2 de jul. de 2022

Naquele instante

Agora a tentar racionalizar eu já nem sei bem se foi apenas sonho
O tempo e todos os sentimentos que me abraçaram aquele dia
Sei apenas que depois acordou me o pesadelo medonho
E tudo que havíamos partilhado e sentido já não mais existia

Mas se fecho os olhos e me permito apenas sentir e lembrar
Nenhuma realidade antes pôde ser mais forte ou mais real
O castigo é ter como companhia apenas o mero recordar
Como se fosse possível beber veneno sem um resultado fatal

E que ingenuidade absurda foi a minha naquele instante...
Esperando conter todos os sentidos do mundo em um segundo
Sem depois sentir o peso e a ausência do ser distante
Esperando um desfecho melhor que me pudesse mudar o mundo

E que ingenuidade absurda foi a minha naquele instante...
A sorrir com o coração, a vibrar com toda a minha alma
Como se o destino não castigasse sempre quem foi amante
Como se pudesse existir dentro do meu peito depois qualquer calma...

E que ingenuidade absurda foi a minha naquele instante...
E que ingenuidade absurda foi a minha naquele instante.



26 de jun. de 2022

Quem dera...

Quem dera eu soubesse como me despir de todas as ideias que nasceram fora de mim, e que não condizem com meu espírito ou com a verdade do meu peito.

Quem dera eu tivesse a fórmula para descartar todos os valores, os conceitos e os ensinamentos que vieram por interesses distintos daqueles que promovem a minha evolução como ser humano e espírito.

Quem dera eu pudesse enxergar tudo o que reage em mim pelo meu ego ou apego, e assim pudesse descartar cada reação que não seja a do meu coração.

Quem dera eu conseguisse... por mim, e por todos os que me fazem tão enormemente desejar ser melhor e conseguir mais...

Quem dera fosse possível que eu fizesse... por nós

16 de jun. de 2022

Infinito

É o mesmo infinito aquele que dói e aquele que preenche. Aquele que faz o sangue congelar dentro das veias e o que ilumina as noites mais escuras.

É o mesmo infinito aquele em que me perco e que me torna às vezes possível encontrar-me.

É o mesmo infinito. Quem muda sou eu. O que muda é a circunstância. Para onde olha o olhar é que muda.

É o mesmo infinito que me faz crer e que me faz desesperar. Infinito... porque o sentir não conhece fim, limite ou espaço. O mesmo amor que voa alto e onipresente é do mesmo tamanho da dor que sufoca e aterra os sonhos e esperanças.

É o mesmo infinito que habita em todos os sentidos assim como são os mesmos sentimentos a vagar pelo infinito.

A questão é vagar...

3 de jun. de 2022

OldTown Tree


Passaram-se anos, mas às vezes é como se tempo nenhum tivesse se passado e estou novamente em pé, a sustentar nas pernas os sonhos e medos muito maiores que eu, escondida atrás da aba do meu chapéu enquanto rezo em pensamento pela proteção invisível da árvore imensa que nunca cheguei a saber a espécie, mas que tanto me sombreava e amparava. Ou então ainda a gastar as solas dos ténis nas ruas calçadas de Lisboa, sem pensar para onde eu ia, ou se eu saberia como voltar, ou quantas ladeiras ia precisar subir depois.

Passaram-se anos.... mas novamente ainda lá estou. A vantagem é que talvez eu já não precise mais literalmente gastar as solas ou me esconder atrás do chapéu, para me sentir com as solas gastas ou escondida. Já aprendi como fazer. E novamente... lá estou eu.

É quando o coração mais aperta, quando não há mais nenhuma estrada e nem caminho, nem certezas e nem sonhos que justamente podemos escolher realmente e percebermos a essência de quem somos. E com alguma sorte, nos reencontramos a nós mesmos.

É por ter o coração assim apertado que mais decidido ainda estarão os meus passos - não é por não saber para onde caminho que preciso oscilar ou fraquejar das pernas, é justamente o oposto. É justamente por não haver estrada e nem caminho, destino ou parada que mais e mais forte tenho que caminhar. E seguir. E é por não existir qualquer certeza que desde que eu siga, tanto faz.

É por não existirem mais os sonhos que posso finalmente só viver.

30 de mai. de 2022

Descalçar



Talvez, e não sei bem ainda, eu precise começar por me descalçar.

Descalçar mas não os sapatos, que estes já não uso. Preciso me descalçar dos passos que pensei dar. Me descalçar da direção dos pés, dos passos e de qualquer movimento - porque não há passos para dar.

Preciso aproveitar e também me despir. Me despir de todos os planos, de todos os sonhos, por mais sutís, enraizados ou escondidos que estejam... preciso buscá-los, cavá-los, encontrá-los à todos e um a um, para depois despí-los. Que não fique nem sequer o lenço ou a luva, nem a echarpe e nem a meia, que não sobrem brincos, laços ou enfeites de cabelo - é preciso encontrar e retirar tudo.

E depois, preciso limpar-me. Limpar-me de todas as esperanças e de todas as vontades, de todos os sonhos e de todos os desejos, para poder enxergar o que sobrará de mim sem eles. Sem os sapatos, sem as roupas, sem os acessórios...

E as esperanças são acessórios. Às vezes até chegam a ser verdadeiros casacos, botas ou armaduras. Como os sonhos... como os sentidos...

Preciso encontrar onde se escondem, para tirar delicadamente mas com firmeza todos e cada um deles. O que sobrar, o que restar, e só o resto que ficar, serei eu.

E talvez assim, se e quando sobrar só a essência e o vazio de mais nada, sem direção e sem vontade, sem sonho e sem expectativa, sem calor e sem frio, sem cor e sem perfume, sem futuro e sem passado, aí talvez conseguirei ser eu e mais nada - e não pensar... e não querer... e não sentir. Ser. Só.

Talvez só perca o por que.

24 de fev. de 2022

My thoughts are with you. 
If you can come, I can search for a place - my number is the same. Messages here I receive on time

31 de dez. de 2020

2020


 

2020…  que ano! Tudo virou um pouco do avesso, estagnou, parou e nos fez parar. Uma necessidade de adaptação e de reinvenção própria generalizada, de pessoas à empresas, de indivíduos à comunidades inteiras. Reinventar, fortalecer, sobreviver e ultrapassar. 2020, que ano!

E que privilégio imenso fazer parte dele, viver toda essa mudança, fazer parte dela!

Que lição impressionante e incrível o aprender a abster-se, a lutar e ao mesmo tempo, resignar-se, o desenvolver a capacidade de criar e ao mesmo tempo, fortalecer-se.

Claro que ainda é cedo, muito cedo para ver e sentir tudo que 2020 trouxe. Tudo tão custoso e difícil, dolorido, sofrido… sem falar nas perdas imensas e sem retorno, de pessoas, de saúde, de conquistas… Sem dúvida muito se perdeu durante todo este processo, que em 2020, começou. Não nos enganemos, 2020 nos ensinou em meio a outras coisas que claramente já não podemos mais desviar os olhos na esperança que as dificuldades passem, se alguém ainda pensa que sim… devia pensar novamente. Mesmo.

Não nos enganemos, pois. De olhos abertos e consciência desperta, há que saber: 2020 foi o início do processo. Foi a curva na estrada a indicar que o caminho é distinto, que a estrada é outra e que há imensas curvas, túneis, pontes perigosas e ladeiras íngremes e angulosas – mas que leva ao destino que importa. Que leva (e obriga) à interiorizar-se, a encarar as escolhas próprias, a assumir as consequências e a reconhecer que somos nós, única e exclusivamente nós, os “culpados” ou os “heróis” de nossa própria história – e que não podemos ter resultados melhores se não escolhemos fazê-los e construí-los nós mesmos.

Talvez, muito em breve, comecem a surgir outras perceções, como que por exemplo, não basta culpabilizar o governo ou o mundo sobre isto ou aquilo, se não formos nós, individualmente, a escolher diferente. Talvez, também muito em breve, se descubra que embora com muito custo e esforço, podemos alterar completamente o rumo de nossa própria vida e nos descobrirmos a viver de forma muito mais simples e imensamente mais feliz. Talvez, muito mas mesmo muito em breve, se saiba que a maior conquista, a maior satisfação e a felicidade plena estão juntas no mesmo lugar e dependem muito mais daquilo que de bom oferecemos, do que daquilo que queremos ou esperamos receber. Talvez… talvez seja mesmo já, já que 2021 está mesmo a chegar.

Feliz 2021!

11 de out. de 2020

A Casa Vazia

 



1 - Ainda demoras muito por aqui? É que assim não consigo fechar a porta…


2 - Eu gosto da casa vazia, por isso me demoro. Gosto da casa vazia porque preciso gostar, como precisar de precisão e de necessidade, senão dever.


1 – És estranha. Porque alguém gostaria de uma casa vazia?


2 – É por causa do amor que eu guardo. O amor que eu tenho precisa da casa vazia, do silêncio das vozes e do barulho dos pássaros, precisa das janelas abertas e do vento frio a arejar os espaços, do chão sem mobília e das paredes desertas e das portas trancadas com chave, que não deixam ninguém entrar.


1 – (…)


2 - O amor que eu tenho é denso e é pesado, é tão forte que carrega e levanta qualquer peso e qualquer espaço, qualquer dor e qualquer escuridão, é em si mesmo, uma brutalidade, uma violência, um furacão. Exige tanto, absorve tanto, dá tanto e faz tanto, que não cabe em si e nem no outro, é um buraco negro que alimenta-se de si mesmo e mais denso, mais forte, mais infinito em si mesmo, fica…


1 – E chamas isso amor?


2 – Chamo a isso a única forma de amor e de sentir que conheço… Mas eu sei que não cabe em lado nenhum, eu sei que não é aceito, eu sei que é intenso “demais”, mas é assim.


1 – E amas?


2 – Ora, não vês que não se pode? É por isso que eu gosto da casa vazia… por causa do amor que guardo. Aqui, na casa vazia, ele “cabe”.

22 de set. de 2020

26.09

Não vai dar para dar os parabéns, nem para desejar felicidades.
Há quem diga que é muito importante ligar, deixar recado, escrever... Há quem diga que é muito importante "dizer"...
Não concordo. Mais importante que dizer, é sentir. É ser. É fazer. É estar.
Há quem diga sem sentir, há quem sinta sem dizer...
E quantas razões podem haver para não dizer! Quantas! Tantas...
E eu que gostava das palavras, não mais as tenho... perderam o sentido, perderam o por quê... afinal, para quê?
Então só sinto, não é preciso dizer. Nem mais nada... porque nem sempre é possível fazer, realizar, viver. Às vezes há que calar, resignar, conformar, esquecer.
Mas acredito que tudo que se vive fica continuamente a acontecer, quem sabe talvez em um universo paralelo ou em alguma outra dimensão de realidade, há ainda uma repetição, um momento tão eterno que faz ser infinito o instante de um segundo.
E sim, há segundos que são eternos... que tornam-se eternos, mesmo depois que passam, porque não passam.
E sempre se pode voltar no tempo de olhos fechados e visitá-los. Porque é o que há, quando já não pode haver mais nada.
E muita gente já partiu, muita gente já foi, muito tempo já passou no intervalo de um minuto, muita dor que não se curou, muito amor que acabou, muito sonho que sobrou.
Mas alguns momentos são estáticos, eternos, imutáveis.
Algumas pessoas são marcos, são espadas, são palácios. São amor e são tortura, são paraísos e são pesadelos...
Algumas coisas apenas são... dentro daquilo que podem ser.
E nem é preciso dizer...
Porque afinal, mais importante que dizer, é sentir. É ser. É fazer. É estar. Há quem diga sem sentir, há quem sinta sem dizer...
E há quem diga antes, mesmo antes, sem sequer dizer... para na altura, já ter dito sem dizer e fingir esquecimento daquilo que já não se pode dizer... nem se pode mais sentir, e nem nunca se pôde.

5 de ago. de 2020

Mar

Acho que eu nunca tinha escutado o barulho do mar até ontem. Ou melhor... tenho certeza.
Eu nunca tinha escutado o som do mar até ontem... não com todos os meus sentidos.
Precisei esquecer o que eu sabia sobre escutar, para conseguir ouvir. Ou melhor... precisei esquecer tudo que eu sabia, sobre tudo.
E foi sem querer, sem perceber, sem dar por mim que percebi que aquilo que eu estava a ouvir era o barulho do mar. Não, não foi bem assim. Aquilo que eu estava a ouvir com a pele, era o barulho do mar. Aquilo que eu estava a ouvir com os olhos, era o barulho do mar. Aquilo que eu estava a ouvir com o meu olfato, era o barulho do mar. Assim é que foi. Aquilo que eu estava a ouvir a pulsar no meu corpo, era o barulho do mar.
E só pude ouvir porque eu tinha os ouvidos tapados, impedidos de escutar... porque só escutavam o que meus olhos viam, o que meu olfato sentia, o que minha boca provava, o que minha pele sentia.
Assim, como agora... agora que eu me lembro do barulho do mar de ontem. Como eu me lembro da luz da lua. Como eu me lembro de mim. Era ontem e era 30 anos atrás. Era ontem e era a menina ao pé das escadas ainda na escola. Era ontem e era tudo que eu precisava esquecer, para conseguir me lembrar de quem sou... e finalmente, conseguir escutar o barulho do mar.

24 de dez. de 2019

Reflexões Natalinas


Por vezes me chega uma espécie de silêncio que obriga o tempo e o olhar a parar, mudar o foco para dentro e traz reflexões que eu não esperava.
Quanto mais realista penso que sou, mais descubro ilusões perdidas a naufragar em algum lugar dentro de mim mesma, feito pequenos barcos de salvação que de nada salvam, só se perdem.
Percebo então que dos maiores desafios que me espreitam, está a necessidade de manter o realismo, perder as ilusões, sem entretanto deixar ir a luz e a esperança que confundimos existir devido as ilusões que mantemos, e não, não é nada disso.
Difícil é perder as ilusões, abraçar a realidade e ainda assim, mantermos acesa a luz em nós da gratidão por tudo que há e que pode haver – essa sim é a luz verdadeira, que não se produz de vácuo nem de fantasias, que não se faz de falsas expectativas ou de resquícios de sonhos da criança que já fomos um dia. Mas sim, podemos manter viva a criança em nós, que se contentava e satisfazia pela realidade que sentia e não pela realidade que ansiava. Que desafio!
Que urgência de consciência e amadurecimento é necessária para deixar cair por terra as expectativas e ilusões e alimentar-se da beleza que se conseguir perceber da realidade existente!
Tomar a consciência cortante do que existe agora e é real, sem colorir o que por si só possui a cor que possuir – e satisfazer-se com a cor existente. Tomar assim, dessa forma lúcida e clara, as escolhas possíveis e concretas, baseadas no real e não nos desejos ou esperanças; encontrar o encanto maior dentro das possibilidades existentes de escolhas e alternativas e assumir a responsabilidade por tudo que depende de nós ser feito ou alterado, com a visão límpida e objetiva de que tudo o que sonhamos, fantasiamos e esperamos é apenas projeção e desculpa para nos distanciar daquilo que realmente está em nossas mãos fazer, transformar, realizar.
Que tamanho equilíbrio e lucidez se fazem precisos para diante da verdade, conseguirmos ainda encontrar a chama vital que nos permite iluminar a nós mesmos e todos que temos por perto.
Que tamanha força e coragem temos que ter para verdadeiramente nos olharmos diante do espelho de nós mesmos e sem desculpas, justificações, culpas ou carências, assumirmos a vida que temos e o poder real que temos de transformá-la. E inclusive, perceber que podemos escolher não transformar coisa alguma, mas conscientes de que assim não temos ninguém mais para responsabilizar ou culpar para além de nós mesmos.
Tantas vezes pintei-me com as cores que eu queria ter, poucas foram as vezes que aceitei minhas próprias cores. Que difícil é gostarmos e aceitarmos o que vemos nós, mas como mudar seja o que for, se nem nos vermos com verdade conseguimos?
Para qualquer caminho, para qualquer passo e para qualquer destino que quisermos, há algo que se deve saber inteiramente em primeiro lugar... onde realmente estamos.

10 de dez. de 2019

...


Nos vemos, sem nos vermos…
Falamos, sem falarmos…
O ir ver se está, quando não se está…
Picos altos, onde entre um “ir ver” e outro, nem sequer deixa que 5 minutos passem…
Um pensamento contínuo, que por vezes torna-se cortante…
Um passar dos instantes, que intuímos, serão o passar das horas, e dos dias…
Um tentar acalmar o que não se acalma, um tentar deixar passar o que não passa…
Um tentar convencer-se de que não é nada… que não há de ser nada… que o tempo cura, esfria… faz esquecer.
Esquecer o que não se esquece, fingir que se ignora aquilo o que se sabe, fechar os olhos para aquilo que os olhos não conseguem deixar de ver…
Passarão as horas, passarão os dias, passará o tempo. Ainda não passa, ainda segura-se, acorrenta, esmaga, tortura, fere, faz a angústia espremer as artérias, faz a cabeça doer, faz o sono não chegar, faz a irritação querer gritar, faz os passos teimarem em correr…
Ando de um lado para o outro, para onde olhar, se nada mais consigo ver?
Deixo passar o tempo, que não passa…
Tento resignar-me, eu… que não sei o quê isso é…
Tento conformar-me…
Tento acomodar-me…
Tento esquecer…
Tento deixar que o tempo passe, tempo que não passa, que não quero deixar passar, que violento o mais sagrado de mim e de minha alma a tentar deixar que passe…
Então eu paro. Obrigo-me. Que escolha tenho? Nenhuma… … Uma… … deixar que o tempo passe…

6 de dez. de 2019

Realismo


Há pouco, vi meio sem querer uma foto. É engraçado como algumas pequenas coisas que vemos ao acaso tem o poder de nos fazer parar e realinhar as coisas dentro de nós.
O que vi não retrata necessariamente qualquer realidade, uma vez que há universos e mundos escondidos por detrás das aparências, mas fez-me realmente parar e refletir.
Refletir sobre mim mesma, as coisas que prezo e considero fundamentais na vida, sobre meus caminhos e minhas escolhas, minhas consequências e preços que me disponibilizo a pagar para manter preservados meus próprios valores.
Me dei conta de que atualmente o aceitável é a mentira, enquanto que tornou-se condenável a verdade. Poucos são os que recebem de braços abertos a verdade das coisas, são inúmeros os que optam pelos caminhos tortuosos das diplomacias e do tato, que escondem, manipulam e deixam sujeitas às interpretações as verdades mais profundas.
Me dei conta que basta alguma ligeira desatenção, e me vejo emaranhada em histórias e contextos que não são os meus, sujeitando-me às dúvidas e incertezas que não são as minhas, aos conflitos e dilemas que não me pertencem, às comodidades de alma que não quero, às zonas de conforto que repudio. Bastou ver uma foto, e naquele instante, antes de colocar em seus próprios sítios os meus próprios sentimentos, o primeiro instinto que tive foi o da serenidade, da paz e da harmonia que desejo aos outros.
Foi desejar com toda a sinceridade da minha alma, a pacificação dos aflitos, a recuperação dos ressentidos, a verdade mais profunda e absoluta para aqueles que não aprenderam ainda a valorizá-la.
Nem sempre os finais serão como desejamos, nem sempre a vida será tão cor de rosa quanto gostaríamos, mas não haverá nunca e com toda a certeza, a felicidade oculta em enredos, falsas verdades, interpretações dúbias ou no falso consolo das palavras mansas que nada são para além de uma diplomacia escondida atrás da desculpa da fraqueza ou da mediocridade.
A verdade é dura, porém limpa. Pode ser cortante, porém libertadora. Pode doer, porém, é a única forma de libertação rumo à verdadeira felicidade e essência do ser.

23 de nov. de 2019

Vocês


Demorei muitos anos para me entender. Ainda não consegui entender muita coisa de mim mesma, e quando parece que chego mais perto, descubro que falta ainda um longo caminho para percorrer.
De todas as minhas perguntas sem resposta, uma sempre me inquietou e desassossegou mais: “Por que tive que vir para tão longe? Por que continuo?”
Em momentos assim, parece ainda mais difícil encontrar uma explicação, um sentido, uma resposta.
Então poucos dias atrás escutei vindo de algum lugar de mim mesma a comparação: “o que é necessário x o que é importante”, e me fez todo o sentido do mundo.
Importante, não há dúvida nenhuma: são as pessoas que amo, vocês. E nada é mais importante que isso.
Mas o necessário foi e é outra coisa: Refazer e fazer a minha vida.
Custa e vai custar muito, sempre, que as duas coisas não consigam estar em equilíbrio e não signifiquem o mesmo espaço e o mesmo lugar, mas a verdade é que não significam. Dentro de mim, há um grito constante que me pede para aprender sempre mais, para descobrir minhas próprias capacidades, força, a me desafiar e a criar de alguma maneira um caminho feito por meus próprios pés e escolhas, e é uma chatice tremenda sentir essa urgência, essa necessidade… que me faz não descansar no amor e no colo de vocês deste desassossego tão grande e constante.
E também há um sentimento de culpa sorrateiro, que volta e meia me assombra e sussurra a me perguntar porque tem que ser assim. Não sei, não sei porque é que tem que ser assim. Eu queria que não fosse, de verdade… Mas é.
E então percebo que é impossível fazer com que o necessário e o importante signifiquem a mesma coisa. Vocês jamais deixarão de ser a parte mais importante da minha vida, ou de mim. Não importa quantos desafios, força ou capacidade eu desenvolva. E nem deixa de ser necessário que eu siga um caminho que me ponha à prova, que me desafie a encontrar dentro de mim mesma o conforto e sensação de auto-realização que só este caminho fora do aconchego e da zona de conforto consegue provocar.
Encontrei alguma paz ao perceber a diferença entre o importante e o necessário, ainda que me acompanhe o peso de não ter comigo lado a lado, dia à dia, o importante: vocês.
Sem dizer o quanto me custa não estar aí agora, sem me fazer de vítima por minhas próprias escolhas, só o que consigo saber e responder para mim mesma é que sempre o mais importante para mim estará em vocês.

19 de out. de 2019

Fui navegar


Fui navegar…
Não trouxe comigo muitas e nem grandes coisas, deixei de propósito as malas para trás. Não havia nem há necessidade de carregar excesso de peso ou de bagagem.
Fiz questão de deixar também para trás as lembranças, algumas custaram mais para deixar, mas por vezes só através do esquecimento é que se consegue seguir…
Fui navegar, não sabia para qual espécie de mar e não achei importante conferir a previsão do tempo, que fosse o tempo que tivesse que ser.
Também não preparei mapas ou datas, não tinha nem tenho um cronograma para seguir, fui apenas navegar.
Faz já alguns anos…
Faz já algum tempo, que saí para navegar. O barco nem sempre esteve presente e por algumas vezes, tive mesmo que simplesmente aprender a nadar.
A bagagem que não carrego fiz bem em não carregar, o mapa que não tenho fiz bem em não seguir… Os cronogramas, fiz bem em não me aprisionar.
Fui apenas navegar…
E conforme abriu-se diante de mim o mar, e conforme não sei e nem sabia ler as estrelas e nem me orientar, fui apenas me deixando levar.
Fui navegar… e com o passar do tempo que não soube medir, conforme as águas que eu não soube identificar e as tempestades que apenas vi passar, deixei de ser navegante… deixei de ter barco… tornei-me mar.

2 de out. de 2019

Não me recordes do futuro

Ainda é presente,
Ainda não acabou.
Segura, segura com todas as forças o tempo,
Não deixa o tempo correr, não deixa o tempo passar...
... Mas se não passa, não chegará o momento... e não nos encontraremos...
Melhor não nos encontrarmos?
Melhor o tempo passar... ou não passar?
Calma, ainda é presente...
Calma, ainda não nos encontrámos...
Calma...
Mas não, tu não me recordes do futuro,
Que ainda nem sequer nos encontrámos,
Como poderemos nos despedir?
Ainda é presente...
Não me recordes do futuro...
Ainda não nos encontrámos.

22 de set. de 2019


E então eu simplesmente compreendo
Porque um dia tudo o que quis foi compreender,
E não importa se algo está doendo
Se o ganho futuro for maior que o quê se perder.
Importante é não haver nenhum julgamento
É deixar que entre para quem pode, a felicidade,
Porque a vida não deve ser nenhum tormento
Nem deve haver espaço para qualquer falsidade.
Se há, em algum lugar, chance para o equilíbrio
Que não seja nunca eu causa de turbulência,
Ainda que me sobre algum martírio
Sou do tamanho de minha consciência.
Que seja o mundo inundado de alegria
Que vivam os olhares cheios de energia,
Que vibrem os corações de euforia
Que prevaleça na vida a pura magia.
Eu, eu não preciso de quase nada
Basta o sol, o vento e a lembrança,
Bastam meus pés e alguma estrada
Que eu já não preciso de esperança.
Me basta a força de poder caminhar
Que o caminho faço só mesmo a andar,
Não preciso mais ter em que acreditar
Não preciso do sonho, para poder acordar.
E que no trajeto eu possa apenas semear
Coisas boas, singelas… para alguém colher,
Quem sabe alguém também se inspire a plantar
E assim o mundo será muito mais belo de viver.
Que sempre existam sorrisos, mesmo que eu não os possa ver
E que sempre exista amor, mesmo que eu não o possa sentir,
Que sempre o melhor da vida se possa escolher
Mesmo que seja eu quem tenha que partir.

5 de set. de 2019

Interrompido


Não há potencial maior que o potencial que reside no inesperado,
Nem beleza mais profunda que aquela que habita na simplicidade.
De desconhecido, passa-se num instante à mais que desejado,
E do encontro improvável faz-se de repente o buraco da saudade.

Pouco à pouco fica perdida a pergunta sem resposta no tempo,
Fica pendente o que poderia ter sido um apertado laço.
Leva o infinito as lembranças nos braços do inexorável vento,
Perde-se em penumbra o que foi um sincero abraço.

Linhas que escrevo sem pensar, em memória ainda presente,
Palavras que flutuam sem saber se são gratidão ou lamento.
De que importa o amanhã, se deprime o que agora se sente,
De que vale a negação senão para tornar-se tormento?

Não importa, uma vez que toda escolha é sempre válida,
Uma história que se vive, ainda que não seja bem acabada.
Uma lembrança que será enquanto viva sempre cálida,
Ainda que em páginas perdidas em uma gaveta fechada.

15 de ago. de 2019

Farol



Eu não sabia. Não sabia nada de nada. Mas seguia… Sigo. Sigo sempre, mesmo sem saber bem para onde, ou por quê.
Então feito presente, feito surpresa e feito susto pouco a pouco uma Luz surgiu.
Dos meus medos, sempre tão grandes, surgiu a dúvida se seria mesmo Luz ou se seria imaginação.
Ainda sonho? Ainda espero? Ainda acredito? Não sei…
Não sei se foi a Luz ou se foi a ideia da Luz que me despertou, mas despertou.
E desperta, lembrei-me do instante em que escolhi arriscar o tudo pelo nada, já anos atrás, e de como nunca foi o resultado disto o mais importante, e sim todo o trajeto que fiz e a pessoa que me tornei.
Agora a Luz, a ideia da Luz ou a lembrança de Luz me fazem lembrar que tudo se pode, quando se tenta… quando se arrisca acreditar mesmo naquilo que não conseguimos ainda ver.
(E como eu queria partilhar o conhecimento interior, verdadeiro e inequívoco do saber que se há espaço para pensar, há espaço para fazer. Mesmo que não seja o que pensamos, mesmo que o destino acabe noutro sítio, mesmo que o fim não seja aquilo que pensamos, o caminho nos dá sempre mais e melhor do que o destino que imaginamos… porque nos devolve à nos mesmos de uma maneira que jamais poderíamos sequer pensar.)
E assim, de olhos meio abertos e meio fechados, como matéria que também sou, tomo consciência de que não sei se é a Luz ou a ideia da Luz que me move, só sei que me move… e me faz mover.
E tudo nos seus lugares (que são lugares nenhuns e incertos – e certos por assim serem), olho em frente e vejo um abismo que nem sei quão profundo é, nem quão longínquo está. E só o que sei, e sei com toda a certeza de cada poro e de cada célula em mim, é que é hora de saltar.
E que o destino seja o que tiver que ser, já que o que dá asas é o próprio saltar.

14 de abr. de 2019

40!


Antes de virar mais um ciclo há que se ter a lembrança da coragem de outrora, da vitalidade e da força que já existiram e assim, meio “à maluca” e meio que para lembrar-me de mim e de que não basta as vezes sonhar e querer, mas sim há que mover-se, faço uma nova versão do que foi feito a quase exatos 10 anos atrás.

10 anos atrás fui para o abraço da minha irmã, cruzando o Atlântico. Antes, tomei a coragem para desafiar-me a estar comigo (possivelmente pela primeira vez), amparada pela certeza do abraço e pela vontade de me descobrir.

Agora, sabendo que o mesmo abraço me espera, 10 anos depois tomo a coragem para ir (mesmo que assim, rapidinho) cruzar o Mediterrâneo.

Nada demais, visto como quem vê os caminhos que se fazem sempre acompanhados. Um pouquinho de frio no estômago, quando o que te leva são só os seus próprios pés e descobertas.

No fim o abraço que se vai ter serve muito mais do que uma recompensa, serve de estímulo para que eu possa lembrar-me de quem sou.

(Quem sabe até troco o caminho com meus pés por caminhos à camelo :P)