Tratado do Elefante Cor de Rosa - Intro
Apresento o Prefácio de uma história já escrita.
Tratado do Elefante Cor de Rosa
Prefácio
Não consigo dormir, tentei me deitar e tenho pensamentos que me trazem
alguma angústia. Angústia pela própria natureza da humanidade que existe
em cada um, e em mim. Não se tratam de erros ou acertos ou das
motivações que existem por trás de cada uma dessas coisas.
Da
mesma forma que a consciência que possuo torna possível que eu
compreenda e perceba um pouco do universo e das pessoas a minha volta,
também faz com que eu reflita (em demasia, muitas vezes) sobre as
motivações e razões por trás da minha própria existência e
personalidade.
Se me inquietou ter um dia imaginado um diálogo
entre eu e a menina que eu fui, sobre tudo aquilo o que foi ou não foi
realizado por mim, e se hoje essa inquietação já quase não existe, os
caminhos que foram a consequência desse pensamento (imaginação) inicial
tornaram-me uma pessoa que eu jamais imaginei que me tornaria.
Saber as coisas que sei, ter os pensamentos que tenho, e ter encontrado
minha própria fonte de crenças, filosofias, reflexões e verdades não me
torna uma pessoa melhor do que a que antes eu era. Torna-me mais
consciente e sabedora de mim mesma, mas não melhor por isso.
Como quando ao se retirar uma venda dos olhos se ganha uma visão mais
ampla, mas não significa que o mundo ao redor se torne mais colorido,
mais bonito ou um outro mundo. A visão amplia-se mas não altera o que há
para ser visto.
Talvez, com um pouco de sorte, retire alguns
véus que poderiam estar a encobrir as paisagens. Se isso é melhor ou
não, já é outra história.
Há muito tempo que sei que devo criar
de alguma maneira uma certa disciplina e realmente escrever sobre as
coisas que tenho para escrever. Mas tenho alguns preconceitos contra a
minha própria maneira de escrever, o que é uma contradição, e que torna
mais difícil de ser levada a sério minha decisão em escrever.
O
pronome que acabo por mais usar (o eu, o escrever em primeira pessoa)
aborrece-me, e embora eu reconheça o valor das coisas serem escritas
desta forma, também reconheço que pode significar alguma arrogância e
necessidade em se fazer ouvir (ou, neste caso, ler), sem falar no quanto
se torna fácil confundir a personagem com a autora.
A iniciar
por aí, posso de alguma maneira concordar com a arrogância, mas não com a
necessidade de ser “lida”. E a propósito, a personagem e a autora nem
sempre são a mesma pessoa.
Posso falar sem ter quem escute,
desde que não me seja negado o direito de dizer. Para citar uma frase
com a qual me identifico bastante: "É bom escrever porque reúne as duas
alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão." (Cesare Pavese)
Tenho sim, essa necessidade de dizer, de escrever. Seja através da
palavra escrita, seja através da palavra falada. Indo mais a fundo, digo
e escrevo porque o que tenho à transmitir (me) faz sentido, e embora
tenha-me custado chegar à essa minha forma de ver, sentir e perceber as
coisas, tenho talvez o desejo de ser contestada.
Adoraria razões plausíveis que alterassem algumas das minhas percepções.
Enfim, tanto o que tenho a dizer quanto as razões plausíveis que
gostaria de conhecer simplesmente não pertencem à este nosso tempo, não
agora. Seja isso para o bem, seja para o mal. E não deixa de ter alguma
graça o funcionamento das coisas (das pessoas, do ser humano).
Quanto mais duro meu pensamento se torna, mais compreensiva vejo
tornar-me. Quanto mais “frieza” sou capaz de transmitir e sentir, mais
doçura sou capaz de ver.
Quero escrever sobre as pessoas, mas
gostava também de falar sobre um elefante. Um elefante cor de rosa,
pequenino, de uns 20 cm, que veio uma noite me tirar o sossego. O tal
elefante era mesmo um elefante, não um desenho ou caricatura de um.
Ficava em pé sobre as patas traseiras e dançava debaixo de um chuveiro
enquanto cantarolava uma coisa qualquer, que interrompeu para sorrir
para mim quando passei por ele.
Era um elefante encantador, que
mudou a minha vida, minha forma de pensar e de ser. Foi a porta que se
abriu para uma reflexão sobre a realidade, a ilusão, o que existe e o
que não existe, e todos os pensamentos que daí podem se seguir.
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