1 - Ainda demoras muito por aqui? É que assim não consigo
fechar a porta…
2 - Eu gosto da casa vazia, por isso me demoro. Gosto da casa
vazia porque preciso gostar, como precisar de precisão e de necessidade, senão
dever.
1 – És estranha. Porque alguém gostaria de uma casa vazia?
2 – É por causa do amor que eu guardo. O amor que eu tenho
precisa da casa vazia, do silêncio das vozes e do barulho dos pássaros, precisa
das janelas abertas e do vento frio a arejar os espaços, do chão sem mobília e
das paredes desertas e das portas trancadas com chave, que não deixam ninguém
entrar.
1 – (…)
2 - O amor que eu tenho é denso e é pesado, é tão forte que carrega
e levanta qualquer peso e qualquer espaço, qualquer dor e qualquer escuridão, é
em si mesmo, uma brutalidade, uma violência, um furacão. Exige tanto, absorve
tanto, dá tanto e faz tanto, que não cabe em si e nem no outro, é um buraco
negro que alimenta-se de si mesmo e mais denso, mais forte, mais infinito em si
mesmo, fica…
1 – E chamas isso amor?
2 – Chamo a isso a única forma de amor e de sentir que conheço…
Mas eu sei que não cabe em lado nenhum, eu sei que não é aceito, eu sei que é intenso
“demais”, mas é assim.
1 – E amas?
2 – Ora, não vês que não se pode? É por isso que eu gosto da
casa vazia… por causa do amor que guardo. Aqui, na casa vazia, ele “cabe”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário