Porquê: Eu sou uma alma livre presa em um corpo, mas não limitada por ele.
26 de jun. de 2024
Que eu me lembre das Gaivotas
24 de jun. de 2024
Piedade
Rudolph
Quando escrevi a primeira parte do livro, o Rudolph apareceu sem ter sido pensado antes, ele apenas "apareceu".
Apareceu quando no livro, o caminho havia se tornado demasiado incerto e indefinido, e o peso de um nada gigantesco pairava à frente. E então, "do nada", o Rudolph apareceu, para mostrar a direção.
Não pude deixar de sorrir quando triste, eu o vi hoje. Um Rudolph real, em pele, osso, pulgas e pêlos, que me olhou com os olhos de mel mais cheios de luz que eu alguma vez já vi, e ao me ver sorrir, levantou-se e veio atrás de mim. Atravessou a primeira rua ao meu lado, depois a segunda. Passou comigo pelo portão, entrou junto comigo no trabalho. E está agora aqui, deitado junto à secretária, não quis água nem comida, só se deixar estar.
Meu coração agradece esse deixar-se estar dele. Aqui, em silêncio, tranquilo. Me conforta, apazigua, mostra que talvez, quem sabe, eu esteja onde realmente devo estar, apesar do coração pesado e meio sem rumo.
As coisas mais pequenas, mais simples, são as mais difíceis e ainda assim, são e serão sempre as mais importantes.
Obrigada Rudolph!
8 de jun. de 2024
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar é feita de medo, daquele medo que nos custa identificar e reconhecer, que se esconde atrás dos nossos pensamentos mais íntimos e custamos a perceber.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar é imensa, tão
grande quanto o próprio tempo e espaço e ocupa sem esforço o tamanho do
infinito, embora seja tão simples e delicada que confunde-se com o que chamam de rotina e de comum para olhos menos atentos.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar compõe-se de
várias partículas que dançam em perfeita sincronia – e que nunca se confunda
sincronia com ausência de turbulência ou de obstáculo, porque a perfeição é
feita de imperfeições síncronas.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar foi deixada de
lado, feito sombras de fantasmas que se cansaram de assombrar, e fizeram morada
no silêncio de um passado já demasiado distante para lembrar.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar foi impressa em
mim na multiplicação celular que enquanto embrião, um dia eu fui e traduz-se no
meu próprio ADN.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar estava
esquecida, precisei um dia atropelar. E vem, pouco a pouco, querer se fazer lembrar.
E lembro-me então… de mim. De correr no pátio da escola de
lancheira na mão, de estar sentada em círculo a brincar de lenço atrás, de
subir nas árvores e de caçar formigas. Do tapete de bamboo e das massinhas de
modelar (plasticina) que deixavam tinta na mão. Das festas juninas e das lições
de história e geografia. E salto… dos 4, 5, até os 10, 11 anos. E estremeço com
os fantasmas que acordam e se assustam, porque desaprenderam a sonhar.
A matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar aparece-me à
frente, sacode-me e atira-me ao ar, levanta-me os pés e não sussurra, mas fala, de forma nítida, decidida e clara com toda a certeza da voz mais definida que já se fez algum dia ouvir e me diz: "a matéria dos sonhos que eu não ouso sonhar… é feita de ti".