30 de set. de 2010

Oceano

É nessa movimentação do dia a dia que tanto as pessoas se desencontram, é no passar dos dias e no correr do tempo que há muito mais desencontros que encontros. Somos pessoas no mundo, e por alguma razão oculta, obscura, partilhamos o mesmo instante nesse mundo. Se não há mais tantos empecilhos da distância e no espaço, estamos todos, como náufragos, compartilhando no mesmo instante o mesmo oceano. Tantas pessoas, rostos desconhecidos, olhares perdidos em si mesmos, passos sem rumo certo, todos somos tão intimamente próximos, tão absurdamente estranhos uns aos outros. Quero olhar os desconhecidos nas ruas e ver a mim mesma, uma sombra de mim. Não entendo porque os estranhos simplesmente passam uns pelos outros sem nem mesmo se dignificarem a um olhar nos olhos mais atento, mais cuidadoso. Pode ser que meu destino seja o manicômio, mas porque estranhos não se abraçam? Por que não se olham nos olhos? Por que não assumem perante a todos, perante ao mundo, suas dores? Por que se ocultar? Somos náufragos no mesmo oceano, por que não somos a tábua de salvação uns aos outros? Por que? Por que criamos em nós tamanha clausura, tamanho preconceito, por que teimamos em não vermos os outros como vemos a nós mesmos? Estamos todos dividindo o mesmo tempo nesse mundo, por que então parecemos aos outros tão estranhos? Por que não rir e não chorar com um desconhecido se somos todos feitos da mesma matéria, das mesmas emoções, se no fundo, pertencemos todos ao mesmo corpo etéreo? Somos náufragos no mesmo oceano, olho para os lados, todos olham apenas para si mesmos. Não vejo olhares compartilhados, entendimentos subentendidos, somos náufragos, e estamos nos afogando.

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