28 de set. de 2015

Escrever

Escrevo... Não sei por quê.
Não há um objetivo, além do de saciar a necessidade que grita.
Não há uma razão. Não havia.
Até que houvesse um início, anos atrás. Sem pretensão, sem grandes pensamentos. E depois o sonho, o desejo de continuar o que se tinha interrompido. Eram personagens a gritar.
Gritaram alto, tão alto, que me calaram a voz.
Tomaram formas inesperadas, surpreenderam-me nas atitudes e escolhas, na autonomia que adquiriram.
Eu decidia e criava-lhes um caminho, mas tomavam outro... Desafiaram-me, rebelaram-se, desobedeceram aos planos que lhes tinha feito. E talvez sejam mais felizes assim, independentes de mim e da minha vontade.
Descobri um universo desconhecido. O universo deles. Não tenho direito à voz ou opinião, eles decidem sozinhos. Apaixonei-me. Zanguei-me. Tentei matar um e depois o outro. Acabei por não matar ninguém... ressussitaram das próprias cinzas, tornaram-se maiores, muito maiores do que eu.
Começam a surgir desfechos, escolhas, decisões - onde não tenho qualquer participação, apenas relato.
Eu, que pensei escrever, não crio... relato às histórias que eles contam-me ao pé do ouvido. Se passaram 252 páginas... em letra pequena, espaçamento simples. Algumas mais ainda hão de vir.
Tornei-me expectadora da história que criei.