Os pensamentos corriam acelerados, confusos, exponenciais
dentro da mente. Enquanto imagens ocorriam-lhe ao pensamento, paisagens
passavam por baixo de seus pequenos olhos de passarinho em alta velocidade.
Na cabeça, a imagens dos pais, dos avós, das cenas de
infância, dos risos e das lágrimas. As paisagens passavam por baixo dele, e os seus olhos olhavam em todas as direções e nada enxergavam, eram pensamentos e
lembranças demais...
Cada momento vivido passava em sua pequena cabecinha
assustada, todos os sentimentos vividos em uma recordação alucinante. As
brincadeiras no colégio, os passeios na fazenda, as histórias antes de dormir,
as refeições e as conversas, os abraços e as saudades... tudo de uma única vez,
lembranças de todos aqueles que haviam construído seu caminho e compartilhado
dele por tanto tempo. Eram lembranças demais, pulsos demais.
O passarinho voava assustado, confuso, perdido... Num ato
desesperado em conter o voo tão acelerado e perdido que poderia acabar por
matá-lo, nem esforço consciente tremendo, forçou-se a abrir os olhos. E
abriu-os.
Viu ao mesmo tempo em que as paisagens passavam por baixo
dele, passarem em sua mente todas as lembranças de sua pequena vida. Sentiu-se
saudoso, agradecido, contente... então, com esses olhos gratos e cheios de
saudades, percebeu-se das paisagens que estavam a passar por baixo dele... ele
estava a voar! Sim!!! Não tinha se dado conta! Estava a voar mesmo, em pleno
mundo a céu aberto!
Pensava tanto em tudo que havia passado, que esqueceu-se
daquele desejo inocente, poderoso, absoluto que havia nascido um dia em seu
coração... aquele velho companheiro, aquele antigo desejo de liberdade...
Ele
havia desejado, ele havia conquistado! Sim... todos os desejos, por mais
pequenininhos que pareçam, por mais frágeis e singelos que sejam, todos os desejos
que nascem no coração são únicos, possíveis, reais... Ele havia depois de
ter-se esquecido do que estava a fazer, conquistado seu próprio voo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário