30 de set. de 2010

Desabafo - Caminhante

Caminhante: NÃO HÁ CAMINHO! O caminho faz-se ao caminhar...
Pobre de nós, que aceitamos a realidade que nos ensinaram. Pobres das pequenas crianças que se deitam a noite para dormir com o estômago resmungando de fome e sonham com as histórias encantadas que viram nas figuras de algum livro ou com os romances das novelas. Pobre dos homens que deixam seu suor e muitas vezes seu sangue para levar a casa o sustento da família enquanto espera pelo reconhecimento através de milagre por seu esforço. Pobre das mulheres que se dedicam a família renunciando as próprias aspirações e potenciais esperando que com isso ela viva novamente através da vida dos filhos que um dia pôs no mundo. Somos todos eternas crianças, a nos deitar para dormir admirando a lua e sonhando desejos soterrados enquanto nossos estômagos reviram-se vazios. É preciso coragem para abrir os olhos, é preciso renúncia para caminhar sem levarmos às costas cargas que pertencem aos outros e não a nós. Carregamos necessidades que nos ensinaram ter, carregamos frustrações que outros tiveram por nós, carregamos cargas demais, soterramo-nos com pesos desnecessários e procuramos por atalhos para diminuir a carga quando o que falta-nos é a coragem de deitarmos ao chão as coisas que pegamos sem que de fato nos pertencessem. Abandonamos nossa essência para ignorarmos a responsabilidade de nossas próprias escolhas e medos. Apoiamo-nos em desejos camuflados e vivemos projeções de um futuro que jamais esteve sob o controle de nossa vontade, mas apenas e unicamente dependente das atitudes presentes que tomamos. Perdemo-nos de nós mesmos com extrema facilidade, enquanto buscamo-nos desesperadamente nos olhos de outra pessoa. Tornamo-nos poços de justificativas mascaradas acreditando que nossas atitudes têm o poder de modificar as pessoas a nossa volta. Não há quem possa auxiliar outra pessoa senão a própria. Não há amanhã pleno ou satisfeito se não conseguimos trazer para o hoje a plenitude em nossos espíritos. Pobre de nós, que apoiamo-nos em ilusões desejando encontrar nelas a realidade que acreditamos desejar. Pobre de nós, que ao agirmos feito cegos, ensinamos outros a fechar os olhos. Pobre de nós, que dependemos de muletas para darmos nossos próprios passos. Não há luz sem que haja escuridão, não há verdade sem que haja a mentira. Não há realidade sem que haja fantasia. A arte é o discernimento que optamos por ter ou não. Pobre de nós, que afogamo-nos no amor quando não somos capazes de senti-lo por nós mesmos. Não há o certo sem que haja o errado. Não há julgamento. Há o que somos, o que somos por baixo de nossas vestes e verdades, de nossos sonhos e ilusões, de nossas atitudes e crenças. Não há o certo, não há o justo. Há o que optamos ser. Não há caminho. Caminhante... Caminhe. Caminhante... Não existe a estrada pronta, a escolha acertada, o destino traçado. Caminhante... O caminho só se faz ao caminhá-lo.

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