4 de ago. de 2011

Presente

Olha só, eu não falei das rosas e como pode ser isso? Não falei das pétalas gigantescas que se abrem sem alarde, nem das gotas pequeninas de orvalho que ficam a tremular no vermelho intenso a refletir todas as cores e raios do sol que nasce em silêncio.

Nem falei do canto dos passarinhos, que tanto se fazem presentes em todo e qualquer dia, seja um dia bom ou menos feliz.

Não que eu tenha me esquecido de dizer tudo isso, pois claro que tal esquecimento não existe, mas talvez meus olhos tenham se virado noutra direção.

Não falei das cores do céu quando o sol resolve ir descansar, e nem das águas cristalinas que correm um passeio sem pressa para encontrar o mar. Mesmo o mar, como posso não ter dito nada sobre esse universo azul tão profundo, a casa de tantas almas e tantos corações? Acredito que as vidas não vividas encontram no mar seu repouso e esperança.

Mas não falei eu sobre nada disso, não é mesmo? Como se minha voz tivesse se voltado para dentro e calado em meu peito todas as minhas visões e verdades. Não contei sobre a alegria de animais brincando no tapete verde dos gramados, ou sobre a eternidade que se enxerga ao olhar para as árvores antigas e suas folhas ao chão...

Sem falar nada disso, como posso ter pensado que era eu capaz de dizer algo de valor? Ou importante?

Deixa-me ficar sobre a terra e ficar com meus pés dentro dágua, deixa-me olhar o céu e ver as nuvens passarem, que o agora é para sempre e também eu um dia vou passar, mas o agora passa nunca.

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