17 de jun. de 2010

Eu

Essa sou eu, cheia de sonhos e impulsos ainda maiores que meu coração. Sou eu entrando pelo corredor do residencial, batendo nas portas de todos os quartos (sem saber de quem são) chamando todos para uma bagunça. Sou eu, andando pelas ruas de Lisboa com meu velho casaco preto, mãos nos bolsos e fones nos ouvidos. Sou eu, muitas noites tentando ler um livro e esperando que o telefone toque e sabendo que não tocará. Sou eu, querendo esticar os programas combinados para dançar ou beber. Sou eu, muitas vezes entrando em portas desconhecidas esperando por alguma revelação atrás do batente escuro. Eu, querendo ir ao karaoke, querendo dançar, querendo escrever. Eu, muitas vezes deitada em um banco do Gulbenkian só olhando as folhas das árvores acima da minha cabeça, deixando passar uns raios de sol. As vezes, tambem sou eu carregada de uma nostalgia que vem de não sei onde, e que me toma como um oceano em fúria, esperando pelo naufrágio. Tambem sou eu quem acaba as vezes cheia de desconfiança, evitando um contato que se aproxime demais. Tambem sou quem chora, muitas vezes copiosamente, quando escuto a voz de minha mãe, meu pai ou avó. E não é um choro desesperado, é um choro de quem não entende como pode existir essa sensação, como a de uma saudade que nunca será morta, como de uma vida que não existe mais, e que não vai mais existir. Sou tambem aquela que corre atrás dos gatos, e se surpreende quando eles simplesmente seguem seus caminhos. Sou eu. Eu. Feliz, uma felicidade de louco, sem lógica, sem explicação. Um encantamento pela vida, uma vontade constante de rir, uma questão ilógica de não levar nada a sério demais. Eu. E meus sonhos, dúvidas e certezas. Eu. Sozinha. Dona de mim. E sem ter um único lugar em não possa estar, e nenhum lugar em particular que me faça querer ficar. Porque o lar da gente não é um lugar. É aonde está o nosso coração.

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