12 de jun. de 2025

Mosaico

Ainda não tenho todas as peças, nem todos os pedaços.
Os que possuo, ainda não adquiriram forma, apenas vão, pouco a pouco, juntando-se.
Peguei pedaços da longa viagem, das experiências em locais distantes, uns mais passageiros e fugazes que outros, uns mais coloridos e alegres, outros mais escuros e afiados, para além das cores neutras, há aquelas mais quentes, e também as mais frias.
Ainda são apenas pedaços, que embora alguns pareçam mais inteiros que outros, são apenas pedaços.
Junto ainda outros quantos, que misturam-se àqueles mais longínquos no tempo com os mais recentes, e mesmo os atuais.
Pego do trabalho cotidiano a força e a resiliência, junto com a determinação dos trabalhos académicos, misturo com a paz e o silêncio das noites, adiciono o carinho e afeto da companhia constante de 4 patas de um rabo incansável, e vou formando a figura e desenho que ainda desconheço.
Olho serena e vejo ali, nos cacos já encaixados, a primeira viagem de avião e as primeiras despedidas, reconheço as cores mais ao lado das despedidas finais, dos abraços que foram dados pela última vez, dos primeiros encontros e de todas as ilusões que cada caco reúne. Não adivinho o desenho que se vai formando, mas reconheço-me inteira na forma que toma.
Talvez, um dia, suas formas e contornos sejam mais nítidos, talvez afinal, seja apenas arte abstrada quando acabar, mas nunca foi importante a figura final, senão a sua própria construção.
E assim, pedaço a pedaço, caco a caco, vou construindo o amontoado de cores e de formas, para ver, através do espelho em que se transformam, que os pedaços sou eu.

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