Há dias (e noites) assim... em que tento recriar no
pensamento o cenário perfeito, a memória perfeita do sentir-se segura,
sentir-se em paz e em conformidade com a vida.
Dias em que, ainda que pareça estar tudo sem sentido,
procuro a solidez e o sossego de alguma lembrança para recordar a sensação de
estar tudo bem.
Noites em que o sono não vem, e ao fechar os olhos o que
vejo são pessoas, situações e imagens que já não existem mais.
Quando quero, em meus pensamentos, retornar ao que era
certo, seguro, pacífico, os sonhos se dissolvem, o sono se retira, fica o
pensar e o esforço em lembrar, revirando páginas, imagens e escombros nas
prateleiras do que lembro.
Quando consigo voltar (e parece que cada vez o caminho de
voltar é mais comprido e longe) e resgato o sentimento de coração em paz, penso
em quanto tempo se passou, quantos anos, ilusões e enganos cobriram aquele
tempo, e então o sono se vai de vez.
Ficam os fantasmas a mostrar quantas águas
passaram, e o quanto dessa água nem sequer era límpida.
Ficam as sombras e as
sobras, e os restos que carrego em mim do barro com que moldei as frágeis
lembranças.
Há dias e noites assim... em que súbito vem o desejo de
lembrar e depois a certeza de que as lembranças são mais sentimentos que
verdades.
Há dias e noites assim, que trazem novas manhãs, novas
necessidades de abrir os olhos e seguir adiante, pisando nesse barro frágil e
já muito usado, fazendo o melhor e o possível para moldar novas formas.
Há dias em que sou restos e farrapos de quem eu antes fui.
Um comentário:
very good
_Stas
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