"E então eu não sei...
Não sei dos caminhos tortos, das dúvidas conflituosas, das certezas agudas... eu já não sei.
Perco-me, e no perder-me, me encontro, me confronto.
Tantos “por quês” e tantas certezas, tanta obstinação e tanta firmeza... fazem sentido?
Essa coisa regrada, imposta, ditada... essa barreira oculta, firme e gélida... precisa?
Que não haja qualquer certeza então, ainda e mesmo aquela certeza de reencontro... que não haja então, se o incerto é o mais leve e real, o mais duro e o mais presente... o incerto, o duvidoso, o frágil e o vulnerável... aquilo que não se sabe e não se espera, aquilo que vem e ferve a alma da gente, entorta e torce a alma da gente como um lençol em mãos de lavadeira.
O que é o mais escuro, o mais profundo e o mais angustiante da alma de alguém... aquilo que grita por socorro, que geme por compaixão. Aquilo que grita de dor, que murmura de desespero... Aquilo que existe dentro de toda gente, e de gente nenhuma...
Aquilo que se esconde no fundo da alma de quem tem medo, de quem grita uma raiva que não se entende...
Aquilo que chegou de surpresa,que deturpou tudo o que eu sabia, que engoliu tudo que eu pensava... aquilo que me tirou o chão e me deixou à vagar pelo espaço...
Aquilo que eu não sei como se chama, ou se chama-se qualquer coisa.
Aquilo que me provoca dor, pesar... aquilo que me pesa sobre os ombros e sobre os olhos... aquilo que meu coração não aceita, que minha fé rejeita, aquilo que não consigo acreditar.
Um desimportar agudo, agressivo, de quem teve tudo arrancado de si. Tudo arrancado e amassado, torturado... de quem perdeu a certeza, de quem perdeu a fé, a alma, o coração.
De quem teve alguma coisa tão torta, tão dura, que não sabe o que fazer.
Percebo toda a minha vaidade na minha necessidade de precisar entender o “por quê”, como se eu fosse capaz de ao entender, salvar.
E por que essa vontade de salvar o que já nem sequer mais lá está?
Salvar qual alma perdida, que perdeu-se sabe-se lá o quando ou o por que...
Uma dor que me arranca as lágrimas que já nem tenho, e eu, abaixada até o mais baixo nível que meu corpo consiga descer, com o nariz a tocar o chão da forma mais humilde que se possa haver... preciso mesmo tentar salvar?"
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