24 de dez. de 2019

Reflexões Natalinas


Por vezes me chega uma espécie de silêncio que obriga o tempo e o olhar a parar, mudar o foco para dentro e traz reflexões que eu não esperava.
Quanto mais realista penso que sou, mais descubro ilusões perdidas a naufragar em algum lugar dentro de mim mesma, feito pequenos barcos de salvação que de nada salvam, só se perdem.
Percebo então que dos maiores desafios que me espreitam, está a necessidade de manter o realismo, perder as ilusões, sem entretanto deixar ir a luz e a esperança que confundimos existir devido as ilusões que mantemos, e não, não é nada disso.
Difícil é perder as ilusões, abraçar a realidade e ainda assim, mantermos acesa a luz em nós da gratidão por tudo que há e que pode haver – essa sim é a luz verdadeira, que não se produz de vácuo nem de fantasias, que não se faz de falsas expectativas ou de resquícios de sonhos da criança que já fomos um dia. Mas sim, podemos manter viva a criança em nós, que se contentava e satisfazia pela realidade que sentia e não pela realidade que ansiava. Que desafio!
Que urgência de consciência e amadurecimento é necessária para deixar cair por terra as expectativas e ilusões e alimentar-se da beleza que se conseguir perceber da realidade existente!
Tomar a consciência cortante do que existe agora e é real, sem colorir o que por si só possui a cor que possuir – e satisfazer-se com a cor existente. Tomar assim, dessa forma lúcida e clara, as escolhas possíveis e concretas, baseadas no real e não nos desejos ou esperanças; encontrar o encanto maior dentro das possibilidades existentes de escolhas e alternativas e assumir a responsabilidade por tudo que depende de nós ser feito ou alterado, com a visão límpida e objetiva de que tudo o que sonhamos, fantasiamos e esperamos é apenas projeção e desculpa para nos distanciar daquilo que realmente está em nossas mãos fazer, transformar, realizar.
Que tamanho equilíbrio e lucidez se fazem precisos para diante da verdade, conseguirmos ainda encontrar a chama vital que nos permite iluminar a nós mesmos e todos que temos por perto.
Que tamanha força e coragem temos que ter para verdadeiramente nos olharmos diante do espelho de nós mesmos e sem desculpas, justificações, culpas ou carências, assumirmos a vida que temos e o poder real que temos de transformá-la. E inclusive, perceber que podemos escolher não transformar coisa alguma, mas conscientes de que assim não temos ninguém mais para responsabilizar ou culpar para além de nós mesmos.
Tantas vezes pintei-me com as cores que eu queria ter, poucas foram as vezes que aceitei minhas próprias cores. Que difícil é gostarmos e aceitarmos o que vemos nós, mas como mudar seja o que for, se nem nos vermos com verdade conseguimos?
Para qualquer caminho, para qualquer passo e para qualquer destino que quisermos, há algo que se deve saber inteiramente em primeiro lugar... onde realmente estamos.

10 de dez. de 2019

...


Nos vemos, sem nos vermos…
Falamos, sem falarmos…
O ir ver se está, quando não se está…
Picos altos, onde entre um “ir ver” e outro, nem sequer deixa que 5 minutos passem…
Um pensamento contínuo, que por vezes torna-se cortante…
Um passar dos instantes, que intuímos, serão o passar das horas, e dos dias…
Um tentar acalmar o que não se acalma, um tentar deixar passar o que não passa…
Um tentar convencer-se de que não é nada… que não há de ser nada… que o tempo cura, esfria… faz esquecer.
Esquecer o que não se esquece, fingir que se ignora aquilo o que se sabe, fechar os olhos para aquilo que os olhos não conseguem deixar de ver…
Passarão as horas, passarão os dias, passará o tempo. Ainda não passa, ainda segura-se, acorrenta, esmaga, tortura, fere, faz a angústia espremer as artérias, faz a cabeça doer, faz o sono não chegar, faz a irritação querer gritar, faz os passos teimarem em correr…
Ando de um lado para o outro, para onde olhar, se nada mais consigo ver?
Deixo passar o tempo, que não passa…
Tento resignar-me, eu… que não sei o quê isso é…
Tento conformar-me…
Tento acomodar-me…
Tento esquecer…
Tento deixar que o tempo passe, tempo que não passa, que não quero deixar passar, que violento o mais sagrado de mim e de minha alma a tentar deixar que passe…
Então eu paro. Obrigo-me. Que escolha tenho? Nenhuma… … Uma… … deixar que o tempo passe…

6 de dez. de 2019

Realismo


Há pouco, vi meio sem querer uma foto. É engraçado como algumas pequenas coisas que vemos ao acaso tem o poder de nos fazer parar e realinhar as coisas dentro de nós.
O que vi não retrata necessariamente qualquer realidade, uma vez que há universos e mundos escondidos por detrás das aparências, mas fez-me realmente parar e refletir.
Refletir sobre mim mesma, as coisas que prezo e considero fundamentais na vida, sobre meus caminhos e minhas escolhas, minhas consequências e preços que me disponibilizo a pagar para manter preservados meus próprios valores.
Me dei conta de que atualmente o aceitável é a mentira, enquanto que tornou-se condenável a verdade. Poucos são os que recebem de braços abertos a verdade das coisas, são inúmeros os que optam pelos caminhos tortuosos das diplomacias e do tato, que escondem, manipulam e deixam sujeitas às interpretações as verdades mais profundas.
Me dei conta que basta alguma ligeira desatenção, e me vejo emaranhada em histórias e contextos que não são os meus, sujeitando-me às dúvidas e incertezas que não são as minhas, aos conflitos e dilemas que não me pertencem, às comodidades de alma que não quero, às zonas de conforto que repudio. Bastou ver uma foto, e naquele instante, antes de colocar em seus próprios sítios os meus próprios sentimentos, o primeiro instinto que tive foi o da serenidade, da paz e da harmonia que desejo aos outros.
Foi desejar com toda a sinceridade da minha alma, a pacificação dos aflitos, a recuperação dos ressentidos, a verdade mais profunda e absoluta para aqueles que não aprenderam ainda a valorizá-la.
Nem sempre os finais serão como desejamos, nem sempre a vida será tão cor de rosa quanto gostaríamos, mas não haverá nunca e com toda a certeza, a felicidade oculta em enredos, falsas verdades, interpretações dúbias ou no falso consolo das palavras mansas que nada são para além de uma diplomacia escondida atrás da desculpa da fraqueza ou da mediocridade.
A verdade é dura, porém limpa. Pode ser cortante, porém libertadora. Pode doer, porém, é a única forma de libertação rumo à verdadeira felicidade e essência do ser.