29 de mar. de 2013

"Términos são como cirurgias. Pode não dar muito certo, dá medo, dúvida, dói - mas depois cicatriza" Agape

14 de mar. de 2013

Bom dia!



Hoje, não sei por que, como se eu estivesse sentada na mesa da cozinha, nas cadeiras de ferro que as vezes tem o acento caindo para um ou para outro lado.

Como se eu tivesse acordado agora pouco, e o cheiro de café já chegasse ao corredor, chamando-me pelo olfato para sentar e acordar sem pressa.

Esperar pelos barulhos conhecidos dos latidos, dos passarinhos, e quem sabe até de alguma brisa que chega fazendo balançar os galhos das árvores ali perto.

Escutar alguns passos vindos do corredor, até que ao mesmo tempo que o som chega aos meus ouvidos, chega também aos ouvidos caninos espalhados pelo chão da cozinha, fazendo-os todos levantar juntos, como num coro já afinado, e irem de encontro à porta para saltar e saldar o mais novo acordado da casa.

Partir o pão, colocar açúcar na xícara, segurar a garrafa de café tentando medir seu peso e assim avaliar quantas xícaras mais terão ali dentro, pequenos rituais que sei, não faz mal quantos dias, semanas ou meses se tenham passado, tudo ainda persiste e existe ao longe.

Esperar entre um gole e outro enquanto se forma o pensamento sobre o que colocar entre as metades do pão recém cortado... queijo? Presunto? Manteiga? Geléia?

Esperar entre respirações e pensamentos, imaginações, cumprimentos, conversas e risadas o desenrolar da manhã, que se fará tarde, que se fará noite.

A calma do relógio que bate, como que a espera e ao mesmo tempo sem espera ou pressa alguma. O passar dos minutos, os barulhos se intensificando e o dia avançando.

Cheiro de café, pois é necessária mais uma garrafa enquanto mais e mais pessoas chegam para saudar o dia.

Há quanto tempo foi o último café? Haverá em algum canto da mesa uma xícara de café já muito frio, como havia a xícara de manteiga na varanda em “Sete anos no Tibet”?

Talvez não exista a xícara, nem necessidade da manteiga ou do café, uma vez que justo agora, mesmo agora, posso sentir o cheiro do café na nova garrafa, e escutar os pássaros que cantam nas árvores ali ao lado... ouvir passos vindos do corredor, e junto com os cães, aguçar os ouvidos para saudar alguém que vai surgir atrás do ranger da porta e dos saltos caninos: Bom dia!

Só opiniões...



Hoje uma das gaivotas que costuma sempre vir saudar meu dia ficou especialmente perto, especialmente em silêncio, especialmente sem estar a espera de nenhuma comida (depois da barriga cheia), apenas atenta a me observar em cada movimento, como se eu fosse o animal preso e ela, livre...

(... e não sou? E não é ela o ser livre?)

Enfim, enquanto a observava me observar, me pus a imaginar... E se...

E se ela pudesse voar longe, mesmo bem longe, e encontrar as pessoas que aqui não encontro, e se pudessem falar e conversar...

E se ela fosse dizer sobre o que viu e que vê aqui, todos os dias, dia após dia... O que ela diria?
E se agora ela pudesse me ler os pensamentos, eu estaria a dizer que se ela pudesse voar tanto, e tão alto, e tão longe...

Poderia ela dizer e contar não o que eu digo, não o que eu gostaria que ela dissesse e contasse, mas simplesmente o que ela viu, e vê... o que ela diria?

Se ela, que vem me saudar todos os dias, por horas e horas a observar... o que ela vê? Como ela enxerga o que eu vejo? Enxerga ela o que eu penso, ou enxerga ela o que eu faço? Aquilo que eu penso, aquilo que eu digo, é realmente assim, como é aos meus olhos, aos olhos dela?

O que eu digo e penso ser bom, é realmente bom aos olhos dela? E se...

E se ela puder me entender, entende que eu quero que ela diga só o que vê? Não o que pensa, não o que digo, mas apenas e sem tomar partidos, aquilo que vê?

Pode alguém se colocar tão “à parte” a ponto de relatar fatos, e não opiniões? Alguem imune o bastante às próprias interferências de opinião?

E se as pessoas não podem, podem então as gaivotas?

E se assim fosse... gaivota que ainda agora me observa... e se você pudesse mesmo voar tão alto, e tão longe... você diria apenas o que vê? E se pudesse, o que você vê? ... É bom?

E se me pudesse responder... quando você assim fica a me observar... quando olhas para mim, o que vê você?

(Procuro eu com a resposta da gaivota fatos que já conheço ou afinal a opinião dela?)