Aos meus pecados...
Ai, que eu sei que foram muitos... tantos ainda são!
As intenções, garanto, é que sempre foram as melhores...
sempre, desde que me lembro. Tento pensar em alguma vez eu que eu tenha
desejado algo de ruim para alguém... desejado mesmo, a sério. Não me lembro de
uma única vez sequer. Mas vale isso de alguma coisa, se intenções são apenas “in”,
tipo de “inside” (dentro)?
Algumas pessoas me feriram, magoaram, machucaram mesmo. Se
intencionalmente ou não, não faço idéia.
Mas machucaram na mesma... E será que
eu não posso ter alguma vez, feito o mesmo? Machucado sem a intenção de
machucar?
Tento me lembrar de todas as lágrimas que vi, de todas as
acusações que ouvi... Será que uma delas, alguma delas, teve verdade profunda e
sincera?
Se tiveram, erros meus – pecados meus.
Mas no momento de agora, nesse instante, é de tal forma
absoluta que me entrego! Entrego o ego e os erros, os crimes e os castigos.
Entrego minha verdade, minhas aflições e minhas angústias. Entrego tudo aquilo que
penso que sei, que penso que conheço.
Entrego tudo aquilo que acho, que suponho – pois de nada,
absolutamente nada, sei eu.
De que adiantam as intenções, se elas se baseiam no suposto?
No me nós supomos?
Ah... para o raio as minhas boas intenções, se de nem um ato
se transformaram!
Sou boa o bastante? Competente o bastante? Eficiente o
bastante? Que bobagem!
Pois de nada – NADA! Valem tais créditos, ou mesmo tais
atos. Me tinha esquecido desses valores tão vitais! Tão fundamentais! O valor
da humanidade. Da decência.
Preciso também entregar meu orgulho... Entrego meu orgulho,
abelhinha tão feroz que pica e envenena. Esse orgulho besta da minha decência
(pois sim, minha alma mais que eu, é decente!). Entrego também esse orgulho,
que de nada me inocenta ou evolui. Está
entregue.
Junto, entrego qualquer e toda vaidade minha, pois minha
vaidade é a do tipo pior – não é a do corpo, é a interior. Lustro minhas
qualidades e ressalto meus talentos como troféus – entrego também toda a minha mediocridade.
Que eu me lembre e jamais esqueça dos valores – apenas os
valores interiores, esses que tanto quero cultivar ainda que nunca produzam
flores – apenas o cultivo já faz valer a pena.
Que também, para alem dos meus pecados, sejam também perdoados
os pecados dos outros. De todos os outros. Porque ainda que de nada valham as
intenções, mesmo as boas intenções, estas floresceram de uma terra sofrida,
houve alguma força e desejo sincero do bem.
Perdoa os pecados, todos eles. Os meus e os dos outros; os
dos outros e os meus.
E leva também junto essa minha vontade de saber. Preciso
mesmo tanto saber? É mesmo tão importante assim saber aonde vou viver amanhã?
Ou o que vou fazer, o que vou comer, aonde vou estar?
Não foi sempre a Providência que tudo providenciou? Sem
nenhuma falta, sem nenhuma dor? As dores que vieram foram todas suportáveis...
Leva também, se for isso possível, meus crimes e os meus
castigos. Pois tenho medo dos castigos... será que posso pedir deles a
absolvição? (Já que estou a pedir... posso tentar pedir também mais isso, né?)
Enfim... somos tão horrorosamente frágeis e estúpidos!
Perdoa essa nossa ignorância e estupidez, de nós como sendo toda a humanidade.
Devíamos e tínhamos que ser melhores. Era essa a nossa única e verdadeira
obrigação, não era?
Fica o pedido, o apelo, a certeza do retorno.
Amén.