34 anos que nos últimos anos,
pareceram décadas. Nos últimos três ou quatro anos vivi tanto e tantas coisas,
que a definição do que chamamos “tempo” ficou meio que ridícula e absurda...
Lembro-me de Albufeira e meu
pensamento se volta para São Joaquim da Barra... O cérebro se revira e volta a
Santos, pulando para Silves e Alvor.
Cada lugar uma história, uma vida
inteira... E Portimão então?! Não só uma vida, mas o pedaço de uma eternidade,
de um próprio pedaço de mim que lá está entre gatos, árvores, horta e cães. Um
pedaço tão grande que me faz estar lá, enxergar, ouvir, sentir lá... Minha
querida amiga!
Aliás... Para além desse imenso
pedaço de mim existem outros... Menores e talvez ainda mais delicados,
frágeis...
Um pedaço em Lisboa, terra tão
linda! Tão amada, tão querida! Lisboa é, definitivamente, um pedaço de mim. De
CCB à Gulbenkian, ao Bairro Alto, Mártires da Pátria ao Rossio, ao Marquês... Um
grande pedaço de mim! Talvez também pelos olhos que se tornaram para mim, os
olhos de Lisboa... Com a mesma luminosidade e brilho que Lisboa tem quando o
sol dorme, com os cabelos lisos e compridos como o vento a soprar pelo Tejo...
A voz, o sussurro que mais meus ouvidos esperaram ouvir, a sonoridade da
própria Lisboa através do fado ou de uma estonteante guitarra portuguesa... Ah!...
Lisboa!!! Ah!... Meu amigo...
Um pedaço lá em Silves... Terra
tão distante e tão pertinho... Um mundo com um universo de raiz em mim... O
canto dos pássaros, o barulho dos ventos, as estrelas (ah... as estrelas!)
daquele céu. O céu da minha alma, o sangue do meu coração. O arrepio e o tremor
da minha pele, a vida que as veias conduzem ao meu ser. O barulho ao fechar o
portão, a brisa fresca no rosto, a terra firme aos meus pés, as estrelas sobre
mim... Minha alma chora emocionada ao constatar: é verdade! É vivi isso! Eu
realizei isso! Eu me permiti apenas ser... Em algum lugar, tão longe e tão
perto, esse mundo existe, persiste, sobrevive, vive dentro de mim. Uma espera
meio que sempre constante, um paraíso, uma casinha, um refúgio para a
felicidade... Um amor para a vida inteira e mais além.
Não dá para não falar das
noites... As noites quentes, ferventes de verão e as noites frias, escuras do
inverno...
Albufeira... O abandono e o
encontro, a chegada e a partida. A solidão... E a tempestade. Albufeira não é
um pedaço, é um buraco, é um estupro. É uma violência, uma paixão... Uma
loucura insana, uma insanidade louca. Todos os lugares e lugar nenhum, lugar
nenhum e todos os lugares. Lá eu cresci. Lá eu aprendi. Lá eu sofri.
Um sofrimento grato, uma
melancolia saudável. Vi-me só e tinha o mundo ao meu redor. Tinha o mundo ao
meu redor e me senti... Só... Amigos que foram mais que amigos, deram a força
para continuar. Deram a vida que tinham nas veias, para que as veias
continuassem a pulsar. Das personagens clássicas às anônimas, às ocultas, às do
holofote. Mandinho e seus cães... Como vão vocês? Saudades de Albufeira... Das
paisagens e das rochas, das pessoas e dos barulhos, das sombras e dos
silêncios.
Pedaços de mim por diversos
lugares, pedaços de mim que levo comigo e que ficaram espalhados, dividindo-me
ao meio.
Olhar onde estou agora, como se
eu estivesse a resgatar pedaços ainda mais distantes de uma vida que já foi há
muito tempo atrás, como se o tempo que distanciasse as histórias tivesse o
poder de juntá-las todas em um determinado espaço – o espaço em que vivo agora.
Vejo-me por aqui ainda criança,
as aventuras, alegrias e tristezas. Um lugar de onde saem as raízes e as
árvores, onde a Terra para de girar um pouco para que possa ser tomado novo
fôlego.
O ano novo não é hoje, foi quando
voltei. Para me despedir dos anos velhos, para abrir espaço para os novos anos.
2014 e eu não sei se terei comigo
todos esses pedaços reunidos, ou se terei em algum dia. Talvez eu me parta em
ainda mais novos pedacinhos, os de pessoas que entraram e vão entrando na minha
vida como novos capítulos de novas histórias... Mas espera, espera!!! Tenho
ainda tantas histórias que não passei sequer para o papel!!!
Lisboa ainda não foi escrita,
mesmo que a história principal tenha encontrado um capítulo novo com mais
espaços e parágrafos...
Silves ainda existe e existirá
sempre, nem tudo foi escrito... Nem tudo foi vivido ainda...
Albufeira não posso dizer em que
ponto está, pode ser escrita, mas ainda não foi...
E Alvor? E Portimão? E Évora? E
Monsaraz? E outros pedaços, mais dispersos, como Fátima, Espanha, Figueira da
Foz? E Brasil? E São Joaquim da Barra, Cordeirópolis, Santos?
Há muito ainda o que escrever, o
que lembrar, o que reviver...
Espaços novos sendo abertos, o
universo se multiplicando ao infinito nos pedaços que se despedem e voltam para
dentro de mim...
Feliz 2014, com salões mais
amplos no peito para guardar mais pedaços, mais vidas, mais amor e compaixão,
reter mais lembranças, aumentar mais as esperanças e esperar por mais
reencontros.
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