23 de abr. de 2013

Especial



Especial mesmo foi ter vivido até aqui. Foi ter tido esse tempo de viver tantas vidas, tantos sentimentos, encontros, desencontros... especial mesmo foi ter tido a chance de aprender a cada um desses ciclos e passos.

Especiais são as pessoas que fizeram tudo isso possível de acontecer. As pessoas que encontrei e desencontrei, que me fizeram sentir um pouco de tudo, dando-me assim a certeza de estar viva.

Especial é estar aqui nesse momento com o peito cheio de ar, os olhos cheios de cores e o coração cheio de memórias e histórias de viver – e reviver.

Mais que meu aniversário, comemorei a decisão e coragem que existiu no coração dos meus pais há mais de trinta e quatro anos atrás – quando todas as escolhas eram possíveis e a escolha feita foi a de mim.

E essa é a essência que carrego para além da minha própria – as partilhas e passos realizados.

E quando alguém me pergunta sobre o futuro, minha resposta ainda é a mesma... eu não sei. Sei que quero matar as saudades que carrego – se os caminhos para lá levarem. Sei que quero partilhar e aprender mais – enquanto houver força e vontade. Sei que sem saber do amanhã, o hoje é cada vez mais vivo, mais colorido.

Sei que especial mesmo não sou e nem fui eu. Foram e são todos... e o especial é ter feito e fazer parte disso – viver.

17 de abr. de 2013

"Quando na velhice me faltar memória, que eu seja capaz de me lembrar ao menos dos rostos e dos risos, ainda que me faltem os nomes" Agape

29 de mar. de 2013

"Términos são como cirurgias. Pode não dar muito certo, dá medo, dúvida, dói - mas depois cicatriza" Agape

14 de mar. de 2013

Bom dia!



Hoje, não sei por que, como se eu estivesse sentada na mesa da cozinha, nas cadeiras de ferro que as vezes tem o acento caindo para um ou para outro lado.

Como se eu tivesse acordado agora pouco, e o cheiro de café já chegasse ao corredor, chamando-me pelo olfato para sentar e acordar sem pressa.

Esperar pelos barulhos conhecidos dos latidos, dos passarinhos, e quem sabe até de alguma brisa que chega fazendo balançar os galhos das árvores ali perto.

Escutar alguns passos vindos do corredor, até que ao mesmo tempo que o som chega aos meus ouvidos, chega também aos ouvidos caninos espalhados pelo chão da cozinha, fazendo-os todos levantar juntos, como num coro já afinado, e irem de encontro à porta para saltar e saldar o mais novo acordado da casa.

Partir o pão, colocar açúcar na xícara, segurar a garrafa de café tentando medir seu peso e assim avaliar quantas xícaras mais terão ali dentro, pequenos rituais que sei, não faz mal quantos dias, semanas ou meses se tenham passado, tudo ainda persiste e existe ao longe.

Esperar entre um gole e outro enquanto se forma o pensamento sobre o que colocar entre as metades do pão recém cortado... queijo? Presunto? Manteiga? Geléia?

Esperar entre respirações e pensamentos, imaginações, cumprimentos, conversas e risadas o desenrolar da manhã, que se fará tarde, que se fará noite.

A calma do relógio que bate, como que a espera e ao mesmo tempo sem espera ou pressa alguma. O passar dos minutos, os barulhos se intensificando e o dia avançando.

Cheiro de café, pois é necessária mais uma garrafa enquanto mais e mais pessoas chegam para saudar o dia.

Há quanto tempo foi o último café? Haverá em algum canto da mesa uma xícara de café já muito frio, como havia a xícara de manteiga na varanda em “Sete anos no Tibet”?

Talvez não exista a xícara, nem necessidade da manteiga ou do café, uma vez que justo agora, mesmo agora, posso sentir o cheiro do café na nova garrafa, e escutar os pássaros que cantam nas árvores ali ao lado... ouvir passos vindos do corredor, e junto com os cães, aguçar os ouvidos para saudar alguém que vai surgir atrás do ranger da porta e dos saltos caninos: Bom dia!

Só opiniões...



Hoje uma das gaivotas que costuma sempre vir saudar meu dia ficou especialmente perto, especialmente em silêncio, especialmente sem estar a espera de nenhuma comida (depois da barriga cheia), apenas atenta a me observar em cada movimento, como se eu fosse o animal preso e ela, livre...

(... e não sou? E não é ela o ser livre?)

Enfim, enquanto a observava me observar, me pus a imaginar... E se...

E se ela pudesse voar longe, mesmo bem longe, e encontrar as pessoas que aqui não encontro, e se pudessem falar e conversar...

E se ela fosse dizer sobre o que viu e que vê aqui, todos os dias, dia após dia... O que ela diria?
E se agora ela pudesse me ler os pensamentos, eu estaria a dizer que se ela pudesse voar tanto, e tão alto, e tão longe...

Poderia ela dizer e contar não o que eu digo, não o que eu gostaria que ela dissesse e contasse, mas simplesmente o que ela viu, e vê... o que ela diria?

Se ela, que vem me saudar todos os dias, por horas e horas a observar... o que ela vê? Como ela enxerga o que eu vejo? Enxerga ela o que eu penso, ou enxerga ela o que eu faço? Aquilo que eu penso, aquilo que eu digo, é realmente assim, como é aos meus olhos, aos olhos dela?

O que eu digo e penso ser bom, é realmente bom aos olhos dela? E se...

E se ela puder me entender, entende que eu quero que ela diga só o que vê? Não o que pensa, não o que digo, mas apenas e sem tomar partidos, aquilo que vê?

Pode alguém se colocar tão “à parte” a ponto de relatar fatos, e não opiniões? Alguem imune o bastante às próprias interferências de opinião?

E se as pessoas não podem, podem então as gaivotas?

E se assim fosse... gaivota que ainda agora me observa... e se você pudesse mesmo voar tão alto, e tão longe... você diria apenas o que vê? E se pudesse, o que você vê? ... É bom?

E se me pudesse responder... quando você assim fica a me observar... quando olhas para mim, o que vê você?

(Procuro eu com a resposta da gaivota fatos que já conheço ou afinal a opinião dela?)

25 de fev. de 2013

Felicidade?

Quem sabe, há de chegar o dia em que serei de fato livre. Porque me é difícil perceber a liberdade quando sou prisioneira de mim mesma.

Hoje acordei refletindo sobre felicidade. Por que as vezes me pego a pensar e a fazer planos para “um dia feliz”? Penso ser apenas uma questão de contexto e de ego.

Contexto, porque se eu vivesse em uma terra de guerra e de fome, um dia sem mortes e com comida seria claramente um dia feliz. E uma questão de ego porque na falta de uma necessidade urgente (como sobrevivência e fome) as necessitades que restam são as necessidades do ego.

Quem me dera ser livre do ego, e usufruir da abundância que existe sem avaliar as faltas – existem faltas sequer?

Posso procurar a felicidade dos dias em inúmeros lugares, cidades, países. Posso procurar a felicidade na companhia de inúmeras pessoas, animais, campos e paisagens. Posso ir e vir a qualquer lugar e a qualquer lado, e a procura ainda assim irá durar eternamente enquanto meus limites forem minha própria humanidade.

Por diversas vezes pensei em me voluntariar para países e situações extremas, onde residisse a felicidade simples – no sobreviver. E mais uma vez, a minha felicidade estaria no contexto a minha volta, e não de fato em mim.

O contexto me faria feliz ao perceber que sobrevivi mais um dia. Quantos dias já sobrevivi até aqui, e quantos dias de fato me fizeram sentir alegria apenas por isso?

Posso adquirir conhecimento, posso viver experiências, me aventurar a lugares desconhecidos e até sentir imenso orgulho e prazer por estar em minha própria companhia, mas estarei ainda assim limitada por uma felicidade dependente de meu contexto atual e do meu ego.

Felizes são os que ignoram as próprias limitações.

19 de fev. de 2013

Datas



Tem anos que passam pelo calendário da mesma forma com que passamos por eles. Festejamos o primeiro e o ultimo dia deles com as datas de festa, férias e feriados pelo meio, acontecimentos e ocasiões até a chegada de um novo calendário.

Mas existem anos em que não são necessárias as datas para marcarmos o que quer seja, pois de alguma forma os dias gravam-se em nós.

Não são os anos que se tornam bons ou ruins, de grandes acontecimentos, melhores ou piores - mas sim a nossa maneira de vivê-los.

Acontecerão perdas, vitórias, derrotas. Fatos mais ou menos marcantes, mas será sempre a nossa forma de viver cada acontecimento que fará com que o ano fique ou não gravado em nós.

De alguma forma, é como segurarmos entre as mãos a água do oceano. A água passará entre os dedos, deixando um pouco de sal que logo também não deixará vestígio. O que fica, e sempre poderá ficar é a sensação da água salgada em contato com a nossa pele. Assim como o que cada dia representa, como vivemos cada um deles. Não é uma questão de ano, mas de um dia por vez. Ao colocarmos o melhor de nós em cada dia, teremos colocado o melhor de nós em um ano, em dois, em nossas vidas.

Não posso dizer que ao olhar para trás fiz isso em toda a minha vida, mas posso experimentar dizer que tenho feito isso ha pouco mais de um ano. Não tenho ganhos para mostrar, nem medalhas, nem reconhecimentos. Pelo contrário, posso dizer que tenho menos do que eu tinha antes. Menos bens, menos coisas, menos tempo ocioso em frente a televisão ou ao computador, menos horas de sono acumuladas, mais horas vividas. Também não tenho por perto todas as pessoas que eu costumava ter, talvez tenha até mesmo perdido contato com algumas. Mas conquistei outras coisas e também outros valores. Se eu fosse colocar em uma balança, não sei se pesariam mais os ganhos ou as perdas, mas sei que a balança teria o peso certo que deveria ter.

Penso que a maior conquista nesse último ano, para além da liberdade de conhecer-me melhor, foi ter descoberto meu próprio código de conduta, o que me faz mais ou menos feliz, mais ou menos completa.

O sabor que alguns anos tiveram não voltará a ser sentido, assim como a água salgada que já voltou para o mar. Tenho a lembrança do sabor, e mãos para experimentar novas águas, que poderão ficar igualmente marcadas cá dentro. Não acredito que exista uma receita para um ano bom, ou para um dia bom. A única receita que conheço é tentarmos ser o melhor que somos. O resto, o calendário leva com suas folhas.

1 de jan. de 2013

Nem só de flores são feitos os jardins



Nem só de flores são feitos os jardins...

Nem só de flores são feitos os jardins,
Nem tão pouco só de cores feitas as pinturas.
Nos jardins flores, pedras, capins.
Nos quadros cores, formas, figuras.

Nem só de risos acontece a infância,
Nem só de amores os amantes.
Criança também aprende tolerância,
Amores podem tornar-se errantes.

Que nem só de flores são feitos os jardins,
Nem só de paz e riso é feita a vida.
Inícios cedo ou tarde conhecem fins,
Chegadas um dia encontram a partida.

Não é de apenas luz que são feitos os dias,
Há sombras, chuvas e vendaval.
É preciso mais que força para fazer o que querias,
Nem todos os dias são de carnaval.

Porque não são só de flores que se fazem os jardins,
Não é apenas amor o que habita um coração.
No céu nuvens, sol, lua, estrelas e até querubins,
No peito amor, raiva, paz, dor, fé e perdão.