Hoje, não sei por que, como se eu estivesse sentada na mesa
da cozinha, nas cadeiras de ferro que as vezes tem o acento caindo para um ou
para outro lado.
Como se eu tivesse acordado agora pouco, e o cheiro de café
já chegasse ao corredor, chamando-me pelo olfato para sentar e acordar sem
pressa.
Esperar pelos barulhos conhecidos dos latidos, dos
passarinhos, e quem sabe até de alguma brisa que chega fazendo balançar os
galhos das árvores ali perto.
Escutar alguns passos vindos do corredor, até que ao mesmo
tempo que o som chega aos meus ouvidos, chega também aos ouvidos caninos
espalhados pelo chão da cozinha, fazendo-os todos levantar juntos, como num
coro já afinado, e irem de encontro à porta para saltar e saldar o mais novo
acordado da casa.
Partir o pão, colocar açúcar na xícara, segurar a garrafa de
café tentando medir seu peso e assim avaliar quantas xícaras mais terão ali
dentro, pequenos rituais que sei, não faz mal quantos dias, semanas ou meses se
tenham passado, tudo ainda persiste e existe ao longe.
Esperar entre um gole e outro enquanto se forma o pensamento
sobre o que colocar entre as metades do pão recém cortado... queijo? Presunto? Manteiga?
Geléia?
Esperar entre respirações e pensamentos, imaginações,
cumprimentos, conversas e risadas o desenrolar da manhã, que se fará tarde, que
se fará noite.
A calma do relógio que bate, como que a espera e ao mesmo
tempo sem espera ou pressa alguma. O passar dos minutos, os barulhos se
intensificando e o dia avançando.
Cheiro de café, pois é necessária mais uma garrafa enquanto
mais e mais pessoas chegam para saudar o dia.
Há quanto tempo foi o último café? Haverá em algum canto da
mesa uma xícara de café já muito frio, como havia a xícara de manteiga na
varanda em “Sete anos no Tibet”?
Talvez não exista a xícara, nem necessidade da manteiga ou
do café, uma vez que justo agora, mesmo agora, posso sentir o cheiro do café na
nova garrafa, e escutar os pássaros que cantam nas árvores ali ao lado... ouvir
passos vindos do corredor, e junto com os cães, aguçar os ouvidos para saudar
alguém que vai surgir atrás do ranger da porta e dos saltos caninos: Bom dia!
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