Talvez um dos maiores obstáculos
pessoais à enfrentar seja a resistência. Ao menos para mim, de certeza é um dos
mais difíceis. Relaciona-se tanto ao apego quanto ao desejo e ao ego.
Relaciona-se também com as expectativas e ilusões que muitas vezes
inadvertidamente, criamos em nós mesmos.
Não é tarefa fácil reconhecermos
quando é chegado o limite entre a força e a digamos, estupidez.
Se sopra um vento de mudança, se
a vida mostra outros caminhos ou se percebemos que estamos demasiado tempo a
bater em uma porta que não dá sinais de abrir, a sabedoria dita que é hora de
deixar fluir, de nos libertarmos do passado (ou presente) que nos segura
estacionados e seguirmos adiante – evoluirmos, crescermos, aprendermos. Mas ai,
ai que não é sempre das tarefas mais fáceis.
Prezamos por demais nossa zona de
conforto, os riscos mesmo dentro daquilo que conhecemos já são tantos, imagine para
além da linha conhecida... Para além disso, há também o medo – e a dor.
O medo do que está por vir, do
que o futuro nos trará e que nos é totalmente desconhecido ainda mais se
iniciamos trilhas ainda não mapeadas por nós.
E a dor. A dor do processo de
desapegar, de deixar ir, de dizer adeus ao que conhecíamos e que nos trazia
alguma sensação de segurança – (de ilusão) de controle.
E quando nos vencemos a nós
mesmos e iniciamos a navegação por águas desconhecidas, não significa que
chegaremos seguros ao outro lado. Nem implica que não haverão mais e outros
mares e oceanos a desbravar. Não mesmo – e até o contrário disso. Quanto mais
descobrimos, quanto mais mares navegamos, mais descobrimos que nos falta
navegar.
O instante de parar as
descobertas é uma escolha (como tudo). Mas parar muitas vezes significa...
resistir. Resistir ao novo, resistir à descoberta, resistir à evolução e ao
aprendizado. E não é justamente o aprendizado que nos dá a emoção da vida? Da
verdadeira vida?
Estar vivo (verdadeiramente vivo)
não me parece que seja estacionar. Nem criar raízes tão fundas que nos impeça o
movimento, nem mesmo levantar paredes (seguras) tão altas e sólidas que acabam
por nos impedir de olhar tudo que há (e vive, e pulsa) através delas.
Mas não é fácil. Deixar a vida
fluir, deixar soprar os ventos de mudança e dançar ao sabor da brisa que chega
(seja ela qual for) custa muito. Custa o risco do vento nos carregar para outro
lugar qualquer, tirando nossos pés do chão e levando-nos (quem sabe) até para o
outro lado do mundo. Há que se desapegar do chão onde estão nossos pés. Há que
se desprender do que se sabe, do que se espera, talvez até do que se tem.
Resistir diante de uma realidade
distinta custa. Deixar fluir a nova realidade custa também. No fundo, a escolha
se deve as prioridades que se tem. Se é manter-se na zona de conforto (até que
o vento se torne tão forte que nos arremete ao longe talvez em pedaços) ou se é
deixar fluir a própria energia da descoberta e aprendizado – do mundo e de nós
mesmos.
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