30 de set. de 2010

VI

Estava pensando no que eu poderia escrever. Tanta coisa existe por aí, tanta informação acessível, tantas culturas, filosofias, religiões e provérbios inteligentes, palavras profundas e frases de efeito. Então me lembrei de algo que me ocorreu a alguns dias atrás, sobre a vida e a morte. É comum as pessoas falarem para aproveitarmos o tempo presente, viver com intensidade o momento que temos agora, plantarmos as sementes para o nosso futuro mas sem esquecermos de viver o hoje. Gostaria de fazer uma reflexão.
Nem sempre a nossa saúde vai bem, nem sempre podemos nos sentir seguros em relação aos anos que teremos pela frente. Podem ser muitos, podem ser poucos, pode nem mesmo chegar a ser um ano completo. Então, se você estivesse numa situação de saúde muito grave, sem muitas esperanças, e se, por acaso, contrariando todas as previsões e diagnósticos, você se recuperasse e pudesse ter mais alguns dias de vida, para quê serviriam esses dias, sabendo você serem os seus últimos? Estar com a família, amores, amigos? Seria mesmo possível se despedir daqueles a quem amamos?
É lindo pensarmos em sempre dizer nossos sentimentos, em sempre cuidarmos de nossos afetos. Mas se você percebe que o seu tempo torna-se subitamente limitado, e que você torna-se apenas você, sabendo que não há quem possa dividir o instante da morte com você, o que fica? Você com você mesmo. E aí eu pergunto... quem é você? Você é o suficiente, você é tudo aquilo que poderia ser?

V

Expectativas & Um coração partido

Nossas expectativas e nosso coração quando se parte. Como lidar com isso? Como encontrar a melhor maneira (para nós) de lidarmos com essa situação? Se nosso coração se partiu, é porque haviam expectativas, é porque algo que desejávamos (esperávamos) não se concretizou. Talvez nem mesmo a gente reconheça com clareza quais eram essas expectativas, mas podemos sentir quando algo se parte dentro de nós. E o que fazer então? Um caminho, e acredito que esse seja um bom caminho, é buscarmos ter o conhecimento de quais eram essas expectativas que não tiveram sucesso, o que realmente desejávamos e esperávamos e não ocorreu. Será que passamos a esperar algo de alguém que não de nós mesmos? E não é isso então uma tolice? Esperar que uma outra pessoa tenha a chave para a nossa própria satisfação e felicidade? Sim, é duro... mas se olharmos com atenção para isso, talvez, no futuro, saibamos enfim encontrar uma maneira de focalizarmos nossas expectativas em nós, nas atitudes que são coerentes para nós e para os nossos sentimentos, aprendendo a respeitar a nós e aos outros e não nos machucarmos demais quando existe uma controvérsia entre a realidade de duas pessoas, e expectativas e desejos diferentes.
Ter expectativas em relação a uma pessoa pode, muitas vezes, nos fazer olhar tanto para essas expectativas, que a realidade e a verdade podem acabar envoltas nessa névoa de nós mesmos. Aí cabe a nós decidir... queremos ter nossos olhos abertos?

IV

Como indivíduos somos únicos, possuímos diferentes prioridades, propósitos e objetivos. Muitas vezes permitimos que a vida nos direcione e esperamos estar no lugar certo, no momento certo, com as pessoas certas. Temos tamanha confiança nisso que muitas vezes deixamos de tomar atitudes e decisões em nome dessa confiança. Até que ponto o nosso amadurecer e nosso crescimento está então em nossas mãos? Será que não depende de nós o quanto lançamos um desafio a nós mesmos para atingirmos estágios mais altos da nossa própria compreensão e evolução?
Se assim for, o lugar certo, a hora certa e as pessoas certas dependem muito mais de nós que da confiança que temos no que chamamos de destino. Muitas vezes é preciso reconhecer que essa confiança acaba sendo utilizada por nós como uma forma de nos mantermos protegidos, em segurança e na chamada nossa "zona de conforto". Não que seja fácil nos olharmos e percebermos que estamos um tanto acomodados quando esperamos mudanças em nossas vidas e deixamos que o tempo e os acontecimentos nos tragam aquilo que desejamos.
Cabe a nós, a cada um de nós, a responsabilidade por aquilo que desejamos. A razão pela qual o lugar e a hora em que nos encontramos hoje estar certa é o fato de que nós, através das escolhas que fizemos, nos trouxemos até aqui. Não existem escolhas certas ou escolhas erradas, desde que elas sejam feitas de acordo com a verdade individual e absoluta que habita em cada um de nós.
Que possamos conhecer e reconhecer a nossa verdade em meio a verdade de outros.

III

A importância que dou a mim mesma significa que sou egoísta? Ou através da importância que me dou estabeleço minha própria competência? Possuímos vontades que não são possíveis de serem realizadas ou depende apenas da força com que reconhecemos essa vontade torná-la realidade um dia?
Se somos únicos, se existe um Deus dentro de cada um de nós, e através deste Deus todos nos conectamos com o universo, como estabelecer um limite para aquilo que podemos?
Se olharmos a história, quantos desbravadores existiram? Quantos feitos inacreditáveis? Será que alguém ousou dizer para um deles que não seria possível? O que nos define como seres humanos não é exatamente a capacidade de realizar feitos? A de cada vez mais estender as barreiras daquilo que podemos para mais alto, a capacidade de adquirirmos mais conhecimento do que aquele já aprendido? Quem vai ousar dizer que existe algo que não posso realizar além de eu mesma? Além das minhas próprias inseguranças e temores? O quanto deixo meu ego direcionar meu caminho?
Muitas vezes quando tememos algo, tememos apenas uma outra coisa. Muito mais difícil de admitirmos para nós mesmos. Quais são os seus medos? Conheço mesmo todos os meus? Ou tenho medo de olhar para eles sem sombra, na completa realidade do que representam? O que representa para nós termos Deus em nossas vidas? O que significa, em nosso íntimo e em nosso coração, acreditarmos em Deus? É uma necessidade? Necessidade de quê?
Quais são os espaços vazios em nossas vidas, e o que utilizamos para preenchê-los?

II

O quanto nossas vidas são guiadas por nós, o quanto de nossas vidas deixamos que sejam guiadas pelo acaso, pelos outros ou pelas circunstâncias que nos cercam? Dessa resposta depende aquilo que desejamos para o nosso futuro. Se hoje deixamos que os acontecimentos nos “levem”, não podemos esperar que o futuro seja aquilo que planejamos, mas sim o que as circunstâncias provocarão.
Existe um ditado que diz “Você faz suas escolhas, suas escolhas fazem você”. Eu ousaria incrementar um pouco, afirmando que não só as escolhas que fazemos nos define como também define aquilo que teremos para o nosso futuro. Nos acomodarmos hoje implica em não podermos criar demasiadas expectativas para o futuro, se ao invés de estarmos criando nosso futuro estivermos apenas deixando que ele aconteça conforme o acaso desejar.
Conforme o tempo vai passando e vamos envelhecendo, muitos de nós perdem a coragem de sonhar. Por que perdemos essa coragem? Será que é pelo fato de muitos sonhos que um dia tivemos simplesmente não se realizaram? E será que esses sonhos por acaso não se realizaram apenas porque optamos por deixá-los esquecidos em alguma gaveta de nosso passado, cedendo espaço para que o acaso nos guiasse? A falta de coragem para sonharmos novamente não é então medo de que não nos empenhemos o bastante? Não é apenas falta de confiança em nós?
Desejo a vocês muitos sonhos, e afirmo que cada um de nós tem a força e a coragem de realizar cada um deles com máximo empenho e vitalidade bem dentro de nós, basta não deixá-los de lado em alguma gaveta esquecida.

Artigos

I

Nestes tempos onde existem tantos conflitos e tanta falta de amor, facilmente aceitamos desculpas e justificativas para aquelas coisas que não vão bem em nossas vidas, ou até que nos trazem alguma infelicidade ou insatisfação. Facilmente podemos acabar por justificar nossos insucessos, tristezas ou frustrações devido a situações que nos acontecem, a pessoas que nos cercam ou até mesmo porque eventualmente “Deus escreve certo por linhas tortas”.
Gostaria que por um momento nos considerássemos como os donos de nossas próprias vidas. Se fizermos isso, poderemos perceber que de fato somos os únicos responsáveis pelas atitudes que tomamos ou que eventualmente deixamos de tomar. Isso nos leva a outra constatação: a realização ou não dos nossos sonhos e desejos tem apenas um responsável: Nós mesmos.
É uma responsabilidade enorme. Sabem aqueles sonhos que tínhamos quando éramos crianças ou adolescentes? A pessoa que somos hoje é fruto da realização e da não realização daqueles sonhos. Não foram as circunstâncias, os pais, irmãos, a falta de dinheiro ou a necessidade de trabalho que nos impediram, mas as escolhas que fizemos. Fazemos escolhas todos os dias, e precisamos estar atentos para as responsabilidades e conseqüências que estas escolhas acarretam.

2 de set. de 2010

Ai!

Ai, ai de mim e de minha vontade de escrever, de dizer.
Os sentimentos que pulsam dentro de mim e que batem mais forte que as batidas do meu próprio coração.
Ai, ai de mim e da minha vontade de sonhar, e de viver, que faz com que não exista nada além da própria vida.
Ai, ai de mim, que vivo mais em mim mesma do que a vida que mesmo existe.
Ai, ai que grito em meu silêncio, que me expresso em voz muda, calada, porque tudo que tenho pra dizer e escrever é grande demais pra caber em qualquer palavra.
Ai, ai de mim, que sei apenas sentir!
E sinto tanto, com tamanha intensidade, que na minha própria vitalidade vivo a morte e renascimento da própria vida.

3 de ago. de 2010

Brincadeira

E nessa ciranda alucinante, de projeções falhadas e expectativas incontidas, podemos mergulhar no eterno e recorrente iludir e desiludir, buscando coisas impossíveis e realizações externas enquanto nos desintegramos por dentro. Mas sim, há que sorrir, e levar na brincadeira o eterno rodopiar a volta da própria cauda, e rir de nossos próprios pensamentos e imaginação. Não há que ser tudo sério, nada tem que ser dramático ou sofrido, nem mesmo o próprio sofrimento. Pode-se sempre escolher enxergar o cômico ao trágico, ainda que de nossa própria tragédia.
Ah, se dói que deixe doer, porque passa, e passa ainda mais rápido quando aprendemos a rir disso. Ah, deixa vir nossas ilusões e projeções, que a vida é feita de instantes e escolhas, e não há que ser pesada por isso.
Nossa mente é apenas a nossa mente, não precisa ser impedimento para que vivamos nossas vidas, não deveria ser.
Take your chances, take your chances.
Don't be afraid, everything will pass.
Choose to be happy, and life will change.
Posso me iludir, posso tropeçar e cair, posso pegar atalhos e caminhos errados, posso fazer escolhas tortas, porque assim se vive, mais do que aprender, assim se vive.
I'm full of life, I'm full of joy. I'm full of myself. And I'm alive. Aliveeeeeee! And everyone should be too :)

11 de jul. de 2010

Quadrados

Somos feios, muito, muito feios. Nossas formas são ponteagudas, afiadas e irregulares. Somos pedras com camadas de ilusões para disfarçar nossa aparência até de nós mesmos. Egoístas e cegos, apalpando e mendigando por quem veja em nós uma beleza que não existe. Somos extremamente iguais, disfarçamos é a nossa superfície.
Amor (paixão) é necessidade. Amor, amor mesmo, é simples, sem nenhum tamanho, sem nada, só é.
E pode não ser nada.
Uma pedra que ama não deixa de ser pedra, reconhece a pedra que é.
E sou pedra.
E quem diz que não é?

7 de jul. de 2010

Historinha

Ninguém vai entender isso, então não se dêem ao trabalho de ler. Escrevo para mim, só para me lembrar disso depois.
Ela era louca.
Acordou numa manhã e foi comprar uma armadura, ela decidiu ir pra guerra. Comprou também uma espada. Brigou com todos para poder ir pra guerra. Aquilo transformou-se num ideal, ela ia e ia vencer todo um exército.
Ia arrancar cabeças e amputar braços e pernas, se veria mergulhada em sangue e conquistaria sozinha a batalha toda. Ninguém poderia detê-la. Pois, não poderiam mesmo, quem detêm um louco???
E ela foi para o campo de batalha, e encontrou cachorros doentes de raiva no caminho, se engalfinhou com eles, desconfio até que pode ter mesmo mordido alguns. Saiu sem um arranhão, até os cães raivosos viam o perigo de enfrentar um louco.
E mantinha a postura de ataque constantemente, pobre de quem se aproximasse! Ela era louca.
Pior ainda. Ela era louca e tinha um objetivo, o que pode ser pior ou mais perigoso que um louco com um propósito? (Saiam da frente se encontrarem alguém assim)
Muita gente bateu palmas a cada corpo que ela deitava ao chão. Era um espetáculo! (Tipo pão e circo ou qualquer coisa assim) Muita gente não conseguia sequer olhar e desviava o rosto. Alguns não sabiam o que pensar.
Mas chegou um dia em que a noite durou tempo demais, e não clareava. E ela, com a armadura cheia de sangue e brandindo a espada na mão, com dores de cansaço e câimbras por todo corpo persistia... Olhava para o céu escuro, estranhava aquilo, mas persistia.
Sem se saber como ou por quê, de repente a noite acabou. Mas não se fez dia. Não era claro nem escuro, não havia Lua ou Sol, não havia nada, nem mesmo o campo de batalha estava mais ali.
Era nada. E era tudo. Era consciência.
Como louca que era, ela viu a existência. Viu o próprio caminho, tanto passado quanto futuro, viu a própria alma e a própria existência. Tomou um susto. Não havia desafio. Não havia guerra. Não havia busca, não havia nada, eram apenas passos, quaisquer passos, em qualquer direção.
Estava tudo certo, estava tudo bem. Não havia luta.
E o objetivo, o propósito, não era sequer um propósito. Era normal também, fazia parte daquela dança enlouquecida, fazia parte como também fazia parte qualquer armadura ou espada que ela decidisse empunhar.
E como louca que era, ela se sentou. E riu. E não era um riso histérico, desesperado. Era cômico! Aquilo era cômico!
Dizem por aí que só os loucos conseguem perceber e se divertir com algo cômico. Pois... ela era louca... e conseguiu.
Também há quem diga que ela nunca foi louca, mas sim que ela conseguia ver o que outros não viam. Nunca fez diferença para ela se ela era louca ou não.
É como quando alguém conta uma história engraçada que só você entende e ri. Faz diferença se alguém mais dá risada? Não... não faz diferença nenhuma, porque você ri. Você percebeu. E o fato de só ter sido você a perceber, torna a história ainda mais cômica. E então você ri ainda com mais vontade.
Ai, ai....
(suspiro)
Rsrsrsrsrs

Pois.

Então sentei. Sem Sol e sem Lua sobre mim ou meus sonhos. Apenas me sentei, e então eu vi. Não foi nenhum relâmpago ou estremecimento de chão, nada demais aconteceu, apenas enxerguei. Sem mistério, sem música de fundo.
Enxerguei e dormi um sono tranqüilo depois de dias de pesadelos. Nenhum furacão, nem redemoinho, nem tempestade. Enxerguei o que esteve na minha frente por tanto tempo e que eu me neguei a ver. Porque não queria ver, porque tinha escolhido pintar as cores por mim mesma ao invés de ver o que estava ali, o que sempre esteve ali.
E assim, percebi que posso tudo o que eu quiser, se eu decidir acreditar no que eu quiser. Mas é muito mais fácil quando não se acredita, exige menos trabalho, menos sacrifício, menos esforço.
Uma longa caminhada, mas agora sentei. Eu poderia exclamar com um ar de decepção “É só isso???”, mas não é nenhuma surpresa... sempre esteve ali, eu que não quis ver.
Não é nada demais, nada de menos. Normal.
Sem fadas e duendes, sem mistérios para serem desvendados.
Pois...
Pois.

1 de jul. de 2010

Freedom

It is very easy to talk about what you want. What we want, what is expected. But there is greater freedom in not wanting. In not wait. In not need. Everybody wants something, wait for something, seek or search for something. When you find in yourself the certainty that things, whether they can be better or not, are fine as they are, you become free. Becomes owner of your own life, and learn how to accept, to simply be.
Everything becomes a gift, or simply a problem that sooner or later will pass. You are not the time you are living. The moment will pass - you don't. You can change, learn, hit, miss.
You can laugh or cry. Another day will come, and will be another day.
More than the situation you live, you're the sum of the choices you make.
If you choose to just be instead of trying to be a necessity, a desire, fear or uncertainty, you're free.
And you became you and not what you live.

É muito fácil falar sobre aquilo que se quer. O que se deseja, o que se espera. Mas a liberdade maior existe no não querer. No não esperar. Em não precisar. Toda gente quer alguma coisa, espera alguma coisa, busca ou procura alguma coisa. Quando você encontra em você mesmo a certeza de que as coisas, independente de poderem ser melhores ou não, estão bem como estão, você torna-se livre. Torna-se dono da própria vida, e aprende a aceitar, a simplesmente ser.
Tudo passa a ser um presente, ou apenas um problema que cedo ou tarde passará. Você não é o momento que vive. O momento passará - você não. Você poderá mudar, aprender, acertar, errar.
Pode rir ou chorar. Outra dia virá, e será outro dia.
Mais do que a situação que você vive, você é a somatória das escolhas que faz.
Se você escolhe apenas ser ao invés de tentar ser uma necessidade, uma vontade, um medo ou uma incerteza, você é livre.
E torna-se você, e não aquilo que vive.

19 de jun. de 2010

"Já tá"

Carência. As vezes tanta, que impede as pessoas de comportamentos “normais”. É triste. Estranho. Faz pensar... sou uma completa estranha para muita gente, qual a necessidade que faz pessoas desconhecidas abrirem seus corações, chorarem suas mágoas e desesperadamente pedirem por conforto para uma estranha? Não é a primeira vez, nem a segunda ou terceira... Mas hoje teve uma diferença, não consegui evitar, ao ouvir mais uma história de desilusão e procura... Separação? Divórcio? Filhos que não compreendem? Mulheres que não se expõe? Tantas personagens, tantas histórias semelhantes... Contei a minha também. Querem que eu dê carinhos e consolos? Como posso??? Dessa vez, falei a sério. Olhe bem para a minha cara! Acha que as desgraças só acontecem com você? Acha que só a sua história é uma desilusão? Me impressiona tremendamente ver homens tão “maduros”, com idades bem maiores que a minha, acharem que posso ser alguma espécie de solução! Ou amiga! Não, não sou! Nem quero ser! Não quero ser amiga de ninguém, dá licença? Tudo bem, escrevo agora porque fico me sentindo um tanto culpada pela minha explosão com um pobre coitado qualquer, mas que sirva então para todos os outros pobres coitados do mundo! O que se passa aqui? Que raio de situação é essa??? Tanta procura por companhia, tanta busca por afeto! Não, não, eu não quero entrar nesse jogo, não faço parte desse esquema, não quero fazer – e não vou! E olha lá, me serviu de lição, de espelho até! Essa não sou eu! NÃO sou! Entrei sem querer nesse comboio desgovernado, olha lá, é minha hora de descer! Não quero nem me atrever a tentar fazer qualquer coisa, essa missão é demais para mim! Acho que estou tão assustada que posso correr por quilômetros a fio sem parar nem pra tomar fôlego, e só correr, correr, fugir disso! Esses não são meus monstros, não são minhas escolhas. As minhas foram muito diferentes de tudo isso... Agora entendo vosso jeito de pensar que cada um tem que carregar os próprios problemas! Claro! Isso pega! É contagioso! E eu acho que eu ainda tenho cura! Porque essa solidão é uma porta que ninguém quer assumidamente fechar, ninguém tem a coragem de pegar no raio da fechadura e fechar a porta! Não serei eu, não mesmo... Caro estranho, desculpe se não pude ajudar, mas não estou aqui para ajudar a mais ninguém, desde que eu consiga ajudar-me a mim estou mais que satisfeita! Que façam dias de sol. Preciso de sol.

17 de jun. de 2010

Eu

Essa sou eu, cheia de sonhos e impulsos ainda maiores que meu coração. Sou eu entrando pelo corredor do residencial, batendo nas portas de todos os quartos (sem saber de quem são) chamando todos para uma bagunça. Sou eu, andando pelas ruas de Lisboa com meu velho casaco preto, mãos nos bolsos e fones nos ouvidos. Sou eu, muitas noites tentando ler um livro e esperando que o telefone toque e sabendo que não tocará. Sou eu, querendo esticar os programas combinados para dançar ou beber. Sou eu, muitas vezes entrando em portas desconhecidas esperando por alguma revelação atrás do batente escuro. Eu, querendo ir ao karaoke, querendo dançar, querendo escrever. Eu, muitas vezes deitada em um banco do Gulbenkian só olhando as folhas das árvores acima da minha cabeça, deixando passar uns raios de sol. As vezes, tambem sou eu carregada de uma nostalgia que vem de não sei onde, e que me toma como um oceano em fúria, esperando pelo naufrágio. Tambem sou eu quem acaba as vezes cheia de desconfiança, evitando um contato que se aproxime demais. Tambem sou quem chora, muitas vezes copiosamente, quando escuto a voz de minha mãe, meu pai ou avó. E não é um choro desesperado, é um choro de quem não entende como pode existir essa sensação, como a de uma saudade que nunca será morta, como de uma vida que não existe mais, e que não vai mais existir. Sou tambem aquela que corre atrás dos gatos, e se surpreende quando eles simplesmente seguem seus caminhos. Sou eu. Eu. Feliz, uma felicidade de louco, sem lógica, sem explicação. Um encantamento pela vida, uma vontade constante de rir, uma questão ilógica de não levar nada a sério demais. Eu. E meus sonhos, dúvidas e certezas. Eu. Sozinha. Dona de mim. E sem ter um único lugar em não possa estar, e nenhum lugar em particular que me faça querer ficar. Porque o lar da gente não é um lugar. É aonde está o nosso coração.

15 de jun. de 2010

Me and myself

And then, I ask myself “Can I do it?” and I get the answer “Yes, will be hard, I know… but I want to do it?” and I get the answer “No, I don’t want to do it”… I ask me again “Do I have to do it?” And I know “Yes, I have to. I have to … ”

11 de jun. de 2010

Um Amor

Alguns amores vem quando somos jovens, quase crianças. Nos enchem de sonhos, nos fazem acreditar na eternidade dos pequenos gestos, nos fazem acreditar que uma pessoa pode significar o mundo, ser perfeita. Nos deitam ao chão quando o amor acaba... Nos mata... Mata uma parte linda em nós, a inocência. Outros amores vêm depois, nunca iguais. Cada um de uma forma, de um jeito especial e nos fazem resgatar pequenos pedaços do primeiro amor que tivemos. Chega o dia em que somos adultos, e que fantasias e emoções nos deixam em dúvida, em conflito com todas as coisas que, à duras penas, aprendemos, tivemos que aprender. E nos vemos frente à uma escolha... Tentar de novo? Nos abrirmos para todas as mágoas que podem vir e nos deitar de novo ao chão? Entregarmos nosso coração já tão machucado de novo? Mas então vemos um olhar, e vem a vontade louca de acreditar mais uma vez, de tentar... Sabemos que não existe perfeição, que como o primeiro amor, nenhum mais haverá. Mas há de haver o último, aquele que nos será o conforto para o cansaço, o porto seguro para os dias de maré violenta. O nosso jeito de pintar a vida com outras cores, outras formas, nossa tentativa de dar uma chance para aqueles velhos sonhos de criança que nunca morrem de vez em nós. Um amor. Que não seja apenas para recordar, mas que seja para tornar a vida mais leve, a alma menos solitária, para trazer esperança para os dias que virão. Um amor. Para que possa se sentir novamente, para que se possa lembrar que ainda estamos vivos.

6 de jun. de 2010

Sem bobagem

Um dia. Depois outro dia. E mais alguns. E é assim, dias seguidos de dias, quanto menos bobagem, melhor. Não há necessidade de mais. Não quero mais. Não quero nada, só assim, o seguir dos dias, e a minha certeza de que vou fazer o melhor. Sem embrutecer, sem perder a ternura, que eu não esqueça de como sorrir, mesmo que chore. Outro dia há de vir.

4 de jun. de 2010

Almas Inquietas

Eu vi os olhares pelas ruas, vi a inquietação nos gestos. Vi aquele que regressava à casa, para a família, esposa e os filhos e se perguntava se a vida era só aquilo, se questionava como preencher o imenso vazio que cobria seu peito. Eu vi a menina de mãos dadas com o namorado e o seu olhar de cobiça para o rapaz bem apanhado que entrava distraído. Eu vi a velha senhora que folheava um livro qualquer se perder em pensamentos de como era absurdo o comportamento do filho, que só fazia escolhas erradas na vida. Vi os olhos do velho recuarem no passado para relembrar o amor ausente, que ele não soube manter. Eu vi as almas inquietas, insatisfeitas, a procura de consolo em qualquer lugar que não neles mesmos. Eu vi a mulher batalhadora sem perguntas no olhar, apenas indo para mais um dia de trabalho buscar o sustento dos filhos ainda pequenos, ali não havia tempo para pensar, mas haverá. Eu vi as crianças brincando querendo os brinquedos umas das outras. Eu vi o tempo passando. Vi meus pés cheios de bolhas, senti o peso das minhas costas e me dei conta dos meus cabelos brancos. Eu vi uma menina se esconder atrás de grossos óculos e do cabelo despenteado, puxado para a frente do rosto, as roupas largas e sóbrias, o sorriso medroso e as pernas inseguras, esperando pelo milagre ali, sentado ao lado dela sem que ela percebesse. Eu vi o olhar carinhoso do pedinte de esmolas ao olhar para o cão ao seu lado. Eu vi o tempo voar, eu vi minhas escolhas e chances me passarem pelas mãos sem tentar sequer tocá-las. Eu vi a noite cair, o mar se revoltar, ouvi os sons das ondas batendo nas rochas. Eu vi o morto descer em seu caixão para dentro da terra, já não havia inquietação em seu olhar. Vi os amigos irem aos copos e esquecerem-se da vida, por instantes, apenas estando ali, até a hora de cada um seguir seu caminho, todos eles sem vontade de ir. Vi nascer e morrer o amor dos amantes. Vi o tempo passar. Soube da notícia antes de recebê-la, conheci a história sem ver o livro, escolhi não ler. Eu vi os olhares pelas ruas, vi as almas inquietas. Reconhecemo-nos, por instantes, olhamo-nos nos olhos, e seguimos nossos caminhos.

1 de jun. de 2010

Seleção

Seletividade. Não sei se essa palavra existe. Se não, deveria existir. Que a menina que um dia eu fui me perdoe, mas sou seletiva. Prefiro as noites vazias, o som do silêncio a minha volta do que substituir com algo qualquer. Prefiro o escuro, prefiro a solidão do que tentar fechar um buraco que não será tapado. A gente aprende, a gente cresce. A gente não se contenta mais com pouco, com qualquer coisa. Tem que ser aquilo, ou que não seja nada. Nem todas as pessoas são substituíveis, nem tudo se remenda de qualquer jeito. As vezes, deixar o buraco é melhor do que tapá-lo com qualquer areia. Escolho o buraco... que a areia qualquer me desculpe. Não estou disponível, não estou acessível, não estou aberta. Se a vida é dura, que assim seja. Se sonhos não se tornam realidade, que assim seja. Se nem toda luta termina em vitória, só peço sabedoria e humildade para reconhecer a derrota. Sei curvar os joelhos. Se eu não puder bastar para mim mesma, ninguém mais poderá. Peço apenas força para enfrentar os dias, para suportar as noites. Sem muletas, sem dependências. Se ainda balançam minhas pernas, se ainda tropeço e perco o equilíbrio, hei de aprender a andar por mim mesma um dia.