Estar onde é fácil se estar, sem pensar que aquilo pode
levar à algum lugar,
Guardando no entanto em algum recanto a esperança de que
possa...
Como provocar com cheiro de sangue fresco um mar onde se
pensa (sem certezas)
Não existirem tubarões.
Provocar por quê? Eles podem acabar por surgir...
E surgem.
E embora seja emocionante descobrir que afinal existiam,
Fazer o quê com as mãos agora ensanguentadas?
A satisfação de encontrar aquilo que em silêncio se buscava,
E a dúvida do que fazer então à seguir.
E a natureza selvagem em mim não se contenta em observar as
barbatanas,
Quer jogar-se à água! Quer nadar com eles, quer ver se de
facto abrem a boca!
Vê as realidades tão distintas que já foram experimentadas e
pensa (louca):
Nunca vivi ainda no fundo do mar! Nunca nadei com tubarões!
Será que consigo?
E o lado racional argumenta... pensa... reflete e olha nos
olhos do tubarão (do qual só se vê a barbatana) – e alimenta e desperta... oh
raio da empatia!
Vê-se então também como um tubarão...
Sem as nadadeiras, sem o corpo cartilaginoso e sem a
competência de nadar feito tubarão (oh raios, nem sequer brânquias eu tenho) –
será que consigo?
E reflete mais... (e pior)
Eu poderia ser um tubarão... quem foi que disse que não
posso?
Poderia aprender a ser um tubarão...
Então olho para as mãos ensanguentadas que chamaram os
tubarões...
Olho para as barbatanas ao meu redor...
É, eu adoraria ser um tubarão. Adoraria mesmo...
E partilhar dos nados, dos saltos, dos intintos...
Seria mesmo tão bom. Viver um pouquinho dessa vida de
tubarão.
Mas percebo (à tempo?): Não sou um tubarão.
Triste, a despedir-me do sonho (tão bom!) de ser tubarão,
pego em água, e lavo minhas mãos.
Entretanto e já com as mãos limpas, fica a pergunta... não
teria eu alguma responsabilidade por ter acordado os tubarões? O quão justo é
sair “ilesa”? São eles tubarões... sou eu pessoa. A natureza deles é o
instinto, a alimentação. A natureza minha... é apenas acreditar... e provocar
tubarões?
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