Por vezes me chega uma espécie de
silêncio que obriga o tempo e o olhar a parar, mudar o foco para dentro e traz
reflexões que eu não esperava.
Quanto mais realista penso que
sou, mais descubro ilusões perdidas a naufragar em algum lugar dentro de mim
mesma, feito pequenos barcos de salvação que de nada salvam, só se perdem.
Percebo então que dos maiores
desafios que me espreitam, está a necessidade de manter o realismo, perder as
ilusões, sem entretanto deixar ir a luz e a esperança que confundimos existir
devido as ilusões que mantemos, e não, não é nada disso.
Difícil é perder as ilusões,
abraçar a realidade e ainda assim, mantermos acesa a luz em nós da
gratidão por tudo que há e que pode haver – essa sim é a luz verdadeira, que
não se produz de vácuo nem de fantasias, que não se faz de falsas expectativas
ou de resquícios de sonhos da criança que já fomos um dia. Mas sim, podemos
manter viva a criança em nós, que se contentava e satisfazia pela realidade que
sentia e não pela realidade que ansiava. Que desafio!
Que urgência de consciência e
amadurecimento é necessária para deixar cair por terra as expectativas e
ilusões e alimentar-se da beleza que se conseguir perceber da realidade
existente!
Tomar a consciência cortante do
que existe agora e é real, sem colorir o que por si só possui a cor que possuir
– e satisfazer-se com a cor existente. Tomar assim, dessa forma lúcida e clara,
as escolhas possíveis e concretas, baseadas no real e não nos desejos ou
esperanças; encontrar o encanto maior dentro das possibilidades existentes de
escolhas e alternativas e assumir a responsabilidade por tudo que depende de
nós ser feito ou alterado, com a visão límpida e objetiva de que tudo o que
sonhamos, fantasiamos e esperamos é apenas projeção e desculpa para nos
distanciar daquilo que realmente está em nossas mãos fazer, transformar,
realizar.
Que tamanho equilíbrio e lucidez
se fazem precisos para diante da verdade, conseguirmos ainda encontrar a chama
vital que nos permite iluminar a nós mesmos e todos que temos por perto.
Que tamanha força e coragem temos
que ter para verdadeiramente nos olharmos diante do espelho de nós mesmos e sem
desculpas, justificações, culpas ou carências, assumirmos a vida que temos e o
poder real que temos de transformá-la. E inclusive, perceber que podemos escolher
não transformar coisa alguma, mas conscientes de que assim não temos ninguém
mais para responsabilizar ou culpar para além de nós mesmos.
Tantas vezes pintei-me com as
cores que eu queria ter, poucas foram as vezes que aceitei minhas próprias
cores. Que difícil é gostarmos e aceitarmos o que vemos nós, mas como mudar
seja o que for, se nem nos vermos com verdade conseguimos?
Para qualquer caminho, para
qualquer passo e para qualquer destino que quisermos, há algo que se deve saber
inteiramente em primeiro lugar... onde realmente estamos.
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