Porquê: Eu sou uma alma livre presa em um corpo, mas não limitada por ele.
17 de jul. de 2024
Swiss
4 de jul. de 2024
Famílias
26 de jun. de 2024
Que eu me lembre das Gaivotas
24 de jun. de 2024
Piedade
Rudolph
Quando escrevi a primeira parte do livro, o Rudolph apareceu sem ter sido pensado antes, ele apenas "apareceu".
Apareceu quando no livro, o caminho havia se tornado demasiado incerto e indefinido, e o peso de um nada gigantesco pairava à frente. E então, "do nada", o Rudolph apareceu, para mostrar a direção.
Não pude deixar de sorrir quando triste, eu o vi hoje. Um Rudolph real, em pele, osso, pulgas e pêlos, que me olhou com os olhos de mel mais cheios de luz que eu alguma vez já vi, e ao me ver sorrir, levantou-se e veio atrás de mim. Atravessou a primeira rua ao meu lado, depois a segunda. Passou comigo pelo portão, entrou junto comigo no trabalho. E está agora aqui, deitado junto à secretária, não quis água nem comida, só se deixar estar.
Meu coração agradece esse deixar-se estar dele. Aqui, em silêncio, tranquilo. Me conforta, apazigua, mostra que talvez, quem sabe, eu esteja onde realmente devo estar, apesar do coração pesado e meio sem rumo.
As coisas mais pequenas, mais simples, são as mais difíceis e ainda assim, são e serão sempre as mais importantes.
Obrigada Rudolph!
8 de jun. de 2024
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar é feita de medo, daquele medo que nos custa identificar e reconhecer, que se esconde atrás dos nossos pensamentos mais íntimos e custamos a perceber.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar é imensa, tão
grande quanto o próprio tempo e espaço e ocupa sem esforço o tamanho do
infinito, embora seja tão simples e delicada que confunde-se com o que chamam de rotina e de comum para olhos menos atentos.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar compõe-se de
várias partículas que dançam em perfeita sincronia – e que nunca se confunda
sincronia com ausência de turbulência ou de obstáculo, porque a perfeição é
feita de imperfeições síncronas.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar foi deixada de
lado, feito sombras de fantasmas que se cansaram de assombrar, e fizeram morada
no silêncio de um passado já demasiado distante para lembrar.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar foi impressa em
mim na multiplicação celular que enquanto embrião, um dia eu fui e traduz-se no
meu próprio ADN.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar estava
esquecida, precisei um dia atropelar. E vem, pouco a pouco, querer se fazer lembrar.
E lembro-me então… de mim. De correr no pátio da escola de
lancheira na mão, de estar sentada em círculo a brincar de lenço atrás, de
subir nas árvores e de caçar formigas. Do tapete de bamboo e das massinhas de
modelar (plasticina) que deixavam tinta na mão. Das festas juninas e das lições
de história e geografia. E salto… dos 4, 5, até os 10, 11 anos. E estremeço com
os fantasmas que acordam e se assustam, porque desaprenderam a sonhar.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar aparece-me à
frente, sacode-me e atira-me ao ar, levanta-me os pés e não sussurra, mas fala, de forma nítida, decidida e clara com toda a certeza da voz mais definida que já se fez algum dia ouvir e me diz: "a matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar… é feita de ti".
12 de mar. de 2024
Dois Lados
11 de mar. de 2024
Bocadinho
Vamos então nos sentar aqui por um instante,
E deixar que este instante dure por ano.
Deixar para trás por um tempo as nossas incertezas
Deixar para trás por um tempo as nossas histórias.
Aqui, sentados, és tudo, és meu amante,
És as certezas sem qualquer chance de engano.
E tudo bem, ser for apenas por este instante.
Vamos nos sentar aqui por um tempinho,
Deixa que o tempo passe até sermos velhos,
Quem sabe, se neste pequeno bocadinho
É que se realizam os grandes mistérios.
Vamos aproveitar, ouvir o mar e sentir o vento
Abraçar a vida, viver o momento.
Vem, sentemos aqui por um instante...
E deixemos que instante dure por todo tempo.
Vamos nos sentar aqui um bocadinho...
...
6 de mar. de 2024
Altos e baixos, ir e vir, assim ou assado?
Talvez eu queira tanto ver (ou ser, ou estar) alí à frente, que atropelo até (e inclusive) a mim mesma. E o que eu realmente penso, e o que eu realmente sinto. Por querer estar ali à frente.
Então eu vou, corro com os braços estendidos para a frente para agarrar tudo, sem olhar se calcei os sapatos, ou se estou a correr pelo chão ou sobre brasas acesas. Ou espinhos. Ou cacos de vidro. Eu apenas vou.
E depois, por algum milagre ou generosidade ou alguma condescendência do Universo qualquer, uma pequena pausa acontece, ligeira. Mas, suficiente para me permitir olhar. E aí não sei se me zango por ter visto, ou se agradeço pela oportunidade de ver.
Será que eu sinto realmente que quero ir, ou apenas vou? Será que eu quero realmente agarrar o que quer que seja, ou apenas agarro? Talvez ali à frente não seja bem lá exactamente onde eu queria estar... A ilusão de estar ali parecia tão mais interessante do que a real possibilidade de lá estar...
Mas então, e agora? Diminuo o ritmo devagar até parar por completo, o meu olhar fixo e embasbacado, a minha boca ligeiramente aberta em surpresa, feito idiota, a olhar para mim mesma e para os meus braços tontos e ainda estendidos à minha frente tentando agora disfarçar nem sei como (espalmo as mãos? finjo acenar um adeus?), os meus pés descalços e a minha vergonha e constrangimento espalhados pelo ar e pela minha face vermelha...
Mas então, realmente, paro. E tento encarar a verdade das minhas voltas mentais e inconstâncias. Serão realmente minhas? Ou são os meus medos a falar e a gritar tão alto, que embotam os meus sentidos? O querer ir não será o medo de estar parada a falar mais alto? O parar o passo, o disfarçar do movimento, não será o meu medo de cair a me sussurrar?
Quando já sei que parar é como morrer, que o estacionar é a antítese da vida e do crescimento, não é natural que eu estenda os braços para ir, seja onde para onde for, ainda que eu vá a correr contra um muro ou uma parede?
Quando já sei que caminhar ou correr implica inevitáveis tropeços e prováveis quedas, que qualquer movimento significa sempre e sem exceções possíveis obstáculos e ossos pqartidos, não é natural que venha algum medo me sussurrar aos ouvidos?
Medos não são um problema, só o são quando deixamos que falem mais alto.
Porque o movimento é sim necessário, embora não seja preciso correr sem joelheiras e nem capacete de encontro ao asfalto. Se não existem as joelheiras e o capacete, é ainda preferível o tombo à inércia. Não há evolução nem crescimento possível naquilo que não se move, que não arrisca, que não vive.
26 de fev. de 2024
мне нужно
Há uma parte de mim, pode se dizer que uma parte importante de mim, precisa disto. Precisa acreditar nisto.
Acreditar não é o mesmo que tornar real?
Essa parte tão grande de mim... tão bonita em mim... precisa acreditar que nada é por acaso.
Acreditar que estamos cobertos por um maravilhoso véu feito de pura e translúcida seda, véu este bordado ao pormenor, com os mais sofisticados detalhes, com fios de ouro e cravejado pelos mais pequenos brilhantes, feitos dos mais puros diamantes, tão reluzentes e tão delicadamente esculpidos no véu que este, ao dançar com a mais leve das brisas, reflete todos os tons do arco íris ao seu redor, de uma forma ténue, subtil e a espalhar encanto e magia por toda sua volta.
E estamos nós cobertos por este véu, abençoados por ele, embora só agora, depois de tanto tempo, possamos adivinhá-lo. Não podemos, obviamente, vê-lo por tão subtil e ténue que é.
Essa parte minha, que sabe de maneira certa e segura de como o véu serviu como um fio que nos aproximou e colocou juntas as nossas mãos. O tempo que passou, ancorado pelo véu que com o seu esvoaçar leve e determinado nos aproximou de uma forma tão cheia de meandros, teceu curvas e reviravoltas, avanços e dificuldades, que fez nos encontrarmos e bordarmos pouco a pouco, ainda que com uma grande distância entre nós, uma amizade que foi desde o princípio presente e discreta, empática e cúmplice, enquanto vivíamos cada um a sua própria história e própria luta, desafios e descobertas.
Uma parte tão grande de mim precisa e quer tanto acreditar... que o véu trouxe o que desde sempre já existia.
Que me vias antes e lá atrás do jeito como me vês agora, e que soubeste desde sempre quem éramos um para o outro e assim, de uma forma descomunal por tamanha gentileza e cavalheirismo, conseguiste te fazer presente e ao mesmo tempo, esperar com tranquilidade e certeza.
Parte esta minha que sonha agora com os olhos abertos e que procura encontrar nas lembranças de anos atrás olhares e abraços, gestos de apoio e de carinho, atitudes e situações que comprovem o sonho que meus olhos abertos sonham, e encontra tantos! Encontra realmente! E esta parte minha abraça as lembranças, colocando-as ao colo e com o toque mais suave e mais doce de que minhas mãos são capazes, afaga estas memórias como se fossem o mais frágil e mais belo e puro dos recém-nascidos. Foram aqueles gestos assim, tão carregados de amor? Um amor que já sentias desde sempre e guardavas para mim?
E quantas vezes, quando o tempo passou e eu passei a ser apenas eu, senti afinal que talvez... talvez pudesse existir realmente ali alguma coisa, uma intenção, uma vontade! E a dúvida logo se seguia, não havia nada claro, não havia um avanço certeiro, havia doçura. Sempre houve. E amizade. E tantas dúvidas minhas...
Amizade que esteve ali, presente, sempre. E o véu que agora nos enlaça, não havia ainda nos abraçado... havia sido apenas tecido o bordado dedicado a me colocar na vida das pessoas que eram também próximas à você, e fio a fio, dar a força e a coragem para que assim chegasses mais perto de mim.
Esta parte tão grande e tão bonita de mim, que procura resgatar a pessoa que eu fui, quando acreditei que um véu como este poderia existir. Resgatar o sorriso que eu sentia me rasgar o rosto, e o brilho que eu sentia sair dos meus olhos. Resgatar as mãos frias e o estômago dançante, as pernas trêmulas e os pés decididos no caminho e na direção à seguir, tendo o futuro e a felicidade como certos.
Uma parte de mim precisa vestir este véu como quem veste a própria essência.
Mas... há uma parte de mim que não deixa.
A parte que antecipa a ilusão, e que vê uma realidade distinta, sem véu e sem tecidos bordados, sem magia e sem esperança. Porque eu sou feita de várias partes. Não somos todos?
E a parte que não ousa sonhar, que crava os pés no chão com tamanha força e determinação que sente os dedos afundarem na terra, não espera por nada. Aliás, espera. Espera pela desilusão, espera pela mágoa, para depois dizer "afinal eu era a parte que tinha razão".
Uma parte que procura pela falha em cada detalhe, que busca, feito um psicótico errante, desesperadamente por algum ato falho, pela palavra não dita e a toma logo como segredo obscuro, busca sôfrego e sedento pela mentira e enganação, e através da imaginação (tão fértil quanto pode ser a mente insana e alucinada), faz a sabotagem dos próprios anseios e desejos e oprime de forma tão violenta e bruta a vontade própria, que corta na própria carne os sentimentos cultivados até sangrar para o chão todo o afecto e todo o amor que desejava ter guardado.
Ai, essa parte de mim!
Parte venenosa, pontiaguda, fria e desconfiada, que se coloca na defensiva com os pêlos arrepiados e as garras de fora, inclina para baixo o pescoço, eleva os olhos fixos e fumegantes para cima, aguça os ouvidos e tenciona cada músculo e cada nervo do corpo, à espera do tão esperado desfecho, de quando cairão os sonhos por terra e as ilusões decapitadas pelo chão.
Treme de antecipação, ansiedade e gozo. Mas não, não há o que temer. Porque é a antecipação da vitória o que se antecipa, e não nenhum tipo de ataque. A tensão pressionada nas vértebras e nas articulações não pretende avançar, porque não crê sequer que vale a pena! Já não era desde sempre sabido que seria este o desfecho? Já não era então um facto de que os sonhos e esperanças todas terminariam feito cacos de vidros estilhaçados pelo chão? Atacar o quê, se em momento algum esta parte de mim acreditou ou foi enganada sequer?
Não... apenas relaxa-se a tensão, e com um sorriso macabro de miséria e vazio, esta parte de mim afirma-se com razão. "Vês? Eu já sabia. Bem feita. Eu avisei."...
E o que seria mais mordaz e mais fatal do que um ataque assim? Palavras de sabedoria e de certeza que perfuram mais que qualquer golpe, ataque, ferocidade ou mordida. Mata um bocado mais a parte bonita de mim. Mata a esperança e mata o sonho, mata a fé e mata o encanto, mata a força e mata a vida. Deixa no espaço em que havia o véu delicado, mágico e tão bonito, o escuro e uma casa vazia dentro de mim.
Há uma parte de mim, pode se dizer que uma parte importante de mim, precisa disto. Precisa acreditar nisto...
Acreditar não é o mesmo que tornar real? Qualquer parte de mim?
22 de fev. de 2024
Para o Dani
21 de fev. de 2024
Verbos (02/06/2010- edit 21/02/24)
13 de jan. de 2024
Comboio para Lisboa e o Ônibus para São Paulo
14 de jul. de 2022
Paciência
2 de jul. de 2022
Naquele instante
26 de jun. de 2022
Quem dera...
16 de jun. de 2022
Infinito
3 de jun. de 2022
OldTown Tree
Passaram-se anos, mas às vezes é como se tempo nenhum tivesse se passado e estou novamente em pé, a sustentar nas pernas os sonhos e medos muito maiores que eu, escondida atrás da aba do meu chapéu enquanto rezo em pensamento pela proteção invisível da árvore imensa que nunca cheguei a saber a espécie, mas que tanto me sombreava e amparava. Ou então ainda a gastar as solas dos ténis nas ruas calçadas de Lisboa, sem pensar para onde eu ia, ou se eu saberia como voltar, ou quantas ladeiras ia precisar subir depois.
Passaram-se anos.... mas novamente ainda lá estou. A vantagem é que talvez eu já não precise mais literalmente gastar as solas ou me esconder atrás do chapéu, para me sentir com as solas gastas ou escondida. Já aprendi como fazer. E novamente... lá estou eu.
É quando o coração mais aperta, quando não há mais nenhuma estrada e nem caminho, nem certezas e nem sonhos que justamente podemos escolher realmente e percebermos a essência de quem somos. E com alguma sorte, nos reencontramos a nós mesmos.
É por ter o coração assim apertado que mais decidido ainda estarão os meus passos - não é por não saber para onde caminho que preciso oscilar ou fraquejar das pernas, é justamente o oposto. É justamente por não haver estrada e nem caminho, destino ou parada que mais e mais forte tenho que caminhar. E seguir. E é por não existir qualquer certeza que desde que eu siga, tanto faz.
É por não existirem mais os sonhos que posso finalmente só viver.