ela e não a nós. É fácil sermos o mais “bonitinho”, o mais “certinho”, o mais “normal”. Difícil é assumirmos que nem sempre somos assim, e que as vezes as coisas que queremos é diferente daquilo que teoricamente, deveríamos querer.
Assumir essas diferenças é mais do que nos assumirmos como somos, é pegarmos para nós a responsabilidade de nossas ações, independente do quanto isso possa ser compreendido ou não pelas outras pessoas.
Um erro que muitas vezes a gente comete injustamente, é nos acharmos capazes de formar uma opinião sobre uma atitude de uma pessoa. O que sabemos para formarmos essa opinião? Conhecemos assim tão bem a história da vida dessa pessoa? Conhecemos assim tão bem as fraquezas que essa pessoa tem e as motivações que essa pessoa teve?
Como é fácil formarmos uma opinião e um julgamento! E como somos injustos ao fazermos isso! Não sabemos das dores e alegrias de ninguém, não importa o quão próximos sejamos de alguém. Temos a mania de acharmos que sabemos tudo, que somos capazes de fazer julgamentos imparciais, quando na verdade estamos fazendo juízo de valores, e valores que nunca serão iguais aos nossos.
Não importa o quanto possamos saber da vida ou de nós mesmos, não sabemos nem nunca saberemos tudo a respeito de outra pessoa, e aceitarmos uma pessoa com todas as características (defeitos, virtudes e comportamentos) que aquela pessoa tem é o respeito que todo ser humano merece.
É muito fácil nos sentirmos ofendidos, magoados ou ressentidos com alguém, o difícil é percebermos que a pessoa pode não ter tido nenhuma intenção de nos atingir, pode nem mesmo ter pensado em nós, e ter agido de acordo com ela mesma. Nós tornamos coisas pessoais quando nem sempre as coisas tem relação conosco. Queremos acreditar que somos a causa de comportamentos de outras pessoas, quando na verdade, a maior causa para uma pessoa ter ou não uma atitude é a própria pessoa.

Raízes

Deixa-me perder em meus pensamentos um pouco, e me permitir sonhar quando eu sei que não deveria. Deixa-me tirar meus pés do chão e voar, mesmo quando sei que voltar ao chão me fará quebrar meus ossos, mas meu coração precisa desse vôo, minha alma precisa desse respiro, desse levitar das batidas do meu peito. Não importa o quão cinza seja a realidade quando abro minha janela, nem quantas histórias deixaram de ter o final feliz que eu gostaria, não importa quantas vezes a fé foi abalada ou os contos de fadas ficaram interrompidos com reticências e sem o viveram felizes para sempre. É quando sento e fecho meus olhos que vejo voar minha alma e minhas esperanças, é quando sinto todo o amor pelo mundo inteiro a bater com as batidas do meu coração, é quando a lembrança de olhares doces e sorrisos plenos me invadem, e sou feliz. Se é uma felicidade que jamais alcançarei na realidade dos meus dias não me importa, porque ao me permitir sonhar posso viver tudo aquilo que eu quiser. Não importa o quanto seja difícil, eu enxergo minhas fraquezas e covardias, enxergo meus medos e vejo tudo que tanto me custa. Mas não me custa nada, absolutamente nada sonhar e inventar na minha cabeça as histórias e finais que eu bem entender. Não me importa nada, nada, nada se eu em meu pensamento sou capaz de voar e chegar aonde eu bem entender. Se eu fosse mais racional, eu saberia que não poderia deixar-me levar. Se eu fosse mais racional, perceberia que sem quem olhasse por mim, posso me perder em qualquer esquina ou em qualquer situação, posso acabar sentada em uma calçada qualquer esperando por algum milagre ou por alguma doação, posso acabar de qualquer maneira, porque nunca fui boa em tomar conta de mim mesma, nunca me importei muito com isso, nem sei mais lidar com as coisas que antes eu sabia. Eu já soube ser suficientemente dura e fria, já soube viver entre leões e defender com os dentes meus pedaços de carne, já soube passar por cima de conceitos e lidar com um mundo selvagem, soube o suficiente para saber que não me importo mais. E eu sei que se não houver quem olhe por mim, as coisas podem realmente acabar mal, mas também pode ser que eu encontre alguma forma de equilíbrio em tudo isso. Eu não sei viver sem ouvir meu coração, e essa é a minha verdade. Eu não sei viver sem ouvir cada sussurro e cada batida do meu peito, e minha verdade pura e simples é essa. Foi difícil perceber que eu era alguém para agradar aos outros e não eu mesma, foi difícil reconhecer que é mais fácil ser alguém para ser aceita do que ser quem realmente se é, e não tenho intenção alguma de dar passos para trás tendo chegado aonde eu cheguei. E por melhor que seja qualquer coisa, há a verdade e essa não é negociável. Uma teimosia, uma certeza e uma convicção. Sim, eu reconheço que os dias são mais fáceis aqui. Reconheço que a vida aqui está pronta, e que tudo é muito mais simples, reconheço e também reconheço que não me sinto mais como eu me senti um dia, quando tudo isso já foi parte de mim. Não é mais. Talvez um dia pudesse voltar a ser, mas eu olhei através da fechadura uma outra vida, uma outra possibilidade, e deu vontade de experimentar... uma tolice, talvez, como uma criança que deseja experimentar um pirulito quando tem uma bala na boca... talvez... eu me questionei demais, e me perdi demais em questões que acabaram por me levar a raiz de mim mesma, quando consegui voltar ao que era minha vida, ao que era a essência de mim. E tantos caminhos percorridos por mais tenebrosos, fáceis ou difíceis que tenham sido me fizeram ver e perceber as coisas de uma outra forma. Não sou mais a pessoa que eu era, e de uma certa maneira, sou mais a pessoa que sempre fui. Não é uma ilusão ou um sonho, é uma vontade de simplesmente ser, e ser aqui é difícil, é quase impossível, porque existem paredes a minha volta, existe uma jaula de grades invisíveis. Talvez essa jaula exista só dentro da minha imaginação, mas está ali. E aqui não sou eu, sou uma coisa feita para agradar e não machucar, não ofender, aqui sou uma invenção de mim mesma e não eu. E ao olhar nos olhos das pessoas percebi que as pessoas não sabem mais quem eu sou, e que nem eu sei mais como devo ser. Queria conseguir acreditar que existe uma alternativa intermediária e que assim todos os problemas teriam uma solução, mas aprendi a ver as coisas com as sombras que elas tem, e não dá para achar que tudo é lindo e pleno e que não existem altos e baixos. Existem. E sim, eu sei que fico olhando para os lados pensando aonde posso então fixar meu olhar para encontrar o apoio que eu gostaria, e me encostar aonde pode existir alguma sustentação, mas de repente eu me percebo fazendo isso, tentando fazer isso, e não quero mais, não faço mais, não quero acomodação. Achei que faria, e não faço. Percebo que sou capaz de não fazer. Percebo que as coisas são realmente boas por aqui, e também que não sou eu, estou vazia de mim.

Mundos

Saímos de nossas casas, saímos de nossas mentes para encontrar o mundo. Mas não conseguimos sair de nós mesmos, não conseguimos nos ver da forma com que as outras pessoas nos vêem nem tão pouco nos vermos em toda a nossa complexidade. Nos habituamos em nossa zona de conforto e aceitamos as peças e armadilhas que nosso próprio cérebro nos impõe para não percebermos o quanto apesar de nos afastarmos de nossa zona de conforto nos mantemos presos a ela. Damos voltas e mais voltas na expectativa e na esperança de nos tornamos serem maiores, mais evoluídos e mais sábios quando somos vítimas de nossas próprias piadas. Saímos de uma ilusão para mergulharmos em outra, e são camadas dentro de camadas de novas expectativas e de novas ilusões. Grandes fragilidades e medos, necessidades que não queremos reconhecer em nós mesmos. E em nossas mentes mergulhamos e nos afundamos cada vez mais e mais.
Abandono facilidades para sair a procura de novas facilidades, regadas com a ilusão de serem mais difíceis ou mais complicadas. Enxergamos apenas aquilo que queremos enxergar, não estamos preparados para enxergar tudo sobre coisa alguma, muito menos quando se trata de nós mesmos.
Não somos o centro do universo, quando muito, permitimo-nos ser o centro de nós mesmos. E não há qualquer conforto, qualquer descanso, qualquer refúgio para que nos salvemos do universo infinito que existe dentro de nós. Alguns lutam porque se querem conhecer, se querem descobrir e esperam por uma transformação e um desabrochar. E como precisamos acreditar numa transformação! E como precisamos acreditar num desabrochar! Porque é difícil encararmos as realidades da vida, é difícil enxergarmos a nossa própria pequenez e inutilidade. Seja através da arte, da música ou da dança, seja através do amor, da busca pelo sucesso ou de qualquer outra procura, arrumamos desculpas para nós mesmos, arrumamos saídas falsas e ilusões para percebermos aquilo que queremos perceber.
O amor, seja na forma mais plena, absoluta, incondicional de amor, nos possibilita vermos mais do que poderíamos ver sem que ele existisse, mas não nos permite ver além dele próprio, e podemos nos tornar a mais pura e plena expressão de amor, o que não significa que nos tornamos conhecedores dele ou sábios de qualquer maneira.
E vejo-me crescer para ver-me tornar pequena. E vejo-me liberta para tornar-me dependente, vejo-me transformar para retornar ao ponto de partida, e fecho-me num eterno círculo sem volta e sem saída, num eterno buscar onde se desenha meu caminho e onde não há escapatória ou destino final, é ir, e ir, e ir, e ir até que não haja mais vida para possibilitar qualquer caminhada. E no caminhar cada ser humano é capaz de ter as mais nobres ou parvas atitudes, ser o mais egoísta ou altruísta, ser o mais capaz ou o maior dos infelizes, fazemos nossas escolhas que vão definir a pessoa que somos mas não altera o nosso ponto de chegada ou de partida.
Não faz diferença pelas estradas que caminhemos ou pelos sonhos que deixemos pelo caminho, sempre vamos da forma que achamos melhor, da forma que desejamos ir, independente se usamos as armadilhas e artimanhas de nosso cérebro para justificar nossos atos e escolhas como certas ou erradas.
E assim, numa consciência entorpecida e desacordada, vagueamos feito zumbis de nós mesmos, preenchendo-nos de ilusões e desejos, de sentimentos e crenças.
Lembro-me da criança que eu fui, de mim adolescente, depois adulta. Sou outra pessoa e sou ainda e serei sempre o reflexo daquilo que foram meus pais, meus amigos, minha história. Posso virar a mesa, posso mudar a história, e fazer curvas em sentido contrário ou de noventa graus, continuarei a ser eu mesma, continuarei a buscar as mesmas coisas, a cometer as atitudes que me parecerem mais acertadas, a agir em nome de meus conceitos e de meus valores, e não importa que mudem as personagens ao meu redor, não importa que mude meu dia a dia ou minha rotina, não importa que meus olhos estejam abertos ou fechados nem importa a consciência ou falta dela que eu tenha na vida, ainda permanecerei vendo apenas aquilo que eu quiser, ainda permanecerei sendo aquilo que eu quiser, sofrendo das mesmas angústias, dos mesmos sonhos e caprichos, das mesmas necessidades e ambições. Pois sou eu, humana e fraca, e tomada pelos instintos mais básicos e primitivos daquilo que considero como eu mesma, mesmo que eu não saiba ou reconheça quem sou eu.

...

And then, I ask myself “Can I do it?” and I get the answer “Yes, will be hard, I know… but I want to do it?” and I get the answer “No, I don’t want to do it”… I ask me again “Do I have to do it?” And I know “Yes, I have to. I have to …”

Almas Inquietas

Eu vi os olhares pelas ruas, vi a inquietação nos gestos. Vi aquele que regressava à casa, para a família, esposa e os filhos e se perguntava se a vida era só aquilo, se questionava como preencher o imenso vazio que cobria seu peito. Eu vi a menina de mãos dadas com o namorado e o seu olhar de cobiça para o rapaz bem apanhado que entrava distraído. Eu vi a velha senhora que folheava um livro qualquer se perder em pensamentos de como era absurdo o comportamento do filho, que só fazia escolhas erradas na vida. Vi os olhos do velho recuarem no passado para relembrar o amor ausente, que ele não soube manter. Eu vi as almas inquietas, insatisfeitas, a procura de consolo em qualquer lugar que não neles mesmos. Eu vi a mulher batalhadora sem perguntas no olhar, apenas indo para mais um dia de trabalho buscar o sustento dos filhos ainda pequenos, ali não havia tempo para pensar, mas haverá. Eu vi as crianças brincando querendo os brinquedos umas das outras. Eu vi o tempo passando. Vi meus pés cheios de bolhas, senti o peso das minhas costas e me dei conta dos meus cabelos brancos. Eu vi uma menina se esconder atrás de grossos óculos e do cabelo despenteado, puxado para a frente do rosto, as roupas largas e sóbrias, o sorriso medroso e as pernas inseguras, esperando pelo milagre ali, sentado ao lado dela sem que ela percebesse. Eu vi o olhar carinhoso do pedinte de esmolas ao olhar para o cão ao seu lado. Eu vi o tempo voar, eu vi minhas escolhas e chances me passarem pelas mãos sem tentar sequer tocá-las. Eu vi a noite cair, o mar se revoltar, ouvi os sons das ondas batendo nas rochas. Eu vi o morto descer em seu caixão para dentro da terra, já não havia inquietação em seu olhar. Vi os amigos irem aos copos e esquecerem-se da vida, por instantes, apenas estando ali, até a hora de cada um seguir seu caminho, todos eles sem vontade de ir. Vi nascer e morrer o amor dos amantes. Vi o tempo passar. Soube da notícia antes de recebê-la, conheci a história sem ver o livro, escolhi não ler. Eu vi os olhares pelas ruas, vi as almas inquietas. Reconhecemo-nos, por instantes, olhamo-nos nos olhos, e seguimos cada um seu próprio caminho.

Pois é.

Primeiro, falemos sobre os nossos desejos, vontades. Que nada são além de ilusões, na maioria das vezes. Realmente, são. Porque somos pessoas em constante movimento interior, quer aceitemos ou não. E o nosso desejo de hoje pode não ser o nosso desejo de amanhã, e jamais teremos controle algum sobre isso, esse controle é também uma forma de ilusão. Não somos “donos” do nosso futuro, por uma razão muito simples. No futuro, já não seremos nós, seremos um outro “nós”, mais envelhecido, amadurecido, modificado. Isso faz com que o único e real poder que tenhamos seja apenas sobre o momento presente. Nosso querer de agora, nosso evoluir nesse instante. Justamente por essa razão, longos planejamentos podem ser extremamente benéficos, porém podem acarretar em desilusões grandiosas. É por isso que tantas vezes acontece de desejarmos alguma coisa e quando depois de algum tempo, a conquistamos, é como se aquilo perdesse o valor que antes atribuíamos aquela conquista. Não é que tenha perdido qualquer valor ou significado, fomos nós que ultrapassamos o momento onde aquilo teve a importância que teve. Então não devemos querer nem lutar por mais nada, vocês podem perguntar. Não, não se trata disso. Antes é reconhecermos em nós que nossos sonhos são temporais, nossas vontades são passageiras, que estamos em constante mudança e não há mal nisso. Mas percebermos essa temporalidade, essa alteração constante que acontece dentro de nós mesmos pode ser um problema, sim. Porque conceitos cairão por terra por essa percepção. Muitos deles. E se seguirá a isso uma transformação de nosso ser. Um amadurecimento de nossa consciência, uma outra visão do mundo. Podemos resumir tudo isso de uma outra maneira, talvez mais simples. Imaginem que hoje percebemos as coisas de determinada maneira. Se estamos tristes ou desesperançados, é porque a nossa percepção da vida que estamos vivendo enxerga as dificuldades, obstáculos, problemas ou simplesmente vê que as coisas permanecem sempre as mesmas, que não há nada a que se buscar. Mas, se no dia seguinte, a nossa percepção da vida estiver vendo a beleza das coisas, as possibilidades de que tudo pode acontecer e que somos capazes de obter as maiores conquistas que possamos desejar, nos sentiremos felizes e quase como donos do mundo. Ambas as sensações e percepções são apenas ilusões. São instantes temporais que estaremos vivenciando. Não há firmeza nem certeza de que amanhã estaremos nos sentindo da mesma maneira. Porque não estaremos baseando nossas percepções em nós, mas naquilo que estamos enxergando do mundo naquele momento. E isso muda com uma freqüência assustadora. Um exemplo mais simples... Imagine que você está num dia “cinzento”, se sentindo solitário e não está vendo nenhuma perspectiva de melhora nesse estado. Então alguém que te seja muito querido liga, manda uma mensagem ou aparece simplesmente para pegar em sua mão e irem passear. Imagine como o dia então se transforma, e como você se percebe de uma hora para outra, sorrindo e feliz. Ilusões. Não foi a vida que mudou, foi apenas a perspectiva que você estava tendo que foi alterada. Nenhuma magia, nenhum milagre, nada disso. Apenas sua forma de perceber as coisas. Você continua solitário, continua exatamente como estava, porque essa pessoa estará ali apenas por alguns momentos, cedo ou tarde você vai ter novamente a mesma perspectiva que estava tendo antes, porque ela está em você. E por inúmeras vezes nos percebemos nesse vai e vem de emoções, hora felizes, hora desesperados. Como fugir disso?
É muito menos complicado do que parece, não que seja fácil, convenhamos. Mas se você estiver disposto a enxergar como se “estivesse de fora” esse vai e vem emocional, como apenas as perspectivas que são, você já deu o primeiro passo para expandir sua consciência e libertar-se desse ciclo vicioso. Quando você estiver sozinho novamente e essa pessoa especial aparecer, você saberá que serão momentos felizes, que você irá estar feliz e tudo o mais, mas que serão instantes e que você não pode depender desses instantes para ser feliz eternamente. Aceitar que teremos a sensações que quisermos ter, se aprendermos a dominar a forma com que enxergamos a vida. Nada complicado, nada “de outro mundo”, tudo muito simples e não por isso ruim.
Muitas pessoas conseguem viver a vida inteira sem se darem conta disso, conseguem colocar sem sequer terem consciência, as suas alegrias e tristezas nas mãos daqueles que estão a sua volta, e conscientes ou não, essas pessoas tem o direito de fazerem isso. Nós é que não temos o direito de querer impor aos outros as nossas formas de viver. É preciso que haja espaço e liberdade para que as pessoas se tornem aquilo que elas quiserem se tornar.
Muitos já disserem que o grande problema da humanidade são os conceitos de nossa sociedade que estão enraizados dentro de cada um de nós. E livrar-nos dessas raízes não é nada simples, nem fácil. São conceitos, comportamentos, crenças e padrões enterrados fundo demais dentro da gente. Mas é possível sim quebrar esses padrões e assumirmos uma nova perspectiva da vida e do mundo. Porém é necessária coragem. Talvez, e cadê vez mais, com mais e mais pessoas se abrindo para um novo comportamento e visão das coisas, seja necessário se ter menos coragem, pois já terão nos aberto o caminho. Outra coisa que nos habituamos a fazer... a seguir outros. Pois é difícil abrir um novo caminho quando nos ensinaram a ser seguidores.
E se você optar por começar a refletir sobre essas coisas, se você verdadeiramente optar por expandir sua consciência, acontecerá de muitas vezes você sentir medo. Temer se perder pelo caminho que é desconhecido, pelo caminho que nem sequer existe, caminho que você estará abrindo conforme anda por ele. E não faz mal sentir medo, desde que o medo não paralise seus movimentos. Não há problema algum em sentir-se perdido, inseguro. Desde que esses sentimentos não impeçam sua jornada. Sim, existe um mundo para ser descoberto, existe uma expansão infinita de nossas consciências para ser atingida, mas vai um alerta... Essa escolha, esse caminho não é para todos. E mesmo se for, há que se respeitar o instante de cada um.

Bom Dia

Queria dizer a vocês bom dia, porque acordei agora. E ao abrir meus olhos, me surpreendi ao ver quantas pessoas dormiam ainda.
Mas mesmo assim, eu queria desejar a todos um bom dia. Porque acordei já tarde, não importa quantos de vocês ainda dormem.
Pode ser que em seu sono, os sonhos que sonham possam ser mais interessantes e doces que a realidade que vêem aqui fora, então sonhem se for assim.
Talvez também fosse mais fácil se eu pudesse novamente fechar meus olhos e dormir novamente, só que a claridade do dia já não mais me permite.
Entendo como pode ser mais tranqüila uma noite de sonhos do que acordar para enfrentar o frio ou o calor que pode fazer aqui fora.
Entendo como pode ser mais confortável contar com a proteção de Deuses e de Anjos a velar por vosso sono, já onde estou não há quem olhe por mim.
E essa é a grande beleza de se estar acordado, pois quem pode olhar por mim sou apenas eu.
E tenho cá comigo alguns sons que trazem um conforto que em vosso sono jamais terão
Que é o canto dos pássaros a saudar o dia, as águas dos rios e mares que em fúria saúdam a vida
E na correnteza nos convidam a todos à molhar os pés

Magia

A magia não é aquilo que gostaríamos que fosse. A magia não consiste em poções mágicas elaboradas por um mago misterioso e de barbas brancas que ao tomar te fará ser qualquer pessoa, animal ou coisa que você deseje. A magia existe, e por vezes nos atinge quando menos atentos à ela estamos. A magia ocorre quando nos conectamos apenas num instante, e não existe qualquer lembrança passada, qualquer plano ou expectativa para o futuro, ao mesmo tempo em que se funde em nós todo o passado e história, todo o futuro e escolhas. A magia ocorre quando nos inteiramos absolutamente de quem somos, aonde estamos, o que sentimos. Tudo naquele exato instante. E naquele instante mágico, tudo sabemos, conhecemos, podemos, porque somos senhores absolutos de nós mesmos. Se tomamos consciência desse momento quando ele nos chega, podemos perceber que as formas a nossa volta ganham maior nitidez, que ouvimos melhor, vemos melhor, cheiramos melhor. Nossos sentidos ficam despertos, alertas, e são comandados por nós. Expandimos numa velocidade incalculável nossa consciência e sentidos. Tornamo-nos senhores absolutos de toda a verdade que em nós habita. Há aqueles que recorrem a rituais para isso, há aqueles que fazem uso da meditação, de yoga, de orações ou até de drogas. Mas a magia vem de dentro. Não está no mundo externo, não está nas palavras ou nos olhos de quem quer que seja. A magia está em nós. E não está em nosso passado ou em nosso futuro. Não adianta olhar “lá fora” para encontrá-la. Ao contrário. Há que se olhar para dentro. E apenas esse olhar para dentro, já é o início de toda a mágica.

Amor e Necessidade

Existe uma grande diferença entre amar e precisar de alguém.
Quando se precisa de alguém, isso não é amor por uma pessoa - é amor por nós mesmos, é quando queremos satisfazer necessidades nossas, é nosso egoísmo falando por nós.
Já quando se ama, é outra coisa. Uma coisa muito diferente. Não existe amor sem liberdade, não existe amor verdadeiro em que a felicidade do outro não seja a prioridade. Isso sim é amor.
É querer ver o outro ser feliz, seja da forma que for, seja como tiver que ser, perto ou longe, sendo recíproco o sentimento ou não. É doar-se, é estar disponível, é ser aquilo que o outro precisar, sem posse, sem dor, sem medo.
Para amar assim, é preciso crescer. É preciso não ter medo, é preciso não esperar nada em troca, é preciso não precisar.
É querer estar com a pessoa e aceitar quando não é isso que a pessoa quer, e sem nenhuma dor, sem nenhum ressentimento, mas com um desejo imenso de que exista abundância e felicidade para seu amor, mesmo em caminhos separados e individuais.
É querer ver o outro sorrir, mesmo que você não esteja lá para ver esse sorriso. É querer a vida leve, plena, absoluta e do jeito que a pessoa escolher viver, amor é respeito.
É colocar-se como uma presença amiga, reconfortante, aconchegante, para quando e como o outro quiser. E amor assim é raro, mas existe.
Amor assim é liberdade, e essa liberdade só existe num amor sincero.
Amor sincero só existe quando existe também amizade.
Para isso, a gente aprende que é muito mais do que as nossas carências e necessidades, que somos muito mais que nossas angústias, dúvidas, medos e carências.
Amor não se pede. Não se obriga. Não se impõe. Amor não se negocia. Amor se sente... ou não.

08/10

Quando foi que parou de chover?
Quando foi que o sol apareceu?
Quando foi que as coisas tornaram-se tão leves, tão doces?
... E a pobre menina não viu. Não percebeu o dia lindo que fazia lá fora, não percebeu o cantar dos passarinhos em sua janela ao amanhecer. Porque a menina havia acostumado-se com aquele mundo, com a situação, fosse boa ou má, havia aprendido que devia conformar-se e aprender a aceitar fracassos.
Quando foi que tantas flores nasceram no jardim a perfumar todo o ar a volta?
Pobre menininha, que tanto demorou a ver.
Sorte e feliz menininha, que pelo menos, ainda que tarde, começou a enxergar.
E agora, manhã após manhã, abre a janela para abraçar o mundo com um sorriso, porque o mundo tornou-se leve, sem peso nenhum.

Freedom

It is very easy to talk about what you want. What we want, what is expected. But there is greater freedom in not wanting. In not wait. In not need. Everybody wants something, wait for something, seek or search for something. When you find in yourself the certainty that things, whether they can be better or not, are fine as they are, you become free. Becomes owner of your own life, and learn how to accept, to simply be.
Everything becomes a gift, or simply a problem that sooner or later will pass. You are not the time you are living. The moment will pass - you don't. You can change, learn, hit, miss.
You can laugh or cry. Another day will come, and will be another day.
More than the situation you live, you're the sum of the choices you make.
If you choose to just be instead of trying to be a necessity, a desire, fear or uncertainty, you're free.
And you became you, and not what you live.

We can't have everything

I admire people who can have an ordinary life, surrounded by rules and good behavior. I admire people who do not bring unrest in his soul. I admire those who do not challenge, does not transpose their limits and not try to be more than they are. Maybe life is not try to be more or better than we are, maybe life is accepting of our limitations and be lots more humble. We cannot have all. We are not infallible, invincible. I admire those who simply accept this. I admire those who recognize their weaknesses and accept them without being compelled to overcome them. I admire people. All of them. In his acceptance and concerns in their defeats and defections. I wanted to be like them. Did not want to feel the need to overcome obstacles and be more than I am. I admire people who find peace in the routine, people who don't need to create challenges.
But I don’t believe this is for everyone. Some people, like me, feel the need to be more, better, are bound to certain behaviors and attitudes that are not always understandable. It is easier to accept the rules established. Accept what is done than to create their own rules, establish its own principles. There is a cost, a price to be paid for it, I don’t realize the full benefit yet. But principles are principles, not choices. They are what they are, and we recognize our own principles is only one path to follow. So I close my eyes, breathe deep, I try to fill me with courage and confidence in myself and in my ability, and give a step forward. What comes next, we'll see.

Calar

Vai, entre rostos e entre palavras não ditas e desassossegos procurar pela passividade. Passividade que não há, pois não há nenhuma no seu coração que se aflige, que busca, que não encontra e que não sabe o que procura. Vai, entre sorrisos e prantos, preencher seus dias, sua vida. Na caixinha de memórias dentro da mente, peças soltas, perdidas, esquecidas. Momentos que não voltam, a procura por uma calma que não vem. E como poderia? Não há calma na busca, para isso deve-se parar de buscar. Mas a busca é em si um vício, uma adrenalina que não passa. Pude ver o futuro em um relance, pude enxergar as pessoas daqui a 10, 20 anos. E foi uma visão tão triste... Uma procura que não tem paz, um círculo que não se rompe, o cão que corre atrás da própria cauda sem se dar conta que ela lhe pertence. Pode ser que as coisas mudem, mas o mais provável é que não. E assim são as coisas, assim é a vida. Um capítulo que precisa ser encerrado, para que se possa novamente começar a viver. As coisas deixam de ter porquê, deixam de valer a pena. Alfinetes enfiados fundo demais, sangue já seco. É preciso água para limpar, é preciso ar para se respirar. Nem tudo o que se procura se encontra, nem tudo o que se quer se alcança, nem tudo tem lógica ou sentido. É apenas uma vida, a escolha vai de cada um pelo que buscar. Em meu mundo, já não tenho mais pelo que procurar. Vi os resultados, conheço os esforços, e tristemente, reconheço que pode simplesmente, não valer a pena. Enganei-me. Do alto da minha vontade de tudo saber, enganei-me. Quando acreditamos poder demais, sermos fortes demais, o tombo é sempre maior. Joelhos ralados, feridas abertas, é tempo de cicatrizar, de calar, de não correr atrás de galinhas, de deixar a vida acontecer. Em meu mundo, meu pequeno universo particular, me contenho, paro, olho, escuto. Sim, é tempo de calar, é tempo de deixar a vida ser o que tiver que ser. E como sempre, ou como nunca, mais uma vez ainda é possível dizer... tudo bem.

Teatro

Uma mistura de pato e o sabor doce e amargo do experimentar. Cansada de Nietzsche, Blake e Tolstoi. Livros demais, filosofias e reflexões demais. A vontade de andar de pés descalços e dançar na chuva, o grito que ficou preso na garganta, as coisas não ditas... Ah, as coisas não ditas...
A raiva contida, as expressões jogadas para dentro sem a emissão de um som, a inconformidade. A esperança num olhar de compreensão de uma mãe ausente (foi sonho? foi pesadelo? ou apenas o filme que vi na TV?). O desinteresse fingido de um pai (foi sonho? foi pesadelo? ou apenas o filme que vi na TV?), e a loucura que bate na porta. Um meio irmão que se afoga, a briga e a discórdia enquanto no alto a alma passeia alheia. Uma mistura de vinho caro e fumaça na boca, as cenas de um teatro fantasma repleto de subjetividade e terror.
Nietzsche nos ouvidos em conversas imaginárias com Shakespeare. Beethoven ou Bach ao fundo?
Filosofias demais, curvas e mais curvas no teatro dos moribundos. Zumbis perdidos que deixam de procurar por cérebros para apreender corações. A vontade de gritar os desaforos guardados, a mão sempre contida e aquele olhar de mãe que poderia dizer qualquer coisa, por que afinal a mensagem seria para mim, se nem a mãe era minha?
O gosto de pato, o cacau ainda quente na boca e os olhos perdidos que já não vêem nenhuma direção.
Não me venham com conversas moles e de falsa intelectualidade, de frases decoradas e textos repetidos. Falta de originalidade, de libertação.
Influências de toda gente em toda gente, falta autenticidade. Uma montoeira de carências e frustrações, os passos nas ruas e a solidão dos olhares. Não haverá um olhar como aquele, jamais haverá tanta solidão num brilho de olhar como aquele.
A escuridão absoluta e o profundo de uma alma que não se deixa conhecer, carregada demais de coisas que não são autênticas ou próprias, o cansaço em se buscar. As palavras não ditas, o confronto... confronto de monstros e titãs, de deuses e demônios, não sobrará sequer pedra no chão.
Eu queria me fazer ouvir, eu queria não calar. Calo, calo, silencio e deixo a hora passar.
As perguntas que ficarão sem respostas, quebram-se as correntes, soltam-se as amarras... que diferença e que sentido tem em se libertar um escravo que conhece apenas a escravidão?

Funeral

Ela abriu os olhos e viu que ventava lá fora, que o som que ouvia eram as janelas de madeira a bater e que o tempo lá fora já era outro, havia mudado enquanto ela dormia. E ela não teve vontade para levantar.
Em algum lugar, ela sabia, alguém se recolhia em dor, alguém ria, alguém chorava. Alguém tentava acreditar, alguém se iludia, alguém sonhava, alguém desistia. E ela não teve vontade de levantar.
O que ela era, sua história, seu sangue e sua vida batiam à porta, mas ela não queria mais se levantar.

Não era bom, não era ruim, não era dúvida ou certeza, simplesmente não era nada. Não havia saudade, vontade, não havia tempo, razão ou pesar. Ela já havia rido, chorado, já havia desistido e lutado. Já havia tentado. Não era tristeza, isso ela conhecia. Não era felicidade, isso já não existia. Ela só não queria mais se levantar.

Houveram dias bons, dias ruins. Houve vida e houve morte. Azar e sorte. O que ela procurava, sabia que não ia encontrar. Ela viveu. Como pôde e como quis, como soube e como conseguiu. As janelas de madeira batiam, ventava lá fora. E ela não se levantou.

Passaram-se horas, quase um dia inteiro, e então a porta se abriu num rompante. As janelas já não batiam, não havia vento algum. O ar estava parado, o silêncio alucinante. Naquele quarto já não mais batia coração algum.

E seguiu-se a agitação, a dúvida e o não saber como agir. Telefonemas, sussurros, o que fazer? Um cadáver no chão, uma vida que se viu esvair. Mas quem podia o último suspiro deter?

Aqui e mais além um lamento, uma indagação. Mas sobre sentimento, apenas ilusão.
Ela de cima a tudo assistia, e em desespero perguntava: “Ninguém se lembra do que eu dizia?”. Ela antes já sabia, e de seu jeito propagava “antes a verdade que uma vida vazia”.

Sua vontade era a de sacudir seus corpos ainda vivos porem inertes, de gritar e chamar-lhes a atenção. “O que ainda esperam com seus tolos flertes, com uma vida de ilusão?” “Não há amor que dure pela eternidade, não existe nem mesmo eterno sofrer, nem tão pouco a sonhada felicidade, existe apenas aquilo que se escolher”. “Acordem, suas tolas crianças perdidas, ninguém aqui neste enterro chora por mim. Suas almas estão de vocês escondidas, não se reconhecem a si mesmos e pensam conhecer o que é fim”. “Há época para sonhar, mas a vida é para crescer. Existe a hora de despertar, de lutar para vencer”.

Naquele enterro sem defunto, quem falava era silêncio e solidão. Cada qual sem ter assunto, só em si mesmo centrado e sem qualquer compreensão.

De nada valeu aquela vida ou morte, como ela assim pretendia. Cada qual só enxerga a própria sorte, ninguém percebeu o que de fato ali perdia.

“Vim para ser uma inspiração”, ela falava. Mas cada qual com sua solidão, não escutava. Seguiram-se os dias e os anos passaram, as almas permaneceram vazias, as pessoas se acomodaram.

E assim entre caminhantes e caminhos, entre anjos e demônios de astral, haviam amantes e carinhos que se perdiam e encontravam como numa eterna espiral.

O papel que ela havia deixado, jamais foi lido ou encontrado. Onde estava escrita sua alma e sua esperança, com um vento ainda voa e em silêncio de papel, dança.

22 de abril

Um ano. E sem preparo, sem aviso, uma existência inteira dentro desse tempo. Uma pessoa no início, uma outra no fim. E depois de tanto, depois de tudo, torna-se difícil acreditar que pode haver mais. As coisas se acalmam, esfriam, encaixam e a realidade é vista sem a névoa que antes a envolvia. Havia incerteza na névoa, havia mistério, havia fascínio, expectativa e curiosidade. Surgiu a claridade, o vento varreu qualquer escuridão e a visão tornou-se nítida. A sensação é de clareza, limpeza, verdade. Mas podendo enxergar a paisagem toda, torna-se difícil acreditar que algo não está sendo visto, não se vê mistério, não existe dúvida nem o oculto. Tudo límpido. Como então, simplesmente, acreditar? Preto e branco. Falta-me cor.
(Lisboa, 22 de abril de 2010. - O que significava para a pessoa de antes escrever essa simples data? O que significaria a um ano atrás? Seis meses atrás? Dois? O que significa hoje? Antes, não havia. Tornou-se depois sonho, depois impossibilidade, depois, verdade. E mais? Há mais?)

Transitório

Nada é imutável, a nossa percepção das coisas por si só não é constante. Desgarrar-se de amarras existentes é assustador e ao mesmo tempo libertador. Reconhecer nossas carências e dependências afetivas é dolorido e também um passo para um caminho independente e incerto, onde você passa a ser o centro de seu próprio universo e adquire a habilidade de enxergar os outros de forma mais imparcial e completa. Consegue inclusive aplicar essa habilidade sobre você mesmo, percebendo e reconhecendo anseios existentes por caprichos seja do ego seja de orgulho ou vaidade. É no entanto assustador, pois perde-se de forma inerente o interesse por coisas que digam respeito aos mesmos (ego e vaidade). Passa a ser um objetivo primordial a realização de sua própria capacidade, intelecto e consciência em detrimento de todo o resto. Torna-se existente uma barreira intransponível entre seus interesses e os interesses alheios, e mesmo seus desejos sucumbem à força de sua busca por auto-realização interior. Você deixa de fazer parte do mundo externo para habitar em sua própria consciência, e ao mesmo tempo em que tal comportamento exerce algum medo e fascínio sobre as demais pessoas, exerce uma falta de interesse e paciência de sua parte para com os outros. É como passar a viver do outro lado de um portal, onde a interação entre você e o restante passa a ser extremamente limitada. E embora princípios e valores seus passem a ser mais autênticos e independentes de conceitos alheios, pode ser que aos olhos de outros você torne-se uma pessoa fria e ausente. As coisas assumem novos lugares, as prioridades alteram-se dramaticamente, porem a vida adquire um sabor diferente, como um caminho a ser trilhado, percorrido, conhecido e percebido, e não apenas sentido ou percorrido de forma aleatória e desprovida de razão. A vida, os relacionamentos e interações entre as pessoas não precisam ser difíceis, nem fáceis. Não há necessidade de complicar ou simplificar as coisas, basta percebê-las como de fato são, e com esse cenário em mente, agir de acordo com seu próprio estado de ser.

Hipóteses

Existem coisas que simplesmente não foram feitas para serem ditas. Não que sejam mentiras ou omissões, simplesmente coisas que não se dizem, não se contam. Algumas delas teriam talvez (e provavelmente) o poder de acelerar ou até mesmo alterar o rumo das coisas. E não pode ser assim. O máximo que podemos fazer é procurar encarar como possíveis todas as alternativas. Não sabemos tudo, não podemos saber. Tanto já se disse sobre a importância de cada instante, de que amanhã podem não estar mais conosco pessoas que nos são caras e etc e tal... Mas o oposto pode também ocorrer, e podemos ser nós a não mais estarmos presentes. Pode ser que alguém que nos seja próximo, especial, simplesmente não esteja mais a nosso lado, a nosso alcance. E nos veremos subitamente tomados por arrependimentos, por perguntas de como as coisas teriam sido se tivéssemos agido de forma diferente, e a dor que vai tomar conta de nosso peito virá cheia de culpa, de remorsos. Esqueça. Esqueça mesmo. Porque não poderia simplesmente ter sido de outra forma, não haveria possibilidade de que os acontecimentos pudessem ter sido conhecidos antes, não se pode pretender alterar o curso normal que as coisas devem ter. E mesmo se houvesse uma chance de que as coisas pudessem ser sabidas antes, algumas coisas não foram feitas para serem ditas, nem mesmo percebidas. Existem escolhas, existem cursos naturais à seguir, existe uma ordem na ordem do caos. Então se existe algo que deva ser dito e que é contido em nossa garganta, é apenas uma escolha, não uma razão para amanhã tornar-se culpa o silêncio reinado. Restrição e contenção, também são escolhas. Não é preciso que haja complicação, não é preciso que se carregue nas costas o peso das coisas que escolhemos fazer ou não. Se as coisas não correram de alguma forma específica, não há verdade que possa ser maior do que as escolhas feitas, não há conhecimento absoluto sobre nada, não se pode querer controlar o mundo, o amanhã ou as pessoas. Há que se lembrar dos risos, dos momentos especiais e do que foi vivido com aquilo que se sabia, com o que se sentia, com o que se queria. Não existem monstros que habitem as escolhas depois que foram feitas, se existem monstros, eles existem apenas no instante em que fazemos nossas escolhas. Então, enquanto houver tempo, enquanto houver chance, que as escolhas sejam reflexo de nossas verdades e não de nossos temores, que as decisões sejam fruto de nosso querer e não de nosso medo de fracasso ou incapacidade. Não há razão para culpa, para arrependimento, nem para remorsos em nenhum dia que esteja por vir. Está tudo bem, está tudo certo, está tudo como deveria estar. Fazemos as nossas escolhas de acordo com aquilo que conhecemos, e se pudermos conhecer nossos próprios desejos e agir de acordo com a nossa própria verdade, nunca haverá nada à ser perdoado, modificado. Está tudo certo, tudo como deveria ser. E não haverá culpa, não poderá haver. Algumas coisas simplesmente não foram feitas para serem ditas. As coisas são como são, e são como deveriam ser. Que nunca se carregue culpa alguma, vale muito mais que qualquer coisa o saber que aconteceram justamente as coisas que naturalmente, deveriam acontecer. Nada mais. Nada menos. Sem remorsos, sem dores, sem arrependimentos. Nunca. Nada foi omitido que um dia pudesse ter sido dito. Existe o que é. Só.

Escolhas

O que nos motiva a termos as atitudes que temos? A nossa vontade simplesmente ou a preocupação que temos com aqueles a nossa volta? Pois bem... Quando agimos de acordo com nós mesmos, até onde somos capazes de ir? Se temos claro nossos princípios, nunca passaremos por cima de outro ser humano para atingirmos nossos ideais (de acordo com os princípios que tivermos). Porém, se agimos pensando no bem que podemos fazer a outra pessoa, assumimos para nós mesmos uma responsabilidade que não nos pertence. A pretensão de agirmos para o bem do próximo independente do querer desse próximo é uma armadilha para nós mesmos. Ficamos presos na crença de que temos o poder sobre as atitudes do outro em nossas mãos. É uma ilusão. Bonita, mas ainda assim uma ilusão. Não há nada que possamos efetivamente sacrificar por uma outra pessoa sem que o preço recaia sobre nós mesmos, e um preço que geralmente não julgávamos existir. Percebermos a nossa impotência quando queremos muito ajudar alguém e não podemos pode ser cruel. Mais cruel ainda se viermos a perceber que a nossa intenção era afastar de nós uma responsabilidade, e acabamos justamente sem querer, pondo as responsabilidades que não queríamos ter em nosso próprio colo. Qualquer forma de imposição é também uma forma de encarceramento, de prisão, de limitar a liberdade alheia. Não precisamos ser sós para deixar as pessoas livres para suas escolhas. Também não precisamos de amarras ou correntes com outras pessoas para sermos individuais. Percebi que muitas vezes são as atitudes que pretendem ser as mais nobres que escondem as maiores formas de insegurança, de medo. E não há ninguém que seja obrigado a encarar seus medos mais íntimos, são apenas escolhas. E nenhuma escolha nossa podemos pretender ter em nome de outra pessoa (seria presunção ou arrogância demais), se escolhemos, escolhemos por nós mesmos. Que apenas isso esteja claro, já é o bastante.

Liberdade

Eu quero a inocência que carrego no meu coração. A doce ingenuidade de acreditar na vida, nas pessoas, no amor. Quero a beleza do instante e a certeza do momento presente. Como criança, quero sentir a curiosidade doce e intensa de quem vê tudo como se fosse pela primeira vez. Se eu tropeçar e se doer, que eu sinta toda a dor que sentir, sem preocupar-me em esconder minhas lágrimas. Se eu sentir medo, que não seja nunca o medo um impedimento para mim. Quero ao meu lado as pessoas que ao meu lado quiserem estar. Que seja pelo prazer da minha companhia, jamais pela necessidade, vício ou dependência. Que não haja a necessidade de certo ou de errado, uma vez que cada um é em si mesmo um universo com verdades distintas. Quero amar as pessoas que amo, independente de obter de volta ou não algum amor. Amo porque amo, e não porque espero. Que a vida seja o que é, e que seja sem limitações, sem projeções, sem contenções ou resignações. Eu quero ser quem eu sou, nada além, nada aquém. Ao meu redor, só quero aqueles que desejem estar a minha volta. Façamos um trato, e que este perdure. Não existem obrigações, não existem imposições. Esteja quando quiser estar. Seja você quem você for, quem é. Vá quando quiser ir, fique quando quiser ficar. Que não existam jogos de egos ou vaidades, que não existam explicações ou justificativas. Se eu não puder amá-lo por quem você é e pelo que você deseja ser ou ter, eu jamais serei capaz de amar verdadeiramente. Não desejo fazer do amor que sinto uma prisão que te separe do mundo, ou um espaço para limitar seus horizontes. Desejo que meu amor seja mais como uma brisa suave, que possa impulsionar o teu vôo. E só quando você sentir-se pleno de liberdade é que estar junto de alguém será um verdadeiro querer.

Reconheço

Se hoje fosse meu último dia de vida, eu teria pouco a dizer. Não aprendi grandes coisas, apenas algumas pequeninas e que hoje são tudo que possuo. Aprendi que quando tudo é vazio e que quando só há a solidão e desespero, muitas vezes basta apenas estender as mãos que alguém, mesmo que não seja quem você espera, há de oferecer-te alguma ajuda. Aprendi que poucas são as virtudes da vida, e nenhuma é maior ou mais importante que expressar a sua verdade, seja ela qual for. As pessoas têm uma tendência natural a enganar-se e a iludir-se, portanto, não espere adivinhos a sua volta, diga o que houver para ser dito. Aprendi que às vezes, erros são necessários para a nossa própria sobrevivência, e que muitas vezes o que para muitos têm imenso valor, para outros, não possuem valor algum. Aprendi que se há alguma coisa que se carrega por toda a vida, são os laços que criamos. Não haverá quem te carregue ao colo, nem quem sofra a tua dor, por mais que alguém queira fazê-lo. Hoje, sou a união das pessoas que passaram pela minha vida, sou as ocasiões em que fui humana e assumi meus valores e princípios por mais difícil que tenha sido fazer isso. Aprendi que as lições que a vida me trouxe, servem apenas a mim, por mais que eu deseje compartilhá-las. Descobri que posso viver sem muita coisa, mas que a vida me é impossível sem saber que as pessoas que amo estão bem. Aprendi que por mais amor que eu sinta por uma pessoa, essa pessoa jamais irá conhecer o tamanho desse sentimento, e jamais irá merecê-lo, a não ser que você dê o seu amor incondicionalmente e não espere nem deseje retorno algum. Se um dia todas as minhas palavras forem levadas ao vento, e só o que restar forem as minhas atitudes, espero ter, como tenho agora, orgulho de cada uma delas, por mais dor e sofrimento que me tenham trazido.

É difícil...

É difícil. Escolher um caminho, tomar uma decisão, implica em abrir mão de outro caminho, em assumir perdas. É ainda mais difícil quando se abre mão do conhecido para optar pelo que não se conhece, pelo que não se sabe. Não há muito em quê se apoiar. Não há segurança, não há conforto. Assumo os riscos e recebo em troca apenas a coragem e o orgulho superficial de saber que estou fazendo o melhor que posso, de saber que minhas atitudes são reflexos exatos das minhas verdades. Fico sem futuro, fico sem passado, perco as referências e sobra-me apenas o instante presente para viver. Sei, e ninguém mais tem como saber, o quanto custa abrir mão da segurança e assumir a perda das ilusões e sonhos ao mesmo tempo. Pergunto-me quando estou debaixo dos lençóis e ninguém me escuta, se possuo mesmo toda essa força, se existe dentro de mim toda a coragem que gostaria de possuir. Pergunto-me revirando em minha vida e em meu passado o quanto foram raras as minhas atitudes de real coragem, olho para a criança que eu era e vejo um brilho que dificilmente um dia voltarei a possuir. Tento construir caminhos abrindo trincheiras que não sei aonde podem me levar, mas como não abri-las??? Não há nada que seja mais significativo e importante que os sentimentos e a verdade que espalhamos pela vida enquanto vivemos. Nós um dia não existiremos mais, e só teremos deixado as atitudes que tivemos para aqueles que ainda ficarem. Sei que pode não haver recompensa, mas ainda assim de minha parte, haverá a luta. Sei que pode não haver um tesouro escondido atrás da montanha, mas ainda assim, de minha parte, haverá a escalada. Sei que posso perder tudo, inclusive a mim mesma durante essa busca, mas de minha parte, ainda assim estarei buscando. Não importa se o que me movimenta é uma confiança ou fé cegas, ou se é apenas minha obtusa teimosia. Afinal... que diferença faz o que me move, se afinal estou me movendo?

Desabafo - Caminhante

Caminhante: NÃO HÁ CAMINHO! O caminho faz-se ao caminhar...
Pobre de nós, que aceitamos a realidade que nos ensinaram. Pobres das pequenas crianças que se deitam a noite para dormir com o estômago resmungando de fome e sonham com as histórias encantadas que viram nas figuras de algum livro ou com os romances das novelas. Pobre dos homens que deixam seu suor e muitas vezes seu sangue para levar a casa o sustento da família enquanto espera pelo reconhecimento através de milagre por seu esforço. Pobre das mulheres que se dedicam a família renunciando as próprias aspirações e potenciais esperando que com isso ela viva novamente através da vida dos filhos que um dia pôs no mundo. Somos todos eternas crianças, a nos deitar para dormir admirando a lua e sonhando desejos soterrados enquanto nossos estômagos reviram-se vazios. É preciso coragem para abrir os olhos, é preciso renúncia para caminhar sem levarmos às costas cargas que pertencem aos outros e não a nós. Carregamos necessidades que nos ensinaram ter, carregamos frustrações que outros tiveram por nós, carregamos cargas demais, soterramo-nos com pesos desnecessários e procuramos por atalhos para diminuir a carga quando o que falta-nos é a coragem de deitarmos ao chão as coisas que pegamos sem que de fato nos pertencessem. Abandonamos nossa essência para ignorarmos a responsabilidade de nossas próprias escolhas e medos. Apoiamo-nos em desejos camuflados e vivemos projeções de um futuro que jamais esteve sob o controle de nossa vontade, mas apenas e unicamente dependente das atitudes presentes que tomamos. Perdemo-nos de nós mesmos com extrema facilidade, enquanto buscamo-nos desesperadamente nos olhos de outra pessoa. Tornamo-nos poços de justificativas mascaradas acreditando que nossas atitudes têm o poder de modificar as pessoas a nossa volta. Não há quem possa auxiliar outra pessoa senão a própria. Não há amanhã pleno ou satisfeito se não conseguimos trazer para o hoje a plenitude em nossos espíritos. Pobre de nós, que apoiamo-nos em ilusões desejando encontrar nelas a realidade que acreditamos desejar. Pobre de nós, que ao agirmos feito cegos, ensinamos outros a fechar os olhos. Pobre de nós, que dependemos de muletas para darmos nossos próprios passos. Não há luz sem que haja escuridão, não há verdade sem que haja a mentira. Não há realidade sem que haja fantasia. A arte é o discernimento que optamos por ter ou não. Pobre de nós, que afogamo-nos no amor quando não somos capazes de senti-lo por nós mesmos. Não há o certo sem que haja o errado. Não há julgamento. Há o que somos, o que somos por baixo de nossas vestes e verdades, de nossos sonhos e ilusões, de nossas atitudes e crenças. Não há o certo, não há o justo. Há o que optamos ser. Não há caminho. Caminhante... Caminhe. Caminhante... Não existe a estrada pronta, a escolha acertada, o destino traçado. Caminhante... O caminho só se faz ao caminhá-lo.

Minha prece (2008/9)

Olha aí, talvez alguém deva falar alguma coisa. Grande Universo sobre as nossas cabeças, será que não vês mesmo o que se passa por aqui? Olha bem, desse ângulo que só você tem, e percebe bem esses olhares cheios de desespero, de angústia, de insatisfação. Quantos, quantos, oh meu Deus, quantos corações solitários, perdidos, desesperados e sedentos por não se sabe o quê?! Pára tudo. Pára por um instante que seja. Não está vendo o quanto as cabeças andam se batendo nas paredes, dando voltas e mais voltas em círculos? Olha aí, que eu sou só mais uma cabeça a bater, mas não é só por mim que digo, não! Pois sou mais um número dentre tantos, e já pouco me importa, mesmo. Mas me importa ver tamanha dor, oh meu Deus! Cadê as estrelas que ficam ali, paradas, tão bonitinhas brilhando em seus lugares certinhos enquanto o caos e o desespero se instalam aqui? Olha lá, é natal e nem parece dezembro. Já daqui a pouco é outro ano e o mundo nem saiu ainda do antigo. Tem fome demais. Fome de tudo. Tem dor demais. Dores de todos os tipos. Tem rancor demais! Falta de amor, falta de paciência. Cada um olha só por si (e é claro que sim, porque estão doídos demais para ver qualquer outra coisa!) e ninguém percebe o resto, não se consegue olhar ao redor. Olha lá, mas por favor, olha mesmo, e pára um minutinho “se faz favor” e vê se dá pra fazer alguma coisa pelos desesperados, pelos que sofrem, pelos que choram. Pelos que se sentem sós, pelos que perderam algo que não há como repor... Acalenta esses corações, todos os corações, porque eu sei que dá. Derrama um pouco de paz nesse mundo, espalha um pouquinho só de consciência, de compaixão. Dá um pouco de colo para aqueles que precisam – e para aqueles que acham que não precisam também. Espalha um pouco da beleza da criação, faz transbordar um pouco do excesso de sentimentos bons, de esperança, de fé seja lá no que for. Olha, por favor. ... obrigada, amém.

Porto

É um cais de porto, e o navio está já prestes para ir
Serão vencidas grandes tempestades e tormentas
Alguns chegarão ao fim, outros antes disso vão partir
Todas, afinal, são almas por aventuras sedentas.

Haverá os dias de noites longas, frias e solitárias
Haverá horas de comunhão e também as cheias de aflição
Terão histórias tanto reais quanto as imaginárias
Histórias repletas de medo, de amor e de muita ambição.

É um cais de porto, e o nosso navio está pronto para partir
Para o oceano da vida, para aquele que se considerar desperto
Para quem permitir o oceano por baixo de si apenas fluir
Para aquele que puder aceitar navegar para um destino incerto.

É um cais de porto, o navio está prestes a zarpar
Obviamente haverão as esperançosas, tristes e as difíceis despedidas
Mas há todo um universo aberto para se abraçar
Mesmo que se sinta do adeus a dor, a dúvida e a tristeza desmedidas.

É um cais de porto, alguns nessa viagem irão embarcar, outros aqui irão ficar
No horizonte iluminado, o sol devagar se esconde atrás da imensidão do mar
Pode ser que você deixe aqui nesse cais aquele por quem foi um dia se apaixonar
Mas nessa viagem, não há quem antes saiba o que perdeu, para então encontrar.

Morrendo

Somos seres humanos, somos almas dentro de corpos finitos. Aceitar a percepção de que nosso corpo é passageiro enquanto o que somos é constante é percebermos a nossa magnitude e nossa efemeridade. Quando nos percebermos numa situação de aflição e angústia, se tentarmos elevar os nossos olhos como se fôssemos um pássaro que observa de cima o mundo abaixo dele é tornarmos possível enxergar o nosso problema como se ele não nos pertencesse mais. Buscar outros ângulos de observação é assumirmos que por mais dilacerante que nos seja um momento, ainda assim esse instante será mais efêmero que a existência de nossa vida nesse corpo, nesse instante. Vai passar. O que nossa essência (ou espírito) levará de aprendizado dentro dela devido a esse período é o que nos restará como lembrança e conquista. Que possamos tornar essa conquista o melhor possível, enquanto padece o corpo e a efemeridade inerentes a ele.

What is that love?

What is that love we feel, in a moment that makes us fall on our knees by a familiar face and in another moment it makes us feel our legs tremble front an unknown look? What is this feeling that tears us away on an alone and dark night, and that sometimes when we are together is our goal? What is this love that makes us dream of fantasies and throws us against reality when we realize our own illusion? What is this love that makes us through unknown paths in the name of a search that never ends? What is this love that sometimes forces us to settle the heart in a safe ground when our aspiration is to fly? What is this love so intense, deep and desperate that exists in infinite space and takes away our peace, and gives us in brief encounters for life the feeling of unutterable fulfillment? What is this love that forever searches, never finding a port of all their aspirations? What is this love that we read about, we see in the eyes of others and never get to live fully? What is this love that dominates the soul, which starts in a weeping sore and makes us find the courage to glue the pieces of our heart and move on after a disappointment?

Desaparecer

Eu quero desaparecer dentro de mim mesma, mergulhar na luz e no entendimento de mim mesma. Tirar para mim mesma esse tempo e esse espaço. Permitir que a compreensão inunde meu espírito e como uma luz, ilumine a minha própria escuridão. Quero desaparecer em meio as minhas próprias sensações e reconhecer a vida existente em mim. Como uma estrela cadente que explode alta no céu quero permitir em mim a explosão e o transbordo de luz. Não existe sentido em fazer com que outros percebam a realidade que me toma e condensa-se em mim. Quanto mais me torno névoa por fora, mas densa me transformo por dentro. Muito já deixei cair pelo caminho, muito ainda à deixar. Não quero as coisas pequenas que me tomam o dia e o tempo. Não quero as desculpas e falsos lampejos de hipocrisia e apego. Renego as necessidades do ego. Renego. Renego. Renego. A ilusão do instante presente não me convence. A preocupação do tempo futuro não me preocupa. Desapareço dentro de mim para me tornar quem sou. Explode em mim a luz. É tênue o sentimento que ainda me liga ao meu apego. A linha se estica, se afina, ainda não se rompe. A eternidade em um único sentimento. A compreensão através de um único desejo. A ausência total de temor, a ausência total da necessidade. Então essa é a verdade, onde tudo e nada são a mesma coisa, e essa coisa é o estado absoluto. Eu mergulho. Eu sinto, eu reconheço o sentimento. Eu me liberto, eu não lamento pois não há o que se lamentar. Eu desapareço dentro de mim mesma. Enfim, eu me liberto. E o nome dessa liberdade é reconhecimento, é aceitação. O nome dessa liberdade é amor. Amor sob vontade.

Storm

Suddenly the Sky became Gray, the Sun disappear. A strong wind is blowing all things around me. I open the door, the windows, I let this wind came and touch my face and my body. I’m waiting for the rain. I already hear the thunders. This will be a real storm. And I will let everything open, I will take off my shoes, and I will receive this rain in a state of grace. This storm is nothing if I compare with the storm and openness inside me.

Oceano

É nessa movimentação do dia a dia que tanto as pessoas se desencontram, é no passar dos dias e no correr do tempo que há muito mais desencontros que encontros. Somos pessoas no mundo, e por alguma razão oculta, obscura, partilhamos o mesmo instante nesse mundo. Se não há mais tantos empecilhos da distância e no espaço, estamos todos, como náufragos, compartilhando no mesmo instante o mesmo oceano. Tantas pessoas, rostos desconhecidos, olhares perdidos em si mesmos, passos sem rumo certo, todos somos tão intimamente próximos, tão absurdamente estranhos uns aos outros. Quero olhar os desconhecidos nas ruas e ver a mim mesma, uma sombra de mim. Não entendo porque os estranhos simplesmente passam uns pelos outros sem nem mesmo se dignificarem a um olhar nos olhos mais atento, mais cuidadoso. Pode ser que meu destino seja o manicômio, mas porque estranhos não se abraçam? Por que não se olham nos olhos? Por que não assumem perante a todos, perante ao mundo, suas dores? Por que se ocultar? Somos náufragos no mesmo oceano, por que não somos a tábua de salvação uns aos outros? Por que? Por que criamos em nós tamanha clausura, tamanho preconceito, por que teimamos em não vermos os outros como vemos a nós mesmos? Estamos todos dividindo o mesmo tempo nesse mundo, por que então parecemos aos outros tão estranhos? Por que não rir e não chorar com um desconhecido se somos todos feitos da mesma matéria, das mesmas emoções, se no fundo, pertencemos todos ao mesmo corpo etéreo? Somos náufragos no mesmo oceano, olho para os lados, todos olham apenas para si mesmos. Não vejo olhares compartilhados, entendimentos subentendidos, somos náufragos, e estamos nos afogando.

Morte & Perda

Morte

As vezes a vida nos surpreende, e perdemos pelo caminho pessoas que nos fizeram ver a vida de uma outra forma, pessoas que fizeram parte de nossos instantes, de nosso crescimento, pessoas que fizeram parte de nós e que dividiram conosco instantes únicos de nossa jornada.
E, sem aviso, sem que estejamos preparados, simplesmente a pessoa deixa de existir, e não teremos mais a certeza e a segurança de saber que se quisermos telefonar, abraçar ou estar juntos de novo, simplesmente não vai acontecer. E a dor dessa perda, a certeza de que o tempo vivido não é recuperável, que as coisas ditas ou não ditas são imutáveis, deixa uma sensação de impotência e vazio enormes dentro de nós.
Não existe forma de lidarmos com isso, não existe conforto possível, por mais que tenhamos fé ou apoio, a ausência será permanente. A única coisa que podemos efetivamente fazer é termos em nós as lembranças vividas, e honrar a existência dessa pessoa em nossa vida fazendo cada vez o melhor que pudermos, sendo cada vez mais a melhor pessoa que possamos ser. Vai continuar a existir um vazio, vão existir espaços não preenchidos, que somente a gente poderá preencher com as lembranças e memórias que escolhermos guardar.
A maior homenagem que podemos fazer à pessoa que já não mais existe entre a gente e que não mais compartilha de nossa vida conosco é fazermos valer a pena cada instante vivido, cada troca de carinho, de amizade e de amor. É transformarmos dentro de nós o sentimento da dor e da perda em motivação e crescimento, em aprendizado e evolução. Podemos tirar inúmeras lições olhando para a vida que a pessoa teve e as escolhas que fez ao longo do caminho, mas podemos também aprender muito olhando para nós mesmos em relação a pessoa que já não está mais aqui.
Podemos aprender a olhar para cada ser humano com um carinho enorme, sabendo que amanhã essa pessoa também poderá não estar mais aqui, ou ainda, percebendo que amanhã a pessoa para quem olhamos hoje poderá sofrer alguma perda que será irreparável, irremediável.
Estamos todos aprendendo a viver quando a morte nos alcança, estamos todos despreparados e enfrentando jornadas semelhantes. Não existe receita que nos ensine a lidar com a dor ou com a perda, mas existe a vontade de fazer com que através desse sofrimento, consigamos ser pessoas melhores, tanto para nós quanto para os outros.
Acredito que o que chamamos de luto tenha uma razão, que é a de nos permitirmos nesse período avaliarmos toda a relação existente com a pessoa que partiu, e assim nos prepararmos para seguir adiante com nossas vidas, tendo essa pessoa dentro de nós como a motivação para que sejamos cada vez mais e maiores como indivíduos.

Perda

O quanto perdemos ao longo da vida? Quantos amigos, quantos sonhos ficam aos poucos para trás, tanto que nem mesmo conseguimos mais nos lembrar? O quanto deixamos para trás a pessoa que costumávamos ser, para abraçar os acontecimentos da vida sem nos darmos conta, apenas nos conformando com a forma com que as coisas acontecem?
O quanto aceitamos perdas e despedidas em nossas vidas, sem pararmos para avaliar e nos questionarmos se com isso estamos abrindo de uma certa forma mão de nós mesmos e de quem somos?
Fazemos concessões demais, seja para mantermos o que nos é conhecido seja para não enfrentarmos situações que possam nos assustar. Muitas vezes nem sequer nos questionamos, aprendemos a abrir mão de sonhos e em aceitar derrotas e perdas, apenas porque aprendemos que somos capazes de sobreviver.
Mas por que razão pensamos assim, de que se somos capazes de sobreviver então está tudo bem? Por que nos acostumamos a nos contentar com menos do que aquilo que queremos ou do que acreditamos sermos merecedores?
Quantas atitudes já tivemos em nossas vidas de que somos verdadeiramente capazes de nos orgulhar? O medo e a culpa são os grandes inimigos de nossa existência, são sentimentos que nos fazem paralisar nossas vidas ou que nos mantém fixos sempre no mesmo lugar. Por mais que tentemos, não somos capazes de acertar sempre, e nem podemos a todo instante agradarmos as pessoas à nossa volta. Não há razão para carregarmos culpas, nem motivo para temermos, uma vez que a própria vida é uma incerteza.
Se algo nos faz infelizes, cabe a nós mudarmos nossas vidas, nossos passos. Se não conseguimos ter orgulho da pessoa que somos, cabe a nós fazermos algo a respeito, e o princípio é saber o que queremos e o que não queremos, e não nos contentarmos com menos do que isso.

Arte

Eu queria me agarrar em ilusões, com toda a força que posso concentrar nas minhas mãos. Queria usar cada centímetro dos meus músculos para agarrar ilusões de tal forma que nunca pudessem se transformar ou partir.
Queria escolher a minha realidade, desenhá-la à minha maneira com as cores que eu escolhesse, sem temer que um dia o desenho torne-se borrado ou nebuloso.
Pois existe muito mais encanto e fascínio no mundo que nossa mente pode produzir do que existe muitas vezes naquilo que de fato está a nossa volta. É muito mais fácil viver de sonhos, de ilusões e das expectativas que nosso coração pode criar do que naquilo que nossos olhos muitas vezes não querem enxergar.
Fomos criados assim, em meio a contos de fadas, a histórias de finais felizes e príncipes encantados. Somos como eternas crianças tentando abandonar a primeira infância, temendo pelas coisas que vemos ruir a nossa volta, à percepção de que nossos pais não são súper heróis e de que não somos capazes de voar.
Em algum momento foi implantada em nós a vontade de voar, de ter asas e de alcansar o céu. Uma parte de nós, por mais que o tempo passe e que creçamos, ainda acredita nessa capacidade. Precisa acreditar, senão o mundo torna-se cinzendo, duro, feito de concreto e asfalto.
Nem tudo aquilo que se quer é possível de ser conquistado, nem todos os sonhos são realizáveis, e nada tem a ver com a nossa força, coragem ou capacidade. Está muito mais relacionado com a realidade dos fatos.
Pessoas que gostamos ou amamos (ou pessoas que gostaríamos de gostar e amar) não são perfeitas, não possuem o dom de transformar as nossas vidas e nos devolver a capacidade de acreditarmos nas coisas que gostaríamos. Somos nós, sempre nós mesmos, os únicos capazes de transformar qualquer coisa em nós ou em nossa vida. Mas continuamos a teimar em encontrar alguem capaz de fazer isso por nós, ou alguém que nos sirva como alavanca para as transformações que precisamos em nós.
Quando caem essas projeções, crenças, nos vemos sozinhos novamente, e iniciamos novamente a procura por outra alternativa. Um ciclo constante de procura, desejos, ilusões e decepções. Ninguém é capaz de nos decepcionar, são apenas as nossas idéias e projeções que caem por terra. E como nos livrarmos dessas projeções, desses desejos, desses sonhos, se esta é a natureza do nosso ser?
Nenhum amigo, pai, mãe, ou seja quem for é capaz de nos desiludir, de nos decepcionar. É a idéia que fazemos daquela pessoa que se desfaz, que se desmancha em frente aos nossos olhos como pequenos castelos feitos na areia quando vem a água do mar.
Por isso é tão importante a compaixão, a compreenção, o perdão e a aceitação. Somos todos feitos da mesma matéria de desejos e sonhos. Somos todos frágeis, lutando nossas próprias batalhas, ora perdendo, ora conquistando.
Ver a fragilidade, fraqueza e defeitos de outra pessoa pode nos fazer escolher desencantarmo-nos com ela ou sermos tomados por uma imensa onda de compaixão e respeito, pois é através de outra pessoa que podemos ver a nós mesmos. Essa é a verdadeira essência do perdão e do amor.
Não importa quais sejam as fraquezas ou defeitos, não importam quão feios nos pareçam, pois somos feitos todos da mesma matéria. Uma massa de argila que cada um, ao longo da vida, procura moldar da melhor maneira possível, somos todos nós os escultores de nosso próprio ser, e podemos a todo instante escolher a forma com que vamos nos moldar.
Nesse percurso, cada um faz a melhor escultura possível, aquela que lhe parece a mais delicada e bonita ou aquela que parece a mais resistente e impactante, é a arte de viver.

Ser

Hoje acordamos felizes, ontem estávamos aborrecidos. Queremos que algo aconteça, dirigimos nossa atenção e forças para a realização de algum propósito, seja ele grande ou pequeno, seja uma conquista ou apenas sobreviver ao dia de hoje. Estamos constantemente atrás de algum feito, de alguma realização, de algum motivo para sermos pessoas mais felizes. Existe alguma coisa faltando agora, que se não fosse por isso, a vida seria melhor, quem sabe até perfeita. Vivemos muitas vezes nos alimentando de expectativas, planos, e até de ilusões. Esquecemos do hoje, desse momento de agora, que não vai mais voltar. E não há ninguém capaz de fazer o agora valer a pena para nós se não formos capazes de fazer isso por nós mesmos.
Se você precisa de alguém para poder sorrir, existe alguma coisa faltando em você mesmo. Se você precisa de alguma coisa para ser feliz, talvez valha a pena rever suas prioridades e contentar-se com o que possui – e ser feliz agora.
Carregamos culpas, arrependimentos, desilusões e sonhos. Carregamos coisas demais. Estamos de passagem, a vida que vivemos teve um início e terá seu fim um dia, ao menos da forma que conhecemos. Ter ambições e propósitos nos faz seguir em frente, ir adiante, mas sem equilíbrio, nos faz não vivermos a nossa vida enquanto ela está acontecendo.
Temos todos conosco potenciais enormes, muitas vezes desconhecidos até de nós mesmos, e que o medo nos faz não percebê-los ou desenvolvê-los. Existem confusões, dúvidas, justificativas demais para administrarmos de forma a mantermos um certo conforto e alguma segurança em nossas vidas, e assim, pouco a pouco, envelhecemos.
Fácil é muitas vezes olhar para a vida de outra pessoa e identificar erros e acertos, o que há faltando e o que existe em abundância. Fácil avaliar e julgar outra pessoa, difícil mesmo é sermos imparciais em nosso próprio julgamento – porque nossa história e experiência sempre falam através de nós.
O que já vivemos já aconteceu, mas temos o controle e a escolha sobre a nossa vida nesse instante – e a partir dele.
Existe uma diferença sutil entre as coisas que são importantes para a nossa vida e as coisas que são importantes para nós. Sobre o que é a nossa vida e quem somos nós.
Somos mais, muito mais, do que muitas vezes aparentamos ser.

Falar é fácil

É muito fácil falar sobre aquilo que se quer. O que se deseja, o que se espera. Mas a liberdade maior existe no não querer. No não esperar. Em não precisar. Toda gente quer alguma coisa, espera alguma coisa, busca ou procura alguma coisa. Quando você encontra em você mesmo a certeza de que as coisas, independente de poderem ser melhores ou não, estão bem como estão, você torna-se livre. Torna-se dono da própria vida, e aprende a aceitar, a simplesmente ser.
Tudo passa a ser um presente, ou apenas um problema que cedo ou tarde passará. Você não é o momento que vive. O momento passará - você não. Você poderá mudar, aprender, acertar, errar.
Pode rir ou chorar. Outra dia virá, e será outro dia.
Mais do que a situação que você vive, você é a somatória das escolhas que faz.
Se você escolhe apenas ser ao invés de tentar ser uma necessidade, uma vontade, um medo ou uma incerteza, você é livre.
E torna-se você, e não aquilo que vive.

Responsabilidade

Não é frieza. Não é um estado de congelar a si mesmo. Pode-se chamar de consciência, ou justiça, ou senso prático. Não importa o nome dado, uma vez que se pratique. Por um instante, deixemos de lado os contos de fadas, as esperanças, os sonhos, os sentimentalismos. Tentemos esquecer os anseios e os desejos, tentemos racionalizar um pouco.
Antes de mais nada, é preciso esclarecer uma coisa. Não pretendo com minhas palavras ou reflexões nenhuma concordância, nenhuma parabenização ou aplauso, longe disso. E se houver alguma reflexão, por menor que seja, já terei atingido qualquer objetivo.
A caminhada é árdua sim, é difícil, é complexa, é dura. E provavelmente tenha mesmo que ser, uma vez que temos a chance de percebemos durante a vida que tudo aquilo que exige esforço, empenho e sacrifício geralmente trás as mais duradouras e profundas recompensas.
Tente ter a coragem de assumir a responsabilidade por sua própria vida, por sua própria personalidade, por seus próprios sucessos e fracassos. Tente perguntar-se se você é hoje a pessoa que você gostaria de ser. As vezes pode facilitar se você se lembrar de quando você era criança, que tipo de pessoa você imaginou que seria hoje (não se trata daquilo que você possui ou não, mas de quem você é). Pergunte-se, e não evite conhecer a resposta. Você é hoje a pessoa que você quer ser? Tão poucas o são... E por quê?
Porque nos tornarmos a pessoa que gostaríamos ser exige sacrifício. Exige esforço. Mais que isso, exige de nós que abandonemos a nossa zona de conforto. E isso dói.
Não importa quais os problemas ou aflições que atinjam a sua vida nesse momento, você certamente se imaginou ser uma pessoa diferente, muito mais capaz de enfrentar a situação a qual vive hoje. E o que você espera ainda para tornar-se a pessoa que sempre quis ser?
Que a vida mude, que a situação seja outra, que aconteça alguma coisa? Que a vida te entregue embrulhados para presente todos os seus sonhos? Isso apenas provocaria uma coisa – acomodação. Faz com que você mergulhe ainda mais em sua zona de conforto e em suas ilusões de conforto e segurança. Ninguém torna-se a pessoa que gostaria de ser sem esforço (esforço mesmo!), sem abrir mão de muita coisa, sem caminhar para essa direção.
Você gostaria que sua vida fosse diferente? Provavelmente sim, mas e então? É provável que você tenha como ideais de vida a vida que a pessoa que você gostaria de ser teria. Provavelmente, a vida que você quer e busca é a vida que a pessoa que um dia você imaginou ou quis ser tivesse. O que você espera ainda?
Seja. Dê o primeiro passo, inicie a caminhada.
A pessoa que você quer ser é independente? Então seja. A pessoa que você quer ser é amorosa? Então seja. A pessoa que você quer ser é compreensiva? Seja. É amiga, leal, forte, segura? Então SEJA. Não espere que a vida provoque modificações que só você mesmo pode operar.
Sua vida hoje impede que você seja tudo aquilo que quer? Mude sua vida. Reavalie seus princípios, questione-se, pergunte-se. Busque.
E prometo que vai haver dor, que vão haver as mais complexas dificuldades, medos e incertezas. E também prometo que ao percorrer o caminho, você perceberá que é cada vez mais a pessoa que sempre quis ser. E poderá ter perdido muito no caminho, mas a sensação que você encontrará será um amor e respeito doces, infinitos, profundos, por você mesmo.
Dê o primeiro passo, e os outros passos se seguirão.

XX

A Verdadeira Vontade
Hoje eu gostaria de falar sobre a verdadeira vontade que existe dentro de cada um de nós. Alguns chamam de vocação, outros de essência, outros ainda dão o nome de potencial criador. O nome não é importante, cada um que chame como quiser. O importante é conseguirmos reconhecer dentro de nós mesmos qual é essa vontade, essa vocação.
Imagine por um instante que essa vontade é como uma semente plantada em nosso coração pelo Criador de todas as coisas. É, portanto, através dessa semente que temos a capacidade de estarmos conectados com Deus (ou como queira chamá-Lo). É como se essa vocação fosse a parte mais pura e sublime existente dentro de nós, uma força capaz de possibilitar o nosso amadurecimento e a nossa compreensão.
Quando agimos de acordo com a nossa verdadeira vontade é como se estivéssemos em comunhão com todo o Universo, o que faz com que possamos ultrapassar as dificuldades em nossas vidas e que abre à nossa frente as portas para o que deseja de fato o nosso coração. O desafio que temos é, portanto conseguirmos reconhecer essa verdadeira vontade e separá-la das vontades menos nobres que possuímos, das necessidades mais corriqueiras e da satisfação apenas das nossas vaidades.
Conhecermos a nós mesmos é estarmos sempre atentos às nossas reações e ao “por quê” das reações que temos.

XIX

Tempo
Estamos mais uma vez, chegando ao final de um ano. É muito comum as pessoas se perceberem afirmando que o tempo passa cada vez mais depressa. Por quê? Existe uma explicação.
Quando vivemos em uma rotina, vivemos de acordo com as situações que nos vão surgindo ao longo do dia, enfrentando os desafios de forma natural e sem realmente pararmos para analisar os acontecimentos.
É muito mais fácil aproveitarmos o dia intensamente quando estamos em um lugar diferente, com pessoas diferentes, fazendo algo fora do nosso habitual. Isso acontece porque como se trata de uma “novidade” nosso cérebro fica mais atento, mais alerta, percebendo todos os detalhes. E não existe essa necessidade em nosso dia a dia, em nossas rotinas.
O tempo é uma ilusão que criamos, tanto que em determinados dias uma hora pode significar tempo demais ou tempo de menos. Quando estamos aproveitando, nos divertindo, realmente tiramos proveito de cada instante daquela hora, mesmo que passe depressa. Quando nós nos concentramos apenas no tic-tac do relógio, essa mesma hora parece interminável. Mas os ponteiros do relógio não apressam nem diminuem o seu ritmo, somos nós que alteramos a nossa maneira de perceber o tempo.
Quando dizemos que o ano passou rápido demais, é como dizermos que a nossa vida está passando rápido demais. E passando por nós!!! Por isso é tão fundamental conhecermos as nossas prioridades, os nossos desejos, nossos sonhos. Só assim poderemos decidir a forma com que vamos utilizar o nosso tempo, como vamos nos comportar durante a próxima hora, dia, mês, ano. Estaremos com o nosso piloto automático de rotina ligado? Ou estaremos ligados a nós mesmos?
O tempo não passa, as pessoas não passam, a vida não passa. Somos nós que passamos por tudo isso, e está apenas em nossas mãos escolhermos a maneira com que vamos passar.

XVIII

Felicidade

Acontece com vocês de às vezes se sentirem invadidos por uma sensação de nostalgia, de saudade de tempos que não voltam mais? Aconteceu isso comigo recentemente, enquanto me lembrava de momentos em que as coisas podiam não estar perfeitas, mas em que havia alegria, havia felicidade.
Momentos preciosos que com ou sem dificuldades, passaram e deixaram saudades. Muita gente as vezes diz sobre algum período de suas vidas que "eram felizes e não sabiam". Eu sempre dentro do possível tentei estar consciente da minha felicidade e hoje percebo que isso simplesmente não faz a menor diferença.
Os instantes de alegria que vivemos, estando ou não nós conscientes do que eles representam e de que são momentos (por isso passam) não faz com que o tempo corra mais depressa ou mais devagar. Apenas faz com que possamos tirar daqueles instantes o maior proveito possível, conscientemente.
Hoje pode ser um momento que amanhã poderá deixar saudades. Pode ser um momento em que tudo o que você deseja seja que o "hoje passe mais depressa, logo". A grande vantagem de estarmos conscientes do período que estamos atravessando em nossas vidas é podermos tirar proveito das lições e experiências que o momento presente tem para nos oferecer.
Poderia ser melhor? Poderia ser pior? Sem dúvida. Mas não sendo nem o melhor possível e nem o pior, qual é o máximo que você pode fazer para realmente viver esse período? Você está sendo o seu melhor? Ou o seu pior? Não são, de certa forma, reflexos das nossas atitudes as situações que nos rodeiam? Como esperar o máximo de algo se não é o máximo aquilo que você faz? E como se lamentar pelos infortúnios se tantas vezes demos o "menos" de nós mesmos?
Seja um período bom ou ruim, passará. E aí fica a pergunta... esse período vai passar por você, ou será você que irá ultrapassá-lo?

XVII

Compaixão

Eu gostaria de hoje aproveitar esse espaço para falar sobre um sentimento de grande relevância em nossas vidas, a compaixão. Muitas vezes consideramos este sentimento menos importante do que realmente é, e ocorre ainda muitas vezes de misturarmos a compaixão com a piedade. Não é dessa compaixão que quero falar.
Se formos buscar o significado dessa palavra, iremos encontrar: "s.f. Sentimento de pesar que nos causam os males alheios; comiseração, piedade, dó". Mas existe também um significado mais profundo, que é quase uma arte. A arte e a virtude de compartilhar o sofrimento do outro. À essa arte, acredito que podemos dar o nome de amor.
Um amor que é maior do que o desejo, maior do que a nossa vontade de nos realizarmos através do outro.
Muitas vezes, quando nos preocupamos com alguém estamos na verdade colocando uma projeção nossa naquela outra pessoa, estamos buscando, através do outro, dar vazões para as nossas próprias e íntimas preocupações. A compaixão não é nada disso. É o dom de compartilhar um sofrimento sentido por outra pessoa mesmo que a gente não concorde e nem compreenda aquele sofrimento. É sentir de uma forma mais elevada nós mesmos em nome do outro. É, por um instante que seja, sentir o outro como se estivéssemos sentindo a nós próprios em toda a nossa totalidade. E falta em nosso mundo muito de compaixão. Muito de amor.
Talvez não tenhamos o poder de trazer mais dessa compaixão pra o mundo, mas temos sim o poder de trazer mais compaixão para as nossas próprias vidas.

XVI

Coragem
Nessa semana eu gostaria de trazer para vocês algo que considero fundamental para a vida. Coragem. Não aquela coragem que faz uma pessoa enfrentar um bandido ou entrar numa briga, que é mais prepotência e arrogância que coragem.
A coragem da qual falo é aquela necessária para que possamos viver a vida, enfrentar as dificuldades, os problemas. Essa coragem existe dentro de todos nós, é uma força, uma confiança maior de que possuímos todas as ferramentas necessárias para ultrapassar e vencer os obstáculos que surgirem em nossa frente. E essa coragem tão fundamental precisa ser alimentada, precisa ser exercitada e fortalecida.
A acomodação a qual muitas vezes nos submetemos, o medo e a insegurança são os principais inimigos dessa coragem. Como seres em constante evolução precisamos manter as engrenagens da nossa vida e de nosso aprendizado em constante movimento, e a coragem é o ingrediente "extra" que vem nos fortalecer quando a nossa vida se depara com um momento de dificuldade e dúvida. É essa coragem que nos proporciona a confiança de que saberemos como agir, que tomaremos a atitude correta, que venceremos a dificuldade ou o problema que surgiu na nossa vida.
Uma maneira de fortalecermos essa coragem é estarmos atentos a quem somos, às atitudes que temos no nosso dia a dia, é prestarmos atenção aos comportamentos que temos e estarmos sempre conscientes, alertas, assumindo as nossas responsabilidades por nossas atitudes e pelas possíveis conseqüências que nosso comportamento trará.
Quando agimos de acordo com a nossa verdade interior de uma forma consciente, a confiança de que estamos agindo de forma correta é natural. E é daí que nasce e se fortalece a nossa coragem. Sejam corajosos, estejam confiantes e mantenham-se alertas sobre as atitudes que tomam a cada instante do dia, e os caminhos se abrirão a frente de sua força e coragem.

XV

Estabilidade & Segurança
Dessa vez escrevo atendendo a um pedido. Pediram-me para falar sobre a estabilidade. Não consigo falar sobre isso sem que na minha cabeça venha imediatamente a palavra segurança. E segurança, a meu ver, não passa de uma ilusão. Assim como a estabilidade. Pois a estabilidade de hoje pode simplesmente não mais existir amanhã.
Somos seres em constante mutação, e idealmente, em constante evolução e aprendizado. Éramos menos sábios um ano atrás do que somos agora, passamos por experiências e situações que nos proporcionaram novos conhecimentos, ao menos novos conhecimentos sobre nós mesmos (ou ao menos, assim deveria ser). E muitas vezes podemos apenas não nos dar conta disso. E isso acontece com muita freqüência, infelizmente.
Muitas vezes a vida passa por nós e não nos damos conta de que deixamos passar um tempo precioso através de nós, como se assumíssemos a função de um mero expectador da nossa própria vida, e esquecemos que não estamos assistindo a um filme, mas que desse filme somos os atores e atrizes principais.
Conforme a vida acontece, se nós nos permitirmos "acontecer" junto com ela, tirando de nossas vidas todas as lições de que somos capazes, vamos aprendendo, evoluindo, mudando. E a estabilidade nesse caso não pode existir com a mudança. E a segurança possível é apenas a segurança que podemos proporcionar a nós mesmos, pois se a nossa segurança depende de outras pessoas ou de situações das quais não temos nem poder e nem controle, estaremos nos apegando apenas a ilusões, e ilusões que passam com o tempo.
Se estivermos conscientes, alertas, vamos perceber as mudanças e saberemos nos adaptar as novas situações que surgirem, sem deixar que fique em nossas bocas o gosto amargo da desilusão ou da amargura.
Se aceitarmos que nem mesmo nós temos o controle total sobre o que nos cerca e se nos permitirmos cada vez mais aprendermos e evoluirmos com as situações que a vida nos trouxer, a única estabilidade que desejaremos será a constância de continuarmos sempre evoluindo, progredindo, mudando, crescendo. Sem âncoras que nos segurem e nos impeçam de crescer.

XIV

Passado

Tem dias em que a gente simplesmente sente saudades. Não necessariamente saudades de pessoas ou de lugares que já não fazem mais parte das nossas vidas.
A maior saudade, a saudade que muitas vezes mais dói é a saudade de quem éramos em determinado momento das nossas vidas e tudo que ignorávamos que ia acontecer a seguir. Saudades de momentos em que a gente simplesmente estava ali, e viveu aquele momento sem saber o que viria, a gente só viveu.
Sorrisos que hoje já não mais emitem nenhum som, o barulho que existiu naquele instante e que agora é silêncio. Saudades de um abraço que hoje já não mais nos abraça, de um calor humano que hoje foi substituído por outro, ou simplesmente pelo frio. Saudades de quem éramos.
Do que poderíamos ter sido e não fomos. E as vezes sentir saudades é bom, as vezes nem tanto. Mas se existem alguns momentos assim na nossa memória, se por um instante imaginarmos que estamos ali novamente, vivendo aquele instante exatamente como aconteceu, faríamos realmente alguma coisa diferente, sendo quem éramos na época? Acredito que dificilmente. Aproveitamos o que na época acreditamos que devíamos aproveitar. Talvez depois disso alguma coisa tenha acontecido, alguém muito especial tenha deixado de existir em nossas vidas. Mas não tínhamos como saber.
Sabemos apenas que tudo isso pode estar vivo em nós, e que dentro de nós poderá viver para sempre. A saudade também pode ser um lembrete de que agora existem pessoas que são especiais para as nossas vidas mesmo que a gente não perceba isso com toda a clareza, e que o hoje pode ser alguma de nossas doces lembranças para o amanhã.
Que a gente tenha a sabedoria de viver o instante presente, e que a gente tenha a força para manter acesa dentro de nós a lembrança e a doçura do que já nos foi tão importante um dia.