30 de set. de 2010

Mundos

Saímos de nossas casas, saímos de nossas mentes para encontrar o mundo. Mas não conseguimos sair de nós mesmos, não conseguimos nos ver da forma com que as outras pessoas nos vêem nem tão pouco nos vermos em toda a nossa complexidade. Nos habituamos em nossa zona de conforto e aceitamos as peças e armadilhas que nosso próprio cérebro nos impõe para não percebermos o quanto apesar de nos afastarmos de nossa zona de conforto nos mantemos presos a ela. Damos voltas e mais voltas na expectativa e na esperança de nos tornamos serem maiores, mais evoluídos e mais sábios quando somos vítimas de nossas próprias piadas. Saímos de uma ilusão para mergulharmos em outra, e são camadas dentro de camadas de novas expectativas e de novas ilusões. Grandes fragilidades e medos, necessidades que não queremos reconhecer em nós mesmos. E em nossas mentes mergulhamos e nos afundamos cada vez mais e mais.
Abandono facilidades para sair a procura de novas facilidades, regadas com a ilusão de serem mais difíceis ou mais complicadas. Enxergamos apenas aquilo que queremos enxergar, não estamos preparados para enxergar tudo sobre coisa alguma, muito menos quando se trata de nós mesmos.
Não somos o centro do universo, quando muito, permitimo-nos ser o centro de nós mesmos. E não há qualquer conforto, qualquer descanso, qualquer refúgio para que nos salvemos do universo infinito que existe dentro de nós. Alguns lutam porque se querem conhecer, se querem descobrir e esperam por uma transformação e um desabrochar. E como precisamos acreditar numa transformação! E como precisamos acreditar num desabrochar! Porque é difícil encararmos as realidades da vida, é difícil enxergarmos a nossa própria pequenez e inutilidade. Seja através da arte, da música ou da dança, seja através do amor, da busca pelo sucesso ou de qualquer outra procura, arrumamos desculpas para nós mesmos, arrumamos saídas falsas e ilusões para percebermos aquilo que queremos perceber.
O amor, seja na forma mais plena, absoluta, incondicional de amor, nos possibilita vermos mais do que poderíamos ver sem que ele existisse, mas não nos permite ver além dele próprio, e podemos nos tornar a mais pura e plena expressão de amor, o que não significa que nos tornamos conhecedores dele ou sábios de qualquer maneira.
E vejo-me crescer para ver-me tornar pequena. E vejo-me liberta para tornar-me dependente, vejo-me transformar para retornar ao ponto de partida, e fecho-me num eterno círculo sem volta e sem saída, num eterno buscar onde se desenha meu caminho e onde não há escapatória ou destino final, é ir, e ir, e ir, e ir até que não haja mais vida para possibilitar qualquer caminhada. E no caminhar cada ser humano é capaz de ter as mais nobres ou parvas atitudes, ser o mais egoísta ou altruísta, ser o mais capaz ou o maior dos infelizes, fazemos nossas escolhas que vão definir a pessoa que somos mas não altera o nosso ponto de chegada ou de partida.
Não faz diferença pelas estradas que caminhemos ou pelos sonhos que deixemos pelo caminho, sempre vamos da forma que achamos melhor, da forma que desejamos ir, independente se usamos as armadilhas e artimanhas de nosso cérebro para justificar nossos atos e escolhas como certas ou erradas.
E assim, numa consciência entorpecida e desacordada, vagueamos feito zumbis de nós mesmos, preenchendo-nos de ilusões e desejos, de sentimentos e crenças.
Lembro-me da criança que eu fui, de mim adolescente, depois adulta. Sou outra pessoa e sou ainda e serei sempre o reflexo daquilo que foram meus pais, meus amigos, minha história. Posso virar a mesa, posso mudar a história, e fazer curvas em sentido contrário ou de noventa graus, continuarei a ser eu mesma, continuarei a buscar as mesmas coisas, a cometer as atitudes que me parecerem mais acertadas, a agir em nome de meus conceitos e de meus valores, e não importa que mudem as personagens ao meu redor, não importa que mude meu dia a dia ou minha rotina, não importa que meus olhos estejam abertos ou fechados nem importa a consciência ou falta dela que eu tenha na vida, ainda permanecerei vendo apenas aquilo que eu quiser, ainda permanecerei sendo aquilo que eu quiser, sofrendo das mesmas angústias, dos mesmos sonhos e caprichos, das mesmas necessidades e ambições. Pois sou eu, humana e fraca, e tomada pelos instintos mais básicos e primitivos daquilo que considero como eu mesma, mesmo que eu não saiba ou reconheça quem sou eu.

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