Já faz muito tempo que ganhei o hábito de em alguns lugares
e situações, colher folhas, pedras ou conchas. A vida não me permite ter comigo
todas as folhas, pedras ou conchas que colhi, mas embora eu nem sempre consiga
guardar na memória os rostos e nomes de muita gente, consigo facilmente me
lembrar de cada folha, de cada pedra e de cada concha que peguei.
Talvez esse hábito tenha começado quando eu era ainda
pequena, quando esperava para ver as flores amarelas na entrada do pomar
floresceram para apanhar uma, e quando não haviam flores, tinha que me dar por
satisfeita com uma folha – e uma folha daquela árvore representava a esperança
e a promessa de que no futuro haveriam flores para apanhar.
Hoje, um grande amigo partiu. E ao saber da sua partida, me
lembrei de algumas pedras que vi na vida, próximas ao mar. Não me lembrei das
pedras que apanhei, mas das que vi e decidi deixar na areia. Nem tudo
conseguimos apanhar ou carregar conosco, nem tudo precisa estar sob a nossa “posse”
para ser nosso. O que é realmente “nosso” habita em um lugar lá dentro de nós,
não se toca com as mãos, não é preciso. Nos pertence porque pertence ao nosso
coração.
Eddinho foi-se embora do alcance das minhas mãos, mas não
está distante do meu afeto. Vive, vive!
Vive nos corações daqueles que o
conheceram, onde viverá sempre. Viverá no meu coração junto com outros que lá
vivem e viverão sempre, junto com lembranças e memórias, em um lugar onde não
se precisa apanhar conchas e pedras para que estas nos pertençam.
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