Quando se vai embora, de certa forma nunca mais se pode
voltar. Não se pode voltar ao que já passou, ao que já fomos um dia, ao que já
aconteceu.
Quando se vai embora uma vez, há que se ter a consciência de
que a vida está a ser movimentada, alterada, modificada. Escolhe-se. Não é
possível escolher o todo, o que existiu e o que vai existir – existe um
intervalo no meio, o que se escolhe existir agora.
Quando se vai embora, fica uma parte de nós e abrimos espaço
para uma parte nova entrar em nossa vida. Podemos ir embora com planos e idéias
de regresso, mas nunca saberemos ao certo o que os dias e o futuro nos vai
trazer – escolhe-se, opta-se, arrisca-se.
Quando vamos embora uma vez, nunca voltaremos exatamente do
jeito que éramos, não voltaremos ao que deixamos – a vida segue seu curso,
espaços abrem-se e fecham-se, transformam-se.
Ir embora é escolher um caminho, é fazer uma escolha, é
deixar aberta a possibilidade de um dia voltar sem saber ao certo como ou
quando. É deixar um pedaço de nós, e levar conosco um pedaço de tudo e de todos
que fizeram parte de nossa vida.
Ir embora não é chegar a algum lugar, é seguir um caminho
até que o retorno aconteça.
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