29 de set. de 2017

Não me ames

Não me ames, que enquanto não houver amor há de haver verdade. Enquanto não me amares, poderás ver a mim ao invés de teres os olhos fechados por tuas necessidades e desejos.
Não me ames, não estragues com ilusões a verdade que a razão trás. Não me queiras, não me desejes e nem precises de mim. Enquanto formos nós mesmos, poderemos ser tudo e assim nos complementarmos.Não queiras me amar com intensidade, com urgência e sem medida, que isso são necessidades de um coração vazio e não amor de verdade.Não me queiras como um mar revolto em sua vida, que isso só significa naufrágio. Não deixes que os buracos abertos, que as feridas que ainda sangram te façam me amar, que isso é tapar buracos com areia que qualquer vento leva.Prefiro que não me ames nunca, não me queiras nunca, não precises de mim nunca, assim sempre serás tu e não um pedaço de ser humano carente de mim. E gosto e respeito te demais para te querer sendo qualquer outra coisa que não tu mesmo.Não te deixes levar pela vontade de sentir as pernas trêmulas e pelas noites sem conseguir fechar os olhos, não, não me ames nunca.É por não me amares que com mais ternura me amas.Há muito mais verdade no teu não amar do que em qualquer frase de amor que me pudesses dizer.Enquanto não me amares, não me vou assustar, não vou temer nem fugir. Enquanto souberes quem és e quem eu sou, as coisas estarão em seus devidos lugares sem que existam coisas não nossas pelo meio.Enquanto não me amares, sei que é com a tua essência e com a tua verdade que me amas, e então não há necessidade de mais nada, só do que aquilo que de fato já há.É por não te amar que te amo com maior verdade e ternura.

25 de set. de 2017

Teoria das espécies do Amor

Um texto irônico, pretensioso, arrogante e não claramente infundado.

Faz alguns anos cheguei à conclusão de que o amor é uma escolha. Pode parecer estranho, mas através do meu ponto de vista sempre há um ponto, às vezes bem no princípio de tudo, onde há mesmo nitidamente uma escolha sobre o que um dia pode se tornar amor.

Pode ser bastante sutil, quase imperceptível, mas está lá em algum lugar o instante em que escolhemos ou não avançar, em que escolhemos ou não pensar, escolhemos ou não dedicar tempo (e espaço) para alguém em nossas vidas; “Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez ser tão especial para ti” – já escreveu Exupery.

E não há como negar nossa natureza humana, uma mistura de tantas coisas e entre tantas, um bocado de curiosidade, de apreço ao risco, de ego, apego e etc. e tal e... voilá! Escolha feita (consciente ou não).

Claro que às vezes pode dar certo, e que acontece de que podem entrar outras motivações (mais nobres) à mistura do que é a natureza humana, pois também faz parte de nós o afeto, o carinho, a compreensão e mais etc. e tal.

Seja por gostar demasiado de analisar e criar teorias, seja por uma base biológica de formação ou por um acaso qualquer, vejo diversas coisas (traços de caráter, comportamentos, raciocínios e principalmente sentimentos) como espécies. Espécies como as espécies do reino animal ou vegetal, pertencentes à uma classe, reino, (espécie) e família. Há desde as que podemos considerar mais “nobres” ou “evoluídas” até aquelas que menos parecem ter importância ou “evoluído menos”. E pronto, aí chega uma teoria conspiratória “biológica”: - Quem é “melhor”, as espécies mais “novas” que sofreram processos evolutivos ao longo do tempo para que se adaptassem melhor ao meio que as cerca ou por exemplo, o crocodilo, que evoluiu “pouco” por já estar consideravelmente “bem-adaptado” e sem tanta necessidade de evolução? Pode aí entrar uma outra pergunta (várias na verdade, mas vou por partes): Se é o meio que nos cerca que determina a necessidade ou não da evolução, um meio contaminado é capaz de gerar uma evolução que seja positiva não em termos de adaptação, mas em termos de humanidade e princípios?

Se em termos mais gerais a evolução mais classificada e analisada é a física, metabólica, anatômica e genética, em termos mais “espirituais” como se classificaria a evolução e qual a significância da adaptação ao meio para o processo evolutivo – ou, justamente nesse aspecto, a evolução seria o crescimento independente da necessidade de adaptação ao meio e sim a evolução “para além” da necessidade de adaptação?


O curioso da formulação destas perguntas é a possibilidade de respostas, e ainda, o facto (ridículo, se poderia dizer) de que estas perguntas capazes de criar uma tese e aprofundar ainda mais teorias (carentes de corroboração) deu-se pela constatação de que seria (para mim, neste instante) muito mais fácil lidar com uma ausência total e sem vestígios de uma determinada “espécie” do que com os registros de existência da mesma. Resumindo ainda mais e concluindo: A evolução dá trabalho e a preguiça faz parte da natureza humana.

Nota: Mas antes, no princípio do texto, eu falava em escolhas... que o amor, por exemplo, seria uma escolha. Se existem diversas formas de amor e sendo o amor uma escolha, resta saber no processo evolutivo qual a espécie que melhor se adapta ao "ser" de cada um, ou mais diretamente, às motivações de cada um - e da natureza de cada um. Quanto à minha natureza, ainda estou a tentar perceber a relevância da preguiça, que consideraria "mais fácil" lidar com a ausência absoluta do ser e de vestígios do ser do que com a possibilidade da necessidade de um esforço evolutivo (ou adaptativo).