É... afinal ocupaste um espaço que ainda tento, desenfreada e continuamente, tentar ocupar.
Eu, que sabia tanta coisa, ou que pensava que sabia, afinal nem vi, nem percebi, nem me dei conta de que são precisos todos os pilares equilibrados para sustentar qualquer estrutura, inclusive a minha.
Eu, que achava que podia tudo e qualquer coisa, esqueci-me de olhar que um pilar à menos é um buraco constantemente vazio, não importa o quanto eu tente fortalecer os pilares restantes. E olha, eu bem tento!
Não é fácil finalmente parar para olhar e tomar consciência da perna que me falta. Pois falta. E não há muleta em seu lugar, nem cajado, nem nada - apenas mesmo a ausência da perna, o buraco vazio onde ela deveria estar. Eu jamais me contentaria com qualquer coisa que fosse menos ou menor que a minha própria perna...
Fortaleço (ou tento) ao máximo a perna que tenho, deformo-a, crio um monstro - há que compensar o buraco vazio. E sigo aos saltos em uma perna só, com toda a força de uma raça obstinada e implacável, à toda velocidade, em todas as direcções possíveis que me aparecem pela frente - mas nunca sem sequer olhar para qualquer substituto possível à perna que me falta. Se ela não existe, que não existam também substituições hipócritas - vou sem ela!
Às vezes pergunto-me se, na minha pressa, poderia eu atropelar a minha própria perna ausente e nem perceber, mas tão pouco posso parar para olhar - há que seguir.
Porque já não é possível parar para sentir a falta, a dor, da perna que não há - esse tempo de sentir e de parar, já foi. Já parei. Já senti. Há que seguir.
Seguir como segui todas e tantas vezes, a cada uma, conquistando sonhos que não imaginei, horizontes que não sonhei, propósitos que não tinha. Assim, fiz-me eu, mais conquistadora de sonhos do que eu teria sonhado, de mais horizontes que eu teria imaginado e tenho hoje mais propósitos do que eu teria um dia pensado.
Tornei-me mais e tornei-me melhor, porque carrego e tento compensar um buraco.
Se não houvesse buraco, seria eu, eu mesma? (Penso que não)
Então, ao invés de amar quem um dia foi, passo a amar o buraco que agora é, e que por fim, faz-me ser mais completa e inteira do que jamais fui.
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