Hoje uma das gaivotas que costuma sempre vir saudar meu dia
ficou especialmente perto, especialmente em silêncio, especialmente sem estar a
espera de nenhuma comida (depois da barriga cheia), apenas atenta a me observar
em cada movimento, como se eu fosse o animal preso e ela, livre...
(... e não sou? E não é ela o ser livre?)
Enfim, enquanto a observava me observar, me pus a
imaginar... E se...
E se ela pudesse voar longe, mesmo bem longe, e encontrar as
pessoas que aqui não encontro, e se pudessem falar e conversar...
E se ela fosse dizer sobre o que viu e que vê aqui, todos os
dias, dia após dia... O que ela diria?
E se agora ela pudesse me ler os pensamentos, eu estaria a
dizer que se ela pudesse voar tanto, e tão alto, e tão longe...
Poderia ela dizer e contar não o que eu digo, não o que eu gostaria
que ela dissesse e contasse, mas simplesmente o que ela viu, e vê... o que ela
diria?
Se ela, que vem me saudar todos os dias, por horas e horas a
observar... o que ela vê? Como ela enxerga o que eu vejo? Enxerga ela o que eu
penso, ou enxerga ela o que eu faço? Aquilo que eu penso, aquilo que eu digo, é
realmente assim, como é aos meus olhos, aos olhos dela?
O que eu digo e penso ser bom, é realmente bom aos olhos
dela? E se...
E se ela puder me entender, entende que eu quero que ela
diga só o que vê? Não o que pensa, não o que digo, mas apenas e sem tomar
partidos, aquilo que vê?
Pode alguém se colocar tão “à parte” a ponto de relatar
fatos, e não opiniões? Alguem imune o bastante às próprias interferências de
opinião?
E se as pessoas não podem, podem então as gaivotas?
E se assim fosse... gaivota que ainda agora me observa... e
se você pudesse mesmo voar tão alto, e tão longe... você diria apenas o que vê?
E se pudesse, o que você vê? ... É bom?
E se me pudesse responder... quando você assim fica a me
observar... quando olhas para mim, o que vê você?
(Procuro eu com a resposta da gaivota fatos que já conheço
ou afinal a opinião dela?)
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