30 de jul. de 2017

30 Julho, 2010 - Ilusões

30 de Julho de 2010, Ilusões:
Eu queria me agarrar em ilusões, com toda a força que posso concentrar nas minhas mãos. Queria usar cada centímetro dos meus músculos para agarrar ilusões de tal forma que nunca pudessem se transformar ou partir.
Queria escolher a minha realidade, desenhá-la à minha maneira com as cores que eu escolhesse, sem temer que um dia o desenho torne-se borrado ou nebuloso.
Pois existe muito mais encanto e fascínio no mundo que nossa mente pode produzir do que existe muitas vezes naquilo que de fato está a nossa volta. É muito mais fácil viver de sonhos, de ilusões e das expectativas que nosso coração pode criar do que naquilo que nossos olhos muitas vezes não querem enxergar.
Fomos criados assim, em meio a contos de fadas, a histórias de finais felizes e príncipes encantados. Somos como eternas crianças tentando abandonar a primeira infância, temendo pelas coisas que vemos ruir a nossa volta, à percepção de que nossos pais não são súper heróis e de que não somos capazes de voar.
Em algum momento foi implantada em nós a vontade de voar, de ter asas e de alcansar o céu. Uma parte de nós, por mais que o tempo passe e que creçamos, ainda acredita nessa capacidade. Precisa acreditar, senão o mundo torna-se cinzendo, duro, feito de concreto e asfalto.
Nem tudo aquilo que se quer é possível de ser conquistado, nem todos os sonhos são realizáveis, e nada tem a ver com a nossa força, coragem ou capacidade. Está muito mais relacionado com a realidade dos fatos.
Pessoas que gostamos ou amamos (ou pessoas que gostaríamos de gostar e amar) não são perfeitas, não possuem o dom de transformar as nossas vidas e nos devolver a capacidade de acreditarmos nas coisas que gostaríamos. Somos nós, sempre nós mesmos, os únicos capazes de transformar qualquer coisa em nós ou em nossa vida. Mas continuamos a teimar em encontrar alguem capaz de fazer isso por nós, ou alguém que nos sirva como alavanca para as transformações que precisamos em nós.
Quando caem essas projeções, crenças, nos vemos sozinhos novamente, e iniciamos novamente a procura por outra alternativa. Um ciclo constante de procura, desejos, ilusões e decepções. Ninguém é capaz de nos decepcionar, são apenas as nossas idéias e projeções que caem por terra. E como nos livrarmos dessas projeções, desses desejos, desses sonhos, se esta é a natureza do nosso ser?
Nenhum amigo, pai, mãe, ou seja quem for é capaz de nos desiludir, de nos decepcionar. É a idéia que fazemos daquela pessoa que se desfaz, que se desmancha em frente aos nossos olhos como pequenos castelos feitos na areia quando vem a água do mar.
Por isso é tão importante a compaixão, a compreenção, o perdão e a aceitação. Somos todos feitos da mesma matéria de desejos e sonhos. Somos todos frágeis, lutando nossas próprias batalhas, ora perdendo, ora conquistando.
Ver a fragilidade, fraqueza e defeitos de outra pessoa pode nos fazer escolher desencantarmo-nos com ela ou sermos tomados por uma imensa onda de compaixão e respeito, pois é através de outra pessoa que podemos ver a nós mesmos. Essa é a verdadeira essência do perdão e do amor.
Não importa quais sejam as fraquezas ou defeitos, não importam quão feios nos pareçam, pois somos feitos todos da mesma matéria. Uma massa de argila que cada um, ao longo da vida, procura moldar da melhor maneira possível, somos todos nós os escultores de nosso próprio ser, e podemos a todo instante escolher a forma com que vamos nos moldar.
Nesse percurso, cada um faz a melhor escultura possível, aquela que lhe parece a mais delicada e bonita ou aquela que parece a mais resistente e impactante, é a arte de viver.
Agape - Desassossego

24 de jul. de 2017

Será que aceito?

Enquanto espero, tomo um gelado na esplanada e fico a observar as pessoas em contínuo movimento, algumas a sair da praia (a maioria) e outras a trabalhar. Escuto indistintamente as conversas à minha volta e reparo nas expressões em seus rostos.
Não pertenço à nada disto, é um facto. Quanto tempo mais levarei para aceitar isso, não sei.
Não pertenço à este ritmo, à estes valores, à estes interesses e cotentamentos.
Pela primeira vez, tomo real consciência do quanto estou distante disto tudo. Do quanto sempre fui distante disto tudo.
Não que eu não tenha tentado encontrar uma forma de "entrar" ou de "fazer parte", e foi talvez sempre este o meu erro - tentar ser como não sou.
Ainda não sei, claro, se o facto de tomar consciência disto faz-me pronta para aceitar o facto como é, não sei se ao tomar consciência, automaticamente aceito minha verdade.
Mas que faz-me mais leve, isso faz.

17 de jul. de 2017

A velha

Era uma velha, muito, muito velha.

Tinha os sonhos todos enrugados, tinha as motivações flácidas e os desejos sem qualquer força de movimento ou vitalidade, tinha a pele em casca, e o coração em pedra. De tão velha, quase que deixava de ser presença para ser apenas uma sombra.

Movia-se entre os dias com a teimosia dos velhos, embora tivesse a sabedoria dos velhos endurecida e também envelhecida.

Olhava à sua volta com olhar observador, única parte em si que ainda emitia algum brilho, ainda que longínquo.

Vivia com gosto porém sem vontade, e quando apareceu um menino nos dias dela, foi sem relutância que o deixou aparecer, como era sem relutância que passava de um para outro dia.

Pouco a pouco começou a surpreender-se com o menino, como ele conseguia dia após dia parecer ainda mais menino e mais criança, mesmo sendo de certa forma, mais velho que ela. Olhava-se as vezes no fim do dia ao espelho, e passava cada vez mais tempo a observar os sonhos enrugados, as motivações flácidas e sem vida, os desejos enrijecidos.

Os dias corriam, e cada vez mais a velha passava mais tempo a observar-se ao espelho, ganhando estranheza cada vez maior ao olhar suas marcas de velhice.

Quando num momento inesperado o menino pegou em sua mão, a casca que ali havia na pele da velha rachou, provocando nela um choque de surpresa e dor. Deixou de sentir a mão do menino, e ficou parada a observar sua própria mão, endurecida, enrugada, crespa e cascuda com uma pequena rachadura a percorrer-lhe a palma até os dedos.

Olhou para o menino e viu que este lhe sorria.

Ela tentou sorrir-lhe de volta, e a boca enrugada de lábios finos e dentes gastos, rasgou-se num sorriso, fazendo uma nova rachadura, agora em seu rosto.

O menino estendeu suas mãos sempre a olhar para ela, e reteve nas tuas, as mãos endurecidas dela.
Quando os dedos da velha se moveram para entrelaçar os dedos do menino, novas rachaduras surgiram, fazendo a pele enrugada rachar ainda mais. Quase que se podia ver cor através das rachaduras que iam se abrindo.

O menino sorrindo-lhe e sem dizer palavra, transformava-se aos olhos da velha num menino cada vez mais novo, numa criança cada vez mais pequenina e ia sorrindo-lhe mais à medida que se ia aproximando.

A pele dele era como a pele de um bebê, e a maciez tão grande sob a casca tão dura da velha era como ácido a derreter e despedaçar a casca que ali havia.

Então o menino a abraçou forte e apertado. Não disse palavra alguma, não pediu licença, não demonstrou medo nem insegurança, apenas demonstrava que precisava daquele abraço. A velha tentou retribuir o abraço, e fez um esforço enorme para mover os braços endurecidos e velhos e colocá-los à volta do menino.


Naquele abraço silencioso e duradouro, o calor fez derreter cada pequenina ruga da velha, cada músculo de sonho flácido voltando a ganhar tenacidade, e a velha conseguiu sorrir sem a casca que lhe cobria o rosto.

Depois de instantes, olhou para o chão, para a sombra dos dois, e só o que viu foi a sombra de duas crianças a brincar.

Sonhos

Tenho me lembrado de sonhos que haviam ficado guardados na gaveta e começaram a ganhar o pó do dia-a-dia daquilo que se faz necessário ao invés daquilo que se havia sonhado.

Tenho visto como eram ingênuos os sonhos que eu guardava, e assusto-me ao perceber que apesar da ingenuidade deles, há quem os tenha conseguido conquistar. Há sempre uma busca por equilíbrio, e na tentativa de equilibrar nem sempre me lembrei daquilo que deixei se perder.

Por muitos anos, olhei para mim mesma e vi-me menor do que eu era, mas sonhava tanto e tão alto, que buscava ser maior do que eu um dia poderia ser. Entre a forma com que me via e a forma com que me sonhava, ficaram guardados os sonhos do que nunca consegui ser.

E assim, sonhando alto e fazendo malabarismos entre os dias do quê era possível e do que eu sonhava, fui transformando-me em mais do que eu era e em mais do que pensei.

Assusta-me não saber se os sonhos que sonhei e guardei um dia, ainda são sonhos que tenho. 

Transformei-me, e no processo, não me lembrei de transformá-los também.


Tenho me lembrado de sonhos que ficaram guardados na gaveta, e o que hoje me assusta não são os sonhos guardados, mas o confronto de mim comigo mesma e a surpresa de que a pessoa que me tornei, hoje é capaz de realizá-los sem sonhá-los mais.

25 de abr. de 2017

Amor

Amor, eu não sou nada.
Sou ninguém, quando consigo ir para além da casca que me cerca, que me prende e tanto aprisiona.
Vivo, porque assim tem que ser e é, mas a pulsação do que sinto transcende o meu viver – é sim, Amor.
As dores, os medos, as dúvidas, incertezas, problemas, é tudo casca, Amor. Tudo temporário, tudo ilusão. Posso, claro, escolher “ser” a casca que me cerca ou então ser para além dela, o que em essência e verdade eu já sou, Amor.
Uma corda de equilibrista, um malabarista, um ser a caminhar entre escolhas e estradas tortas, escolhas e consequências, problemas e aflições, pensamentos e dúvidas... só casca, Amor.
E quão difícil é romper tal casca! Quão difícil é “ser” para além do apego da casca que prende, que ilude, que contamina. Pois é, Amor. A “matéria” é a tragédia da vida, a essência da matéria a salvação (Amor).
Agape

4 de abr. de 2017

Simplicidade

Tenho andado distraída, a inventar coisas para ocupar o tempo, a cabeça, os pensamentos. A procurar (não preciso procurar muito) por razões para me preocupar e por problemas e questões que tenho que resolver.
Aqui dentro de mim, algumas cobranças que me coloco, algumas situações que mereciam alguma decisão (e ação) mais concretas de minha parte. Mas, tenho andado distraída. Muito.
Não procuro por justificativas ou desculpas para as coisas, visto que não há mesmo qualquer razão ou necessidade de justificar o que quer que seja, assim como também não há para fazer (ou deixar de fazer) isto ou aquilo.
Agora pouco fui ao quintal, e mais do que ver, senti o que de facto é o real das coisas, desta minha vida de agora.
Perco demasiado tempo a pensar e a desejar coisas que simplesmente... não são, não "existem" aqui, ao menos não neste momento.
É complicado as vezes tentar encontrar algo que “tape” o vazio que é não ter o que um dia foi um espaço totalmente preenchido. A vida um dia foi, realmente, um espaço totalmente preenchido. Quando estávamos todos juntos, e partilhávamos tudo.
É muito provavelmente o tempo a passar que me deixa assim. E de tantas e tantas formas já preenchi e tentei preencher este “vazio”...
Hoje penso que todas as decisões que tomei, e todas as escolhas que fiz, foram, de certa forma, uma busca de preenchimento. Casar, mudar de casa, de trabalho, de país, divorciar, namorar, romper... tudo, de certa forma, decisões e escolhas para preencher um tempo que passou, mudou, transformou-se, um vazio que permaneceu.
E recentemente percebo que encantam-me cada vez mais as coisas mais simples da vida. Tenho e sinto mesmo uma admiração até esmagadora pela simplicidade. Pessoas que encontro, vidas que observo... e admiro. E é muito mais fácil observar e reconhecer a simplicidade “nos outros”.
Já fui bióloga. Já escrevi artigos, já cuidei de paraplégicos, já acompanhei deficientes mentais. Já trabalhei em restaurantes, hotéis, já geri e já “controlei” mais situações e pessoas do que teria sido necessário para perceber o que 20 segundos agora pouco me fizeram perceber.
Sei o que me faz falta, e sei agora que simplesmente não vale a pena “buscar”. Não são coisas que se possam “procurar” nem encontrar, ainda que se caminhem distâncias incríveis, ou que atravesse montanhas, oceanos ou mesmo alternativas diferentes de vida. Simplesmente, são coisas que não se podem “buscar”. São existentes ou não. Fazem parte ou não. Acontecem ou não. Temos ou não temos.
A vida segue um ritmo próprio, sendo levada e acontecendo conforme nossas escolhas e ações.
A verdade das coisas e dos factos é que tudo trouxe-me para este canto, este instante, onde o que existe é mesmo pouco (ou muito) dependendo de com o quê comparo. O “pouco” reside no silêncio, na solitude, na calma e na paz que busquei – porque precisava encontrar para ouvir-me à mim mesma. E o muito, está justamente na simplicidade e na paz destas mesmas coisas.
Já não escuto faz muito tempo a risada deliciosa dos meus sobrinhos, das minhas irmãs e irmão, dos meus pais. Já faz imenso tempo que não “perdemos” tempo fazendo coisa nenhuma a não ser companhia uns aos outros a partilhar as “bobagens” importantes da vida.
E não é uma questão de saudades apenas. É também e principalmente uma questão das escolhas, da vida que segue um rumo que nem sempre é facilmente compreensível. A vida que na verdade, acabei por escolher.
Eu sei que nunca soube ou consegui explicar bem o por quê das minhas escolhas, nem para ninguém nem para mim mesma. Gostaria mesmo muito, muito, muito mesmo de ter uma resposta fácil e compreensível para isto... mas não tenho... apenas sinto.
Foi como se uma espécie de certeza me guiasse para que eu de alguma forma conquistasse uma vida que me fizesse sentido, que me trouxesse um “sossego” interior. O sentido da vida, este não sei se um dia será uma resposta encontrada mas cada vez também tem menos importância ter ou não ter. Mas este “sossego” interior eu de facto conquistei.
Já tive muito mais "coisas" do que tenho agora, mas o que tenho agora dá-me paz. E eu poderia ter menos, bem menos, é verdade, e a paz seria igual ou quem sabe, maior. A casa não precisava ser tão grande. O espaço à volta traz-me mais “culpa” do que realização, visto que não o aproveito como deveria (e meus brócolos ainda por cima morreram), mas gosto de saber que tenho aqui atrás de mim um espaço onde, se eu quiser, posso sentar debaixo de uma árvore ou sem querer, como aconteceu dias atrás, ver-me avisada de que tinha imensos aspargos selvagens prontos para consumo (só me resta saber como prepará-los). Gosto das descobertas que se tornaram possíveis -  e de não sentir medo ou insegurança.
Gosto de ter a porta da frente sempre aberta, e de vez em quando sair para ver os cães a brincar ou deitados muito pacíficos à sombra do pinheiro da frente. Ouvir os passarinhos.
Gosto de ter meu carro parado ao portão, pronto para levar-me onde quer que eu decida ou queira ir.
Gosto do que tenho, do que conquistei, muito embora eu mesma as vezes pense que não tenho absolutamente nada – mas à bem da verdade, tenho imensamente mais do que um dia pensei ter. E principalmente, vendo bem... conquistei algo que nunca tinha me julgado ser capaz de conquistar... estar bem comigo mesma mesmo sem ninguém por perto e com quase nada. Afinal de contas... tenho a todos em mim, inclusive a mim mesma.

Agora resta-me é saber o que fazer... com tanto.

27 de mar. de 2017

Texugo


Ia para casa, mas se eu fosse então eu ia pensar...
Observei a chuva para tentar inventar um roteiro.
Algo, qualquer coisa para me impedir de sonhar...
A cabeça não parava, perdi-me em um candeeiro.


A chuva lembra água, que me leva então para uma barragem;
O sol lembra luz, que me traz na mente uma estrela cadente...
Tudo me transporta! De nada vale roteiro, mudo de abordagem;
Para desviar o pensamento só mesmo se tivesse dor de dente...!


Inventei mil e uma coisas para tentar me entreter,
Para evitar a qualquer custo chegar perto do virtual
Sei lá eu no futuro o quê é que vai vir a acontecer...
Sei é que guardarei em mim e comigo "o" Portal. (Portel)

14 de mar. de 2017

Loucura

Encosto-me ao batente da porta, a olhar para os pássaros, os cães e as laranjeiras sem ver coisa alguma.
Sinto-me como se estivesse à janela, e o que vejo cá dentro como se fosse “lá fora” é uma vida que me encanta. Que me fascina. Que me trás lembranças de uma felicidade simples que os anos deixaram empoeirada nas prateleiras das recordações.
Uma ternura doce e esforçada, batalhada dia-a-dia com a força de um coração puro que me desarma dos meus frágeis sonhos e das ilusões.
Olho como se olhasse através da janela (que não há), e não seguro o anseio de pertencer à paisagem que não é aquela que tenho à frente, apenas à janela (que imagino).

Mas se por acaso, olho-te a ti... ai! Que até as laranjeiras perdem a cor, e silenciam os pássaros...

13 de mar. de 2017

Tubarões

Estar onde é fácil se estar, sem pensar que aquilo pode levar à algum lugar,
Guardando no entanto em algum recanto a esperança de que possa...
Como provocar com cheiro de sangue fresco um mar onde se pensa (sem certezas)
Não existirem tubarões.
Provocar por quê? Eles podem acabar por surgir...
E surgem.
E embora seja emocionante descobrir que afinal existiam,
Fazer o quê com as mãos agora ensanguentadas?
A satisfação de encontrar aquilo que em silêncio se buscava,
E a dúvida do que fazer então à seguir.
E a natureza selvagem em mim não se contenta em observar as barbatanas,
Quer jogar-se à água! Quer nadar com eles, quer ver se de facto abrem a boca!
Vê as realidades tão distintas que já foram experimentadas e pensa (louca):
Nunca vivi ainda no fundo do mar! Nunca nadei com tubarões! Será que consigo?
E o lado racional argumenta... pensa... reflete e olha nos olhos do tubarão (do qual só se vê a barbatana) – e alimenta e desperta... oh raio da empatia!
Vê-se então também como um tubarão...
Sem as nadadeiras, sem o corpo cartilaginoso e sem a competência de nadar feito tubarão (oh raios, nem sequer brânquias eu tenho) – será que consigo?
E reflete mais... (e pior)
Eu poderia ser um tubarão... quem foi que disse que não posso?
Poderia aprender a ser um tubarão...
Então olho para as mãos ensanguentadas que chamaram os tubarões...
Olho para as barbatanas ao meu redor...
É, eu adoraria ser um tubarão. Adoraria mesmo...
E partilhar dos nados, dos saltos, dos intintos...
Seria mesmo tão bom. Viver um pouquinho dessa vida de tubarão.
Mas percebo (à tempo?): Não sou um tubarão.
Triste, a despedir-me do sonho (tão bom!) de ser tubarão, pego em água, e lavo minhas mãos.

Entretanto e já com as mãos limpas, fica a pergunta... não teria eu alguma responsabilidade por ter acordado os tubarões? O quão justo é sair “ilesa”? São eles tubarões... sou eu pessoa. A natureza deles é o instinto, a alimentação. A natureza minha... é apenas acreditar... e provocar tubarões?

Hábitos

Não faz assim tanto tempo, eu não conduzia. Tambem não faz assim tanto tempo, havia muita coisa que eu não fazia.
De uns anos pra cá, talvez eu pudesse dizer que minha vida mudou. Mas seria um erro, fui eu a mudar a minha vida e o passado que acabou.
A verdade é que no percurso, cometi um engano brutal. Mudei os contextos e tudo ao redor, até gostos, mas não os velhos hábitos - erro fatal.
Hábitos nos fazem ser quem somos e nos leva para onde estamos. Podemos mudar de sítio, e de realidade, mas somos de facto o hábito que em nós, plantamos.
Toda mudança por mais impossível que pareça é possível de criar. Qualquer lugar ou verdade que se queira inventar. Mais difícil são os hábitos de se conseguir modificar.
À minha volta, tudo agora pode ser completamente diferente. Mas minha verdade é a mesma, assim como eu sou, uma vez que meus hábitos não andaram para frente.

Assim, torna-se clara a profunda realidade... Nenhum passo teria sido necessário caminhar, se eu soubesse antes desta simples verdade: Basta apenas mudar de hábitos, antes que seja tarde!

12 de mar. de 2017

Dois Lados

Ando por essa ponte, tão alta e tão estreita que balança para a direita, balança para a esquerda, estremece, ameaça mas não cai nem tão pouco se equilibra.
Essa ponte que me divide, que me corta e me separa pelo meio. Uma metade terra, a outra metade ar. Uma metade terrena, a outra metade luz. E o coração por inteiro em cada uma das metades.
O amor do espírito e o amor da luz. E não, não me digam que se trata do mesmo amor. Pois não é. Não é e nem é ao menos parecido. São mais opostos do que semelhantes.
Em comum muitas coisas, desde que não se trate de escolhas – apenas de sentimento.
Pois em comum está o desejo do bem, a intenção de saber o coração amado, feliz. E apenas isso, pois de resto se conflitam, se atormentam. O amor do espírito gosta da proximidade, do abrigo, do conforto na alma. O amor da luz não vê distância, nem sequer se importa com a existência ou ausência de tempo e espaço. Nem mesmo considera essas coisas – elas não existem. O amor do espírito busca, procura crescer, amadurecer, auxiliar. É ativo e entusiasta. O amor da luz é passivo, transcende por osmose, é como a luz refletida por um lago – o movimento pode ou não existir nas águas, a luminosidade não se altera.
E essa ponte, essa trilha é estreita, é de extremos, é incerta. Não há desvio errado ou ruim, não há escolha mal feita. Mas há escolha.
E as escolhas envolvem ganhos, envolvem perdas. E envolve amor. Tudo envolve amor.
Qual é o amor mais forte? Qual é o amor mais certo?
Mas há talvez o amor mais desapegado, o mais calmo, o mais humilde. O amor da compreensão e abnegação, o amor imutável, inatingível, a chama que arde para sempre.
Talvez nem seja nada disso. Talvez não existam diferentes amores, talvez a única coisa que os diferencie seja o foco – e o sentimento seja o mesmo.
Pode sim haver o foco talvez no espírito, talvez na luz, talvez num anseio ou em um desejo. Mas quem sabe sejam apenas os focos...
Focar em uma paixão, focar em um trabalho, em uma ambição... o foco, embora o sentimento seja o mesmo. O puro, o poderoso amor.
E nossas histórias, nossas experiências, nossos medos e nossas dores sejam a lente de nossos focos. E não poderão haver focos errados, mas sim em seu lugar mágoas profundas... como alterar a lente para obter diferente imagem? A imagem não muda... mudam os nossos olhos.
E então, no fundo de tudo, o amor. Pura e unicamente o amor. O amor que desfocado causa as guerras, as ofensas, as injúrias. As traições, as violências, as torturas. Tudo apenas amor. Amor para defender a ferida inflamada, para proteger as esperanças dilaceradas e as perdas ao menos suportáveis. As eternas procuras por justificativas, desculpas para agir conforme o foco do nosso amor...
E assim minha ponte desaba, não oscila, experimenta balançar de forma mais lenta e contida, experimentando o ligeiro movimento. Estremece e para, avaliando se afinal deixaram de existir as metades esquerda e direita. Parece que fundiram-se, encontraram a forma de as unir.
Podemos nos tornar caleidoscópios, cristais... reflexos de um único sentimento capaz de transbordar em todas as direções.

7 de mar. de 2017

O tempo não me engana, não!

Crescer é uma mentira, a maior mentira que já nos contaram. Quando olho no espelho, os cabelos brancos são uma mentira, mais mentirosos ainda do que a madeixa azul que pintei com tinta.
O tamanho que eu tenho, as roupas que eu visto e os sapatos que calço são igualmente mentirosos, mais verdadeiro são os cachos que já não tenho e os meus dentes de leite que já caíram.
Verdade é o que vejo quando fecho os olhos e consigo ver minhas irmãs pequenas, rindo. Ou o Pedrinho e o Caio a jogar bola no corredor de casa, uma casa que já não existe mas que é mais real do que qualquer casa em que eu entre.
Verdade é quando fecho os olhos e estou no colo da minha mãe, ou no abraço do meu pai. O resto são mentiras que nos contaram.
Crescer é uma mentira. Sofrer é uma mentira. A única verdade é o sentimento que nos invade quando nos lembramos.
Tudo passa, absolutamente tudo. E só a verdade permanece, sempre. E é esta a verdade que guardo, que faz de mim quem sou e que habita em mim.
Verdade é conseguir ver minha mãe como criança, de vestidinho branco e fita no cabelo com o coração cheio de luz. Verdade é ver meu pai rindo e brincando espalhando alegria por todos os lados.
O resto são ilusões que nos disfarçam e amordaçam, coisas tolas que o tempo tenta nos convencer a acreditar.

Verdade são os abraços que nunca se desfizeram e os olhares que nunca se deixaram de olhar.

18 de fev. de 2017

Uma casinha no meio de lugar nenhum

Que venha a vida. Que venha o pulsar do coração nas veias, o arrepio nos poros, o sorrir na alma. Que venham as cores, que o vento sopre para longe o que era cinza e faça com que brilhe o sol.
Que eu saiba, dentro de tudo aquilo que não sei, deixar abertas as janelas e deixar que o calor me chegue à pele.
Descalçar os sapatos, despir os casacos, soltar os cabelos e tirar dos dedos os anéis e do espírito as correntes.
Esquecer-me do relógio, do telemóvel, do computador e dos afazeres que o mundo achou que deviam ser meus.
Ajoelhar-me na terra úmida e ouvir os pássaros que nunca deixaram de cantar, mesmo quando eu não os ouvia. Curvar-me até ter a testa no chão, afundar os dedos na terra como se para sorver toda a energia que me esqueci de sentir.
Permitir que a brisa sobre mim seja um beijo, e que a natureza seja o abraço que não senti. Esquecer-me de tudo que já não sou e deixar-me ser quem me tornei.
Aceitar o que me chegar, deixar ir o que não veio. Não lamentar pelo que não foi ou que não pôde ser.
Reconhecer que ninguém me rasgou o peito para além de mim mesma, e o rasgo que fiz foi o que me permitiu brotar. Tornar-me a semente que antes adormecia cá dentro, e elevar o broto que criei. Que se tornem folhas os meus dedos e minhas mãos. Que se torne tronco e árvore o resto de mim.
Em pé, entre as amendoeiras e pinheiros que eu seja o vento que me sopra, a luz entre o entardecer e o anoitecer que tinge com tons de rosa e de azul a página em branco que ainda não escrevi.

Solto os restos que poderiam haver presos e contidos, liberto a mente condicionada e limitada e  os pés descalços no chão já nada mais tocam. Misturo-me com a paisagem, transformo-me no Universo em mim que sempre fui, mesmo quando eu ainda não sabia que era. 

21 de dez. de 2016

As cartas que não escrevo

Pulsa em mim um Universo de palavras. De frases construídas com o sentir e o pensar. Frases que não escrevo.
Palavras perdidas que voam no Universo de mim e não encontram porto - além do porto de mim mesma.
Meu abrigo? Que seja eu...
De que valem os encontros, se promovem mais desencontros de olhares do que olhares encontrados?
De que vale o encontro, quando é só que se fazem os caminhos todos?
E o poder criador do verbo perde-se nos tempos em que a criação valorizada ainda é a das ilusões.
Quem se importa com a verdade?
Quem ainda se importa com a verdade neste mundo?
Tanto medo em acreditar, que escolhe-se consciente a fantasia, para evitar dores... E não é a fantasia uma dor por si só?
Não gosto de muito do que vejo, não posso pela verdade em mim participar ou ser cúmplice de ilusões que destroçam o que ainda acredito ser o melhor do mundo - agape.... Agape!
Onde está, que nem sequer encontra-se... e pior! Nem se quer se procura...
Pensei ir à Sagres, para estar com o mar.
O mar... habita em mim. Já lá estou.
Mas meu corpo... este... vai dedicar-se ao jardim. Plantar sementes, cuidar do pequeno mundo que me cerca... que este sim, cuida de mim.

14 de dez. de 2016

Adiante!

Ainda me lembro de Parati (RJ, Brasil), e tambem de quando lá, cortei o pé. Não pelo corte em si (embora tenha doído o suficiente para deixar lembrança), mas pela “lição” aprendida. Era um mar tão calmo! Era um “convite” tão tentador... andar metros e metros pelas águas tranquilas em direção ao horizonte, sem que a água passasse do nível abaixo da cintura. Uma minúscula ilha à frente, e a possibilidade de tão tranquilamente chegar lá. Sendo que águas revoltas e tempestades me inspiram e fascinam, águas tranquilas me fazem querer percorrê-las (quem não gosta de sentir-se seguro, em paz?).

Mas fato é que mesmo na calmaria, existem perigos e riscos ocultos. Uma ostra, e lá se vai um grande talho no pé. Por ter ido, vi-me obrigada a voltar com areia a entrar pelo corte. Por ter ido, aprendi que ostras não produzem apenas pérolas. Por ter ido, ganhei uma nova cicatriz.


Guardo comigo a cicatriz (e as memórias), e penso que sempre é momento de adquirir novas memórias (preferencialmente sem tão grandes cicatrizes). Novos aprendizados, novos horizontes.


Olho à volta e está difícil encontrar as águas tranquilas que me fazem caminhar. Também não vejo o mar revolto à me inspirar. Onde anda o que está oculto, e produzirá pérolas ou dores?


Pelos caminhos já percorridos, pelas “vidas” já vividas, sei reconhecer o instante de pausa quando vejo-me em um. É uma pausa... mas prolonga-se. A vida não era suposto ser aqui e já? Há pernas prontas para a caminhada. Há pés cicatrizados.



Há uma gratidão imensa pela estrada que me trouxe à este momento. Tudo está certo. Muito bem. Já é hora de seguir adiante... adiante, adiante!

5 de dez. de 2016

Tempo

Não sei que tempo é este. Para minha vida, para minha evolução, para minha alma... que tempo é este?
Vou lembrar-me dele um dia?
Ou irá se perpetuar sempre?
Tantos planos e tantas vontades, enquanto algo sussurra cá dentro: "espera".
Talvez não seja bem "espera", talvez seja mais "aproveita".
Aproveitar este instante imóvel onde permito-me sentar embaixo de um pinheiro com as pernas esticadas para esse sol de inverno, observo a calma ao redor. Os problemas estão todos cá, é facto, mas ainda assim dou-me ao luxo absurdo de permitir-me estar... esperar... aproveitar.
Se tola ou sábia não sei, importa?
Sempre há algo que falta, sempre há algo que quero, sempre há alguma dificuldade ou problema qualquer... importa?
Ou importa mais o que eu faço dos meus dias? Dos meus instantes imóveis?
Percebo ao longe que alguem está a podar alguma árvore  (ou cortam lenha), passarinhos que cantam, sombras que vem e que vão. A vida tornou-se simples, finalmente. Ou será que fui eu?
Apareceu uma borboleta. Uma joaninha. Uma aranha.
Caiu uma laranja no chão.
Que tempo é este não sei... mas aproveito.

Volto já

Ir embora não é difícil, é impossível. De tão impossível que é, não vou. Nunca vou.
É sempre um vou mas já volto já, ainda que não se saiba quando é o "já ".
O coração fica sempre. Planos, idéias de lugares para ir, pessoas para ver e conversas para ter e continuar permanecem com a promessa e certeza silenciosas de que eu volto já.
Uma corda meio bamba de vontades tão concretas que se transformam em certezas no coração, porque sim, está tudo bem e sempre estará tudo bem.
Somos imbatíveis, incansáveis e indestrutíveis. No nosso amor, nossa história e nossos afetos, somos imensos e somos eternos. Verdadeiras fortalezas de experiências e de sonhos, esperanças e desejos tão gigantes que tempo e distância são meras bobagens, como não seriam diante da presunção e do tamanho do meu amor?
Pois claro que meu amor é presunçoso! É tão enorme, como não seria? Claro que é imenso o bastante para me dar todas as absolutas certezas, forças e coragens desse mundo, é um amor enorme! Pode tudo! Quem seria louco de dizer o contrário?
De tão enorme e absoluto que é, não há barreira que o assuste, que o deixe inseguro ou duvidoso sobre tudo o que esse amor sonha, quer e deseja. Todo o resto é mínimo e de tão mínimo, é ridículo. Tempo? Milhares de quilômetros de distância? Que bobagem! Isso não é nada! Nadinha!
Nós somos infinitamente maiores do que essas bobagenzinhas... e seremos sempre e eternamente!
Afinal...
Eu volto já.

18 de out. de 2016

Bum!

Tenho universos para escrever. São como Big Bangs em colapso às vezes, que se atropelam nas palavras soltas e pensamentos incontinuos, que por vezes conectam-se lá na frente, outras vezes transformam-se em autênticos buracos negros onde há muito conteúdo e potencial mas de alguma forma ficam submersos em si mesmos e engolem-se, sugam para dentro teorias e acumulam um conhecimento que não sai à superficie e adensa-se no interior.
Nietzsche dizia que é preciso caos para parir uma estrela. Por vezes talvez tenhamos que provocar o caos (mudanças) para gerar novas possibilidades.
Acredito que cada ser possui os seus próprios buracos negros, uma somatória de experiências, sonhos, pensamentos, sentimentos e desejos acumulados não realizados ou satisfeitos, prontos para gerar um Big Bang quando estimulados através do caos.
Galáxias podem se formar assim, o quê dizer então sobre transformações no ser? Na vida?
O caos necessário para gerar a estrela pode ser a mudança necessária para gerar a vida em seu potencial máximo.
Um caos não basta - seria o mesmo que limitar o universo infinito.
Até onde se pode ir?
Qual o limite do que se pode conquistar interiormente?
Quem decretou que há limite?
Enquanto houver vida, enquanto houver vontade, o limite é o desejo de cada um e nada mais.

30 de set. de 2016

Amor. Amor e mais Amor.

Cada um enxerga, assume e encara o amor de uma maneira própria. Até deparar-se com o amor verdadeiro, onde não há espaço para interpretações, visões ou formas. Simplesmente é absoluto, incondicional, pleno.

Se sou um ser capaz de amar, é porque me deram a conhecer esse amor.

Minha mãe, que quando apesar da saudade e da falta de estarmos perto nos sorri e nos deseja o melhor, está a dar-nos esse amor.

Meu pai, quando deixa de fumar porque não quer ser a razão dos olhares preocupados da gente que o ama tanto, está a nos dar esse amor.

E aí o coração aperta, aperta de amor. Aperta e se espreme tanto que o sentimento acaba por explodir, transborda e transporta a minha alma de dentro do corpo pra juntinho da alma deles, e os abraça enquanto se sente abraçada tambem.

O amor é assim. É o que nos mostra a diferença entre a matéria e o espírito, entre o plano do lado de cá e o do lado de lá, onde somos uma coisa só.

E temos que seguir a vida, seguir o plano de cá fazendo o que nos for possível de melhor, mas sem nos esquecermos do que realmente importa: A essência que guardamos em nós e que nos cabe fazer com que atinja todo o potencial infinito que contém.

Somos potencial, porque somos amor. Todos nós.

E ao reconhecer o amor nos outros, reconheço o amor em mim. E assim, é ainda mais que ele transborda.

24 de set. de 2016

Fortuna

O tempo passa, a gente cresce. Aprende.
Vou desenvolvendo teorias, algumas (confesso), esqueço. Outras vão ganhando força.
Vejo cada teoria como uma semente de sabedoria, algumas permanecem latentes e não crescem nem geram frutos, outras desenvolvem-se em todo seu potencial e florescem, até espalham-se.
Algures, nos tempos de infância ainda, uma das minhas primeiras teorias foi sobre a batata e o feijao-manteiga. O feijão quando cozido, por dentro, era "irmão" da batata, pois tinham o "recheio" igual depois de ambos cozidos. Uma tontice, mas ainda penso que deve haver uma ligação muito maior do que se pensa sobre as duas coisas...
Mas enfim, a gente cresce... E as teorias se aprofundam.
Anos atrás nasceu dentro de mim a semente da teoria de que o sentido da vida não estava na vida geralmente aceita como "perfeita". Um bom trabalho, uma boa casa, um bom casamento, filhos. A semente era um "plin" que dizia que somos mais capazes do que isso. Muito mais.
Hoje essa semente já não é semente, possui algumas folhinhas tímidas e oscilantes ao vento, mas cresceu.
Vou ao longo do tempo comprovando a razão daquele "plin", e percebendo a importância do equilíbrio das coisas. Claro que para o equilíbrio acontecer, às vezes o desequilíbrio também é necessário - essa teoria para mim está comprovada e até florida.
Mas tambem, em meio às folhinhas tímidas que oscilam ao vento, vejo-me a concluir que sim, a vida pode ser muito, muito mais do que o conceito comum mais aceito de "perfeição" e de "valor" - porém, a conquista por maior que seja perde o encanto se não for partilhada, dividida, doada às almas e aos seres que nos são importantes.
A conclusão repousa na constatação  de que a verdadeira fortuna da vida não está nos grandes feitos, está nas pessoas com quem partilhamos os feitos. Grandes realizações, pequenas, significativas ou irrisórias, não importa. Ainda que o sol e a lua forneçam espetáculos gratuitos diariamente independentes de quem os observa e aprecia, nós ainda somos apenas humanos, e se até Zarathustra se viu na necessidade de descer das montanhas para partilhar suas descobertas, ai... pobre de nós se não pudermos partilhar inclusive nossa singela mediocridade...