Guardei os dias de festa assim como guardei comigo uma
porção de silêncio, um bocado de reflexão e uma porção de recordações.
Fiz minha própria receita, juntando pedaços daquilo que já
foi, aquilo que agora é e as esperanças, sonhos e ideias do que poderá estar
por vir.
Percebi que as melhores receitas se fazem aos pedaços
pequenos, pequeninas porções de ingredientes de momentos e de instantes, a
atenção que cada um desses instantes teve e as marcas que deixaram, os sabores
e as lembranças.
Como quando se coloca a massa de um bolo no forno, pode-se
perceber a hora que o mesmo começa a ficar pronto pelo cheiro que se espalha e
aquece o ambiente a volta.
Começo a sentir o cheiro do bolo, sem conhecer ainda
o sabor dessa mistura.
Posso reconhecer pelo cheiro que sinto agora alguns dos
ingredientes que foram colocados, os momentos de alegria, de saudade, de tristeza, de
medo, de coragem. Momentos de partida, de chegada.
Alguns até de desespero, de
incompreensão e de medo. Tem no meio dessa mistura um tanto de incerteza,
insegurança e força. Tem histórias de vencer os próprios limites, tem atos de
loucura e de estupidez, tem gestos de bondade, humildade e também de egoísmo.
Tem amor e tem também mágoa. Tem doçura e tem uma pitada de sabores amargos que
ficaram.
Não sei qual sabor terá esse bolo, que representa para mim a
mistura não só do ano que passou, mas de uma caminhada um pouco maior que isso.
Talvez, com o ano novo que chega, que nada mais é senão a mudança de folhas em
um calendário, também chegue a hora de experimentar um pouco dos sabores
cultivados, colhidos e misturados nessa receita.
Sinto o cheiro do bolo a ficar pronto, sem saber quando ou
aonde será a hora de prova-lo, mas carrego a certeza de que a criação dessa
receita teve tudo de mim, em cada pequeno pedaço e em cada cuidada mistura.
Que os novos anos que cheguem sejam sempre assim, a chegada
de colhermos aquilo que tivermos plantado de melhor e de mais verdadeiro.
Bom apetite!
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