30 de jul. de 2017

Eu não queria

Eu não queria dizer-te adeus.
Não queria deixar passar-me ao lado toda a estrada que não percorremos, todas as viagens que não fizemos, toda a vida que não vivemos.
Eu não queria dizer-te adeus, nem afastar os meus olhos e meus risos dos teus.
Não queria deixar vir o tempo em que passarás a ser uma vaga lembrança, algo remoto dentro de mim que nem vou lembrar-me muito bem.
Não queria que chegasse o instante em que vais ligar e vou ter que perder alguns instantes até recordar-me de quem és, para então decidir se vale ou não a pena atender-te. Não queria...
Não queria deixar passar-me ao lado as noites estreladas em meio a lugar nenhum que não tivemos, o barulho das ondas do mar a quebrarem em nossos ouvidos entorpecidos pelos sons de nós mesmos que não chegamos a escutar.
Não queria deixar de viver o que ainda não vivemos.
Não queria deixar o calor e a exaustão dos dias tomarem maior força que a vontade do encontro de nós mesmos.
Não queria deixar-te ir, não queria dizer-te adeus.
Não queria que as obrigações e o tempo que marca o relógio se tornassem maior do que os sonhos que não chegamos a sonhar.
E quando nos afastamos, quando deixamos de nos falar, entender e compreender, eu não queria não conseguir dizer que não te queria dizer adeus.
Porque sei que em algum lugar estás e estarás sempre, e os dias me irão levar para diante e para o esquecimento, e a lembrança de tudo que poderia ter sido deixará de ser, pois nunca terá sido nada.
Eu não queria.
Mas não sabes.
Não sabes evitar o que eu não queria...
Nem eu.

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