31 de dez. de 2013

Eu queria ter na vida simplesmente...

34 anos que nos últimos anos, pareceram décadas. Nos últimos três ou quatro anos vivi tanto e tantas coisas, que a definição do que chamamos “tempo” ficou meio que ridícula e absurda...

Lembro-me de Albufeira e meu pensamento se volta para São Joaquim da Barra... O cérebro se revira e volta a Santos, pulando para Silves e Alvor.

Cada lugar uma história, uma vida inteira... E Portimão então?! Não só uma vida, mas o pedaço de uma eternidade, de um próprio pedaço de mim que lá está entre gatos, árvores, horta e cães. Um pedaço tão grande que me faz estar lá, enxergar, ouvir, sentir lá... Minha querida amiga!

Aliás... Para além desse imenso pedaço de mim existem outros... Menores e talvez ainda mais delicados, frágeis...

Um pedaço em Lisboa, terra tão linda! Tão amada, tão querida! Lisboa é, definitivamente, um pedaço de mim. De CCB à Gulbenkian, ao Bairro Alto, Mártires da Pátria ao Rossio, ao Marquês... Um grande pedaço de mim! Talvez também pelos olhos que se tornaram para mim, os olhos de Lisboa... Com a mesma luminosidade e brilho que Lisboa tem quando o sol dorme, com os cabelos lisos e compridos como o vento a soprar pelo Tejo... A voz, o sussurro que mais meus ouvidos esperaram ouvir, a sonoridade da própria Lisboa através do fado ou de uma estonteante guitarra portuguesa... Ah!... Lisboa!!! Ah!... Meu amigo...

Um pedaço lá em Silves... Terra tão distante e tão pertinho... Um mundo com um universo de raiz em mim... O canto dos pássaros, o barulho dos ventos, as estrelas (ah... as estrelas!) daquele céu. O céu da minha alma, o sangue do meu coração. O arrepio e o tremor da minha pele, a vida que as veias conduzem ao meu ser. O barulho ao fechar o portão, a brisa fresca no rosto, a terra firme aos meus pés, as estrelas sobre mim... Minha alma chora emocionada ao constatar: é verdade! É vivi isso! Eu realizei isso! Eu me permiti apenas ser... Em algum lugar, tão longe e tão perto, esse mundo existe, persiste, sobrevive, vive dentro de mim. Uma espera meio que sempre constante, um paraíso, uma casinha, um refúgio para a felicidade... Um amor para a vida inteira e mais além.
Não dá para não falar das noites... As noites quentes, ferventes de verão e as noites frias, escuras do inverno...

Albufeira... O abandono e o encontro, a chegada e a partida. A solidão... E a tempestade. Albufeira não é um pedaço, é um buraco, é um estupro. É uma violência, uma paixão... Uma loucura insana, uma insanidade louca. Todos os lugares e lugar nenhum, lugar nenhum e todos os lugares. Lá eu cresci. Lá eu aprendi. Lá eu sofri.

Um sofrimento grato, uma melancolia saudável. Vi-me só e tinha o mundo ao meu redor. Tinha o mundo ao meu redor e me senti... Só... Amigos que foram mais que amigos, deram a força para continuar. Deram a vida que tinham nas veias, para que as veias continuassem a pulsar. Das personagens clássicas às anônimas, às ocultas, às do holofote. Mandinho e seus cães... Como vão vocês? Saudades de Albufeira... Das paisagens e das rochas, das pessoas e dos barulhos, das sombras e dos silêncios.

Pedaços de mim por diversos lugares, pedaços de mim que levo comigo e que ficaram espalhados, dividindo-me ao meio.

Olhar onde estou agora, como se eu estivesse a resgatar pedaços ainda mais distantes de uma vida que já foi há muito tempo atrás, como se o tempo que distanciasse as histórias tivesse o poder de juntá-las todas em um determinado espaço – o espaço em que vivo agora.

Vejo-me por aqui ainda criança, as aventuras, alegrias e tristezas. Um lugar de onde saem as raízes e as árvores, onde a Terra para de girar um pouco para que possa ser tomado novo fôlego.

O ano novo não é hoje, foi quando voltei. Para me despedir dos anos velhos, para abrir espaço para os novos anos.

2014 e eu não sei se terei comigo todos esses pedaços reunidos, ou se terei em algum dia. Talvez eu me parta em ainda mais novos pedacinhos, os de pessoas que entraram e vão entrando na minha vida como novos capítulos de novas histórias... Mas espera, espera!!! Tenho ainda tantas histórias que não passei sequer para o papel!!!

Lisboa ainda não foi escrita, mesmo que a história principal tenha encontrado um capítulo novo com mais espaços e parágrafos...

Silves ainda existe e existirá sempre, nem tudo foi escrito... Nem tudo foi vivido ainda...

Albufeira não posso dizer em que ponto está, pode ser escrita, mas ainda não foi...

E Alvor? E Portimão? E Évora? E Monsaraz? E outros pedaços, mais dispersos, como Fátima, Espanha, Figueira da Foz? E Brasil? E São Joaquim da Barra, Cordeirópolis, Santos?

Há muito ainda o que escrever, o que lembrar, o que reviver...

Espaços novos sendo abertos, o universo se multiplicando ao infinito nos pedaços que se despedem e voltam para dentro de mim...


Feliz 2014, com salões mais amplos no peito para guardar mais pedaços, mais vidas, mais amor e compaixão, reter mais lembranças, aumentar mais as esperanças e esperar por mais reencontros.

8 de dez. de 2013

Em Branco

Uma página em branco, como a que tenho na minha frente agora...

Milhares de pensamentos e de palavras, sentimentos que eu queria entender e traduzir para o papel, como tento agora...

Mas o papel é silêncio - não me responde. Não me esclarece.

Sem imagens ou cores, está em branco... são só memórias.

Assim como quando penso ou falo em pensamento com vocês - nem sempre há resposta.

No branco do papel tudo é possível, toda cor cabe, toda palavra pode ser escrita... mas a base é o branco. O cheio ou o vazio, depende do sentimento do instante.

Só o que não vejo ser totalmente possível nesse branco é o teletransporte... aquele que seria real e verdadeiro, que faz os olhares de cruzarem, as mãos se entrelaçarem, o abraço aquecer.

De certa forma, vejo o relógio correr para trás enquanto minhas pernas seguem no caminho para frente.

Meu coração (tão insano!) se conforta com a certeza da necessidade de eu estar aqui: ver, ouvir e abraçar os meus. Também e não menos importante, estabelecer as formas de meu relacionamento e amor com quem me rodeia.

Estou vendo e participando de evoluções importantes, a conquista e a realização de sonhos e a suada e batalhada liberdade acontecendo.

Olho com olhos de abraço outras gerações, a brigar contra as correntes invisíveis deles mesmos, a tentar abrir caminho por uma estrada já aberta - onde o que se faz necessário é apenas o ir... o que me lembra muito eu mesma.

Vivo os dias com a comunhão entre a paz e o desespero, a felicidade e a aflição.

Sei o quanto devo, por mim mesma, estar aqui e o quanto é certo este estar.

Algumas peças ainda parecem precisar tomar forma mais definida, mas não há pressa.

Não compreendo ainda muito bem alguns papéis na minha história presente, mas parece certo que tudo logo irá fazer sentido - mesmo o que ainda não faz.

Das coisas que lamento, a maior e talvez a única seja a distância. Esse oceano imenso que mostra toda a sua fúria através da própria imensidão que possui. Se fosse um riacho apenas (e com uma ponte a atravessá-lo), seria manso...

Talvez assim, a própria vida também fosse.

6 de dez. de 2013

Somas

"Somos somatórias. Somatórias de nossos medos 
de nossos sonhos, de nossos pensamentos e de nossas atitudes. Somos somatória do que vivemos e somatória do que nos rodeia. As escolhas do que somamos é, em grande parte, de nós mesmos. Seja nossa alegria, seja nossa dor." Agape

18 de jul. de 2013

Coelhinhos









Até que para um ser tão pequenininho, ela andou bastante, explorou os caminhos que apareceram e ainda criou alguns outros quantos, se aventurando como fazem os coelhinhos quando saem da toca para conhecer as redondezas.

Teria andado mais, teria feito caminhos novos e quem sabe teria até criado alguns, de acordo com as asas da imaginação que tinha. Para uma coelhinha, ela até tinha uma grande imaginação.

Quando parou, não foi porque a imaginação havia acabado, ou por causa das perninhas curtas ou cansadas. Quando ela parou, não foi porque faltava força nas pernas traseiras para o impulso dos saltos, nem porque apareceram cercados ou abismos. Foi o medo.

Medo que ela sabia muito bem que era o maior inimigo de todos os coelhos, o medo que paralisa quando deveria impulsionar adiante. Mas esse medo que a fez parar era diferente.

Ela não tinha medo dos buracos, ou dos lobos e raposas, ou de algum outro predador qualquer. Também não tinha medo de se perder (já dizia uma grande escritora que perder-se era também um caminho).

Esse medo era outro. Era o medo de que não compreendessem.

Não era um problema os possíveis buracos, abismos, predadores, machucados ou perigos.

É muito mais fácil não termos medo por nós, mas o medo pelos outros. Quando digo os outros, falo daqueles que são os importantes, os principais, os maiores.

Para ela o importante era o caminho, não faziam mal os tropeços ou possíveis consequências. Mas para os outros isso poderia ser importante.

Se o buraco fosse muito fundo, ou se o pior pudesse acontecer, estaria tudo bem para ela – mas estaria para aqueles que a tinham como um dos mais importantes?

Quando, feito o coelho que era, ela foi procurar conhecer o que havia para além do conhecido foi o instinto, a vontade, o desejo de ver o que outros coelhos talvez não tivessem nunca visto ou vivido. Mas era também uma coisa egoísta.

Ela teria histórias, teria vivido uma porção de coisas, aventuras, experiências. Teria vivido uma vida rica, dessas que valem mesmo a pena viver – principalmente para um coelho.

Mas quando chegasse às pessoas importantes alguma notícia menos boa, ou mesmo ruim, iriam eles ter a mesma certeza que ela tinha de que valia a pena, de que teria valido a pena?

Entre os saltinhos de um coelho livre e contente ela pensou sobre isso, e teve medo, e parou. Aquele medo típico dos coelhos ao ver uma serpente – aquele medo que paralisa.

Então ela também pensou na situação oposta... saberia ela entender que os riscos e perigos que cercam aquelas pessoas importantes também fazem parte da vida, e saberia ela compreender e aceitar as escolhas que levariam à possíveis buracos e perigos para essas pessoas?

Teria ela a mesma consciência e certeza que ela esperaria que tivessem caso fosse ela a cair em algum buraco perigoso?

Era muito mais simples e mais fácil percorrer o mundo inteiro, aceitando seus perigos e riscos quando fosse ela mesma a arriscar. Quando os riscos eram para aqueles que viviam no pequeno coração de coelho dela, a história nem sempre era tão fácil ou tão simples...

Foi então que ela percebeu. Já não era mais uma coelhinha explorando o mundo fora da toca, era uma coelha já grande, crescida, e responsável por cada escolha, caminho, perigo ou risco que houvesse.

Aquele medo paralisante ainda estava ali, mas já não paralisava mais – era possível olhar nos olhos da serpente e escolher ficar parada, lutar ou fugir. Qualquer escolha valia, qualquer atitude era acertada. Só uma coisa era importante – mais importante naquele instante que qualquer outra:

Que as pessoas importantes soubessem que os riscos assumidos valeram a pena, valiam a pena e continuariam a valer – eram caminhos (e não existem caminhos errados, todos mostram paisagens e trazem as experiências que foram procuradas). Era importante que as pessoas importantes soubessem que tudo valera a pena. Era importante que ela também carregasse essa certeza em relação às pessoas importantes.

O respeito absoluto pelas escolhas alheias, a aceitação incondicional sobre a verdade que cada um carrega e escolhe lá dentro de si – essa era a grande diferença entre a coelhinha que saiu da toca e a coelha de agora... o aprendizado do que é (e deveria ter sido sempre) o amor.

22 de mai. de 2013

Há dias...



Há dias (e noites) assim... em que tento recriar no pensamento o cenário perfeito, a memória perfeita do sentir-se segura, sentir-se em paz e em conformidade com a vida.

Dias em que, ainda que pareça estar tudo sem sentido, procuro a solidez e o sossego de alguma lembrança para recordar a sensação de estar tudo bem.

Noites em que o sono não vem, e ao fechar os olhos o que vejo são pessoas, situações e imagens que já não existem mais.

Quando quero, em meus pensamentos, retornar ao que era certo, seguro, pacífico, os sonhos se dissolvem, o sono se retira, fica o pensar e o esforço em lembrar, revirando páginas, imagens e escombros nas prateleiras do que lembro.

Quando consigo voltar (e parece que cada vez o caminho de voltar é mais comprido e longe) e resgato o sentimento de coração em paz, penso em quanto tempo se passou, quantos anos, ilusões e enganos cobriram aquele tempo, e então o sono se vai de vez.

Ficam os fantasmas a mostrar quantas águas passaram, e o quanto dessa água nem sequer era límpida. 

Ficam as sombras e as sobras, e os restos que carrego em mim do barro com que moldei as frágeis lembranças.

Há dias e noites assim... em que súbito vem o desejo de lembrar e depois a certeza de que as lembranças são mais sentimentos que verdades.

Há dias e noites assim, que trazem novas manhãs, novas necessidades de abrir os olhos e seguir adiante, pisando nesse barro frágil e já muito usado, fazendo o melhor e o possível para moldar novas formas.

Há dias em que sou restos e farrapos de quem eu antes fui.

13 de mai. de 2013

Primavera



É assim... caminha-se um longo caminho, fazem-se as mais arriscadas escaladas, arranham-se e dobram-se os joelhos... vem o cansaço e a exaustão, e fica difícil ver a possibilidade do amanhã chegar em um dia de sol e sossego. Mas o dia chega.

Os joelhos se curam, as pernas suportam, a mente relaxa. O sol nasce. Quantas viagens, quantas paisagens, quantos caminhos foram feitos? Quantas e quantas histórias para relembrar, para contar...

Mas um dia, o dia nasce diferente. Nasce repleto de possibilidades, e as conquistas obtidas são vistas, assimiladas, digeridas.

Nasce outra vez o sossego e a certeza de tudo estar bem, de tudo estar certo. De ter valido a pena e ter chegado a um fim para que outro novo começo possa surgir.

Hoje deposito as armas da luta ao chão sem derrota e sem alarde, mas com o sentimento de gratidão pela batalha ter acontecido e por todos terem sobrevivido. Uma trajetória cumprida, um sonho realizado, uma experiência adquirida.

Chega o tempo de outros planos, chega a vontade de parar de escalar e escolher um caminho plano, com rios e árvores para apreciar. E deixa de ser tão importante se os passos terão companhia de outros passos, pois somos todos observadores daqueles a quem amamos sem a necessidade de trilharmos as mesmas trilhas para aprendermos a partilhá-las.

Chega um novo tempo. Um tempo mais pleno, um tempo que escolho. Chegou o meu tempo. Mais uma casca rompida, mais uma semente a brotar.

Chegou a primavera em mim. E a aceito... assim, floresço.

Bom dia!

5 de mai. de 2013

Vai...



Vai...

Vai, e deixa ele em paz... não faz mal se dói ou se é triste,
Que o que é mais triste é a tristeza que é sua.

Vai, e não deixa mais que ele sofra
O sofrimento que é só seu.

Então que o tempo passe,
Para mostrar que a solidão é o caminho
Sem impor solidão a ninguém mais.

Vai, deixa que os vôos aconteçam
E a felicidade alcance quem a procura.

Vai, e se cerca das suas paredes e muralhas,
Onde o sol que brilha é único
E ninguém mais pode entrar.

Por quê tentar o que não se quer,
Quando não se quer dividir tudo (vida)
E dividir mais ou menos é ilusão?

Vai... e deixa-o ir
Para ser feliz,
Na felicidade que não sabes.