22 de fev. de 2016

Lisboa


Fecho os olhos enquanto caminho... Lisboa, ah Lisboa! Como é que me tens tanto...
Quanto mais caminho, mais quero levar minhas pernas à exaustão, como se o tempo estivesse sempre a correr contra nós... como se houvesse pressa e urgência em percorrer cada canto e recanto dessas ruas estreitas e das avenidas largas... Deixo-me guiar pela idéia de um destino, mas sinto-me livre o bastante para deixar que me guies à mim, seja lá para onde for... Penso no Camões, vou parar na Gulbenkian sem querer... e tudo é lindo e cheio de sentido, não faz mal se não fui dar aonde eu queria... fui parar onde quiseste que eu fosse.
Por que, Lisboa, por quê?
Caminho e pareço querer engolir-te com meus passos, enquanto és tu que engoles à mim...
Paro numa esplanada, peço um café e tudo que quero é chorar a saudade que me dás. Saudade de não sei o quê! Saudade de não sei quando...
Sou um fantasma pelas ruas de Lisboa... Lisboa é um fantasma dentro de mim...

21 de fev. de 2016

Diferenças

Há pessoas de sonhos e há pessoas de atitudes. Há pessoas de palavras, e há pessoas de ação.
Dizem que "cão que ladra não morde", penso que o mesmo se aplica as pessoas, ao menos de alguma forma.
Há quem se contente com a ilusão, com o mundo idealizado, com a própria imaginação  (limitada). Para ir além do possível, há que se abrir para o que se desconhece, para o que ainda não se imaginou.
Há quem viva em constante procura e insatisfação, e há quem se faça encontrar.
Há quem finja que faz, quem se rodeia de justificativas e espera que o milagre bata à porta. E há tambem quem não se contente com desculpas e escale os obstáculos pelo simples prazer da escalada e da visão que se tem do outro lado.
A vida não "acontece", faz-se. E cada um, faz a própria escolha de como a faz (ou deixa de fazer).
Há gente de todo o tipo...
Um brinde aos que fazem!

17 de fev. de 2016

Vazio

Há que se ter olhos atentos para apreciar o vazio. Perceber na quietude o espaço que tudo contém. Pouco a pouco a solidão não existe, e abre espaço para que o infitino de possibilidades emerja. Os hábitos ditam e regram a vida. Espaços vazios são tomados por liberdade - e tudo cabe no ser que se liberta.
A rotina que não se faz transforma-se em possibilidades várias. O permitir-se dá o gosto e o tom para o ambiente ser o que quer que se deseje fazer dele. A ignorância que antes se fazia bênção faz-se agora equívoco passado.
Deixam de haver respostas quando as perguntas guardam silêncio, e faz-se possível apreciar a simplicidade da vida e dos pequenos pormenores.
O vinho passa a ter o mesmo sabor seja sorvido no resguardo ou na companhia. A arte preeche quaisquer espaços que porventura se façam ainda necessários de preenchimento.
Os séculos de história acompanham qualquer um que caminhe e que se faça vivo, o que não falta são multidões.
As lembranças guardadas e o amor terno mantém os pés no sitio, enquanto que a alma faz-se livre para voar - ou ficar - tanto faz.
Não há urgência e todos os sentimentos do mundo repousam em equilíbrio, serenos.
O vazio faz-se preenchido por ele mesmo, e torna-se suficiente, faz-se dele... prazer.

10 de fev. de 2016

Tudo a seu tempo

Existe uma ausência que é leve, doce... a ausência do querer, a ausência dos planos, a ausência que traduz o ser satisfeito.
Satisfeito com a vida e com o que ela proporciona, com quaisquer resultados e acontecimentos que venham ou que deixem de vir.
Todos os caminhos antes percorridos trouxeram-me aqui. Não é o sítio, não é a cidade... é o estado de espírito. Peças que se unem em um puzzle que se faz completo, abre uma paisagem infinita e de infinitas possibilidades – tanto faz se alguma delas se fará vivida ou não.
Nunca houve destino, nunca houve o lugar para se chegar – mas só agora percebo que nunca houve e que igualmente, também nunca importou. Sem qualquer desejo de chegar a lugar algum, sem qualquer vontade de conquistar coisa alguma... apenas a trajetória – a vida!
Não são objectivos... não há objectivos pra além dos caminhos que conduzem à cada um deles...
Leveza... paz... mas não uma leveza indiferente. Uma leveza plena, feliz, realizada.

Demorei... demorei à chegar e foi um trajeto tortuoso. Se permaneço por muito tempo ou não, também não sei... Mas cheguei aonde queria. Cheguei em mim! E afinal, a felicidade existe. E sempre esteve cá.

2 de fev. de 2016

Oscilação

Vem assim, do nada, e me assombra. Um lampejo de consciência que desnuda o velho do novo, o ontem do agora. Sem qualquer comparação, apenas uma luz sobre as escolhas feitas, os caminhos tomados, os resultados obtidos.
Tornei-me quem eu era, sequestrei de mim quem eu havia sido. Eu não saberia escolher diferente, eu não saberia ter sido outra, ou ser agora. Tive a sorte da consciência presente enquanto houve o presente que foi vivido, penso ter a sorte de sabê-la (consciência) no presente de agora, com todas as incertezas que poderão vir do amanhã.
Estranho não sentir o aperto de saudade no peito quando penso na terra, no chão que pequena, jurei nunca deixar. Parece outra vida... O aperto que vem é da saudade de quem ficou, dos risos, dos abraços, dos colos e dos momentos partilhados, da família que anda comigo mesmo quando ando sozinha. Tão longe...
Não sei quem me tornei, sei apenas que me fiz. Não sei até onde a transformação que sofro será ainda transformada, custou-me chegar à suficiência e custa-me ainda mais que assim não seja. São nos sonhos que permito perder-me, tirar os pés do chão, voar... e voo alto, voo longe, perco de vista qualquer sinal de terra, mas de olhos fechados. Com os olhos abertos, preciso ver e busco enxergar até o se faz invisível.

Antes, fui feita de sonhos. Hoje, sou só feita de mim.