30 de jul. de 2017

30 Julho, 2010 - Ilusões

30 de Julho de 2010, Ilusões:
Eu queria me agarrar em ilusões, com toda a força que posso concentrar nas minhas mãos. Queria usar cada centímetro dos meus músculos para agarrar ilusões de tal forma que nunca pudessem se transformar ou partir.
Queria escolher a minha realidade, desenhá-la à minha maneira com as cores que eu escolhesse, sem temer que um dia o desenho torne-se borrado ou nebuloso.
Pois existe muito mais encanto e fascínio no mundo que nossa mente pode produzir do que existe muitas vezes naquilo que de fato está a nossa volta. É muito mais fácil viver de sonhos, de ilusões e das expectativas que nosso coração pode criar do que naquilo que nossos olhos muitas vezes não querem enxergar.
Fomos criados assim, em meio a contos de fadas, a histórias de finais felizes e príncipes encantados. Somos como eternas crianças tentando abandonar a primeira infância, temendo pelas coisas que vemos ruir a nossa volta, à percepção de que nossos pais não são súper heróis e de que não somos capazes de voar.
Em algum momento foi implantada em nós a vontade de voar, de ter asas e de alcansar o céu. Uma parte de nós, por mais que o tempo passe e que creçamos, ainda acredita nessa capacidade. Precisa acreditar, senão o mundo torna-se cinzendo, duro, feito de concreto e asfalto.
Nem tudo aquilo que se quer é possível de ser conquistado, nem todos os sonhos são realizáveis, e nada tem a ver com a nossa força, coragem ou capacidade. Está muito mais relacionado com a realidade dos fatos.
Pessoas que gostamos ou amamos (ou pessoas que gostaríamos de gostar e amar) não são perfeitas, não possuem o dom de transformar as nossas vidas e nos devolver a capacidade de acreditarmos nas coisas que gostaríamos. Somos nós, sempre nós mesmos, os únicos capazes de transformar qualquer coisa em nós ou em nossa vida. Mas continuamos a teimar em encontrar alguem capaz de fazer isso por nós, ou alguém que nos sirva como alavanca para as transformações que precisamos em nós.
Quando caem essas projeções, crenças, nos vemos sozinhos novamente, e iniciamos novamente a procura por outra alternativa. Um ciclo constante de procura, desejos, ilusões e decepções. Ninguém é capaz de nos decepcionar, são apenas as nossas idéias e projeções que caem por terra. E como nos livrarmos dessas projeções, desses desejos, desses sonhos, se esta é a natureza do nosso ser?
Nenhum amigo, pai, mãe, ou seja quem for é capaz de nos desiludir, de nos decepcionar. É a idéia que fazemos daquela pessoa que se desfaz, que se desmancha em frente aos nossos olhos como pequenos castelos feitos na areia quando vem a água do mar.
Por isso é tão importante a compaixão, a compreenção, o perdão e a aceitação. Somos todos feitos da mesma matéria de desejos e sonhos. Somos todos frágeis, lutando nossas próprias batalhas, ora perdendo, ora conquistando.
Ver a fragilidade, fraqueza e defeitos de outra pessoa pode nos fazer escolher desencantarmo-nos com ela ou sermos tomados por uma imensa onda de compaixão e respeito, pois é através de outra pessoa que podemos ver a nós mesmos. Essa é a verdadeira essência do perdão e do amor.
Não importa quais sejam as fraquezas ou defeitos, não importam quão feios nos pareçam, pois somos feitos todos da mesma matéria. Uma massa de argila que cada um, ao longo da vida, procura moldar da melhor maneira possível, somos todos nós os escultores de nosso próprio ser, e podemos a todo instante escolher a forma com que vamos nos moldar.
Nesse percurso, cada um faz a melhor escultura possível, aquela que lhe parece a mais delicada e bonita ou aquela que parece a mais resistente e impactante, é a arte de viver.
Agape - Desassossego

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