21 de fev. de 2014

Aos meus pecados

Aos meus pecados...

Ai, que eu sei que foram muitos... tantos ainda são!

As intenções, garanto, é que sempre foram as melhores... sempre, desde que me lembro. Tento pensar em alguma vez eu que eu tenha desejado algo de ruim para alguém... desejado mesmo, a sério. Não me lembro de uma única vez sequer. Mas vale isso de alguma coisa, se intenções são apenas “in”, tipo de “inside” (dentro)?

Algumas pessoas me feriram, magoaram, machucaram mesmo. Se intencionalmente ou não, não faço idéia. 

Mas machucaram na mesma... E será que eu não posso ter alguma vez, feito o mesmo? Machucado sem a intenção de machucar?

Tento me lembrar de todas as lágrimas que vi, de todas as acusações que ouvi... Será que uma delas, alguma delas, teve verdade profunda e sincera?

Se tiveram, erros meus – pecados meus.

Mas no momento de agora, nesse instante, é de tal forma absoluta que me entrego! Entrego o ego e os erros, os crimes e os castigos. Entrego minha verdade, minhas aflições e minhas angústias. Entrego tudo aquilo que penso que sei, que penso que conheço.

Entrego tudo aquilo que acho, que suponho – pois de nada, absolutamente nada, sei eu.

De que adiantam as intenções, se elas se baseiam no suposto? No me nós supomos?

Ah... para o raio as minhas boas intenções, se de nem um ato se transformaram!

Sou boa o bastante? Competente o bastante? Eficiente o bastante? Que bobagem!

Pois de nada – NADA! Valem tais créditos, ou mesmo tais atos. Me tinha esquecido desses valores tão vitais! Tão fundamentais! O valor da humanidade. Da decência.

Preciso também entregar meu orgulho... Entrego meu orgulho, abelhinha tão feroz que pica e envenena. Esse orgulho besta da minha decência (pois sim, minha alma mais que eu, é decente!). Entrego também esse orgulho, que de nada me inocenta  ou evolui. Está entregue.

Junto, entrego qualquer e toda vaidade minha, pois minha vaidade é a do tipo pior – não é a do corpo, é a interior. Lustro minhas qualidades e ressalto meus talentos como troféus – entrego também toda a minha mediocridade.

Que eu me lembre e jamais esqueça dos valores – apenas os valores interiores, esses que tanto quero cultivar ainda que nunca produzam flores – apenas o cultivo já faz valer a pena.

Que também, para alem dos meus pecados, sejam também perdoados os pecados dos outros. De todos os outros. Porque ainda que de nada valham as intenções, mesmo as boas intenções, estas floresceram de uma terra sofrida, houve alguma força e desejo sincero do bem.

Perdoa os pecados, todos eles. Os meus e os dos outros; os dos outros e os meus.

E leva também junto essa minha vontade de saber. Preciso mesmo tanto saber? É mesmo tão importante assim saber aonde vou viver amanhã? Ou o que vou fazer, o que vou comer, aonde vou estar?

Não foi sempre a Providência que tudo providenciou? Sem nenhuma falta, sem nenhuma dor? As dores que vieram foram todas suportáveis...

Leva também, se for isso possível, meus crimes e os meus castigos. Pois tenho medo dos castigos... será que posso pedir deles a absolvição? (Já que estou a pedir... posso tentar pedir também mais isso, né?)

Enfim... somos tão horrorosamente frágeis e estúpidos! Perdoa essa nossa ignorância e estupidez, de nós como sendo toda a humanidade. Devíamos e tínhamos que ser melhores. Era essa a nossa única e verdadeira obrigação, não era?

Fica o pedido, o apelo, a certeza do retorno.


Amén. 

2 de fev. de 2014

Quando eu olho assim...

Quando eu olho assim, através das grades da janela o gramado tão verde, tão aberto, com árvores e passarinhos, com o sossego da natureza e a linha do horizonte ao longe...
Quando eu vejo o sol radiante lá fora, o ar fresco pelos arredores, a calmaria do campo...
Quando eu vejo, tenho vontade de chorar.
Uma tristeza tão intensa, tão funda... como as grades da janela separassem o sonho da dura e crua realidade.
Quando eu olho assim... e vejo a vida ao longe, a alegria da liberdade a soprar entre os ramos no chão... sinto tanta, mas tanta vontade de chorar!
Um mundo tão lindo... tão, mas tão lindo!
E o que foi que fizemos com ele? No quê o transformamos?
Minha culpa, minha mais ainda que de todos... como tanto escreveu Fiódor Dostoiévski...
Quando eu olho assim... e vejo a simplicidade de um pequeno cão brincando pela grama, tantas e tantas lembranças me ocorrem... me assombram, alegram e entristecem.
Era para ser um paraíso, um refúgio, um abrigo.
O paraíso não devería sermos nós?
Será que terei que ir-me embora?
Será que acabaram-se os abrigos? Os refúgios?
Acabaram-se.
Posso tentar refugiar-me em mim mesma... ou posso tentar aprender a não precisar de refúgio... Será isso possível?
Quando olho assim... através das grades da janela... penso se isso (tudo o que era) será ainda possível.
Talvez, só talvez...
... eu tenha que ir-me embora.