Então parece chegar a aurora, e ao longe surge devagar a
promessa de luz que apenas o sol pode trazer. Me descubro criança diante da
expectativa do que poderá se fazer visível quando surgir a claridade. Me
descubro criança a explorar um bosque onde pouco a pouco as sombras se desfazem
e novas árvores, frutos, plantas e animais podem ser vistos. Me descubro
criança a firmar pouco a pouco um pé após outro, como a dar os primeiros
passos. Me descubro criança, onde cada minuto é uma descoberta, uma
possibilidade, um presente.
Porquê: Eu sou uma alma livre presa em um corpo, mas não limitada por ele.
29 de jun. de 2012
Ser...
"No escuro que era antes a minha solidão, encontrei a liberdade do ser.
Ser não a imagem de mim mesma, mas aquilo que sou dentro de mim. No
escuro que eram os dias de noite e no silêncio do ar que pairava ao meu
redor, encontrei a liberdade do viver eternamente no instante de agora.
De olhos fechados, aprendi a enxergar o mundo de olhos abertos. No pairar das inconstâncias de quem sou, desbravei a constância do que há de meu em mim.
Engatinhamos melhor depois que aprendemos a correr. Escalamos melhor depois que aprendemos a rastejar. Partilhamos mais genuinamente depois de conhecermos a abundância. Ganhamos mais quando sabemos perder. O sorriso é mais largo quando soubemos chorar. E a vida é mais viva quando descobrimos a eternidade de simplesmente ser." Agape
De olhos fechados, aprendi a enxergar o mundo de olhos abertos. No pairar das inconstâncias de quem sou, desbravei a constância do que há de meu em mim.
Engatinhamos melhor depois que aprendemos a correr. Escalamos melhor depois que aprendemos a rastejar. Partilhamos mais genuinamente depois de conhecermos a abundância. Ganhamos mais quando sabemos perder. O sorriso é mais largo quando soubemos chorar. E a vida é mais viva quando descobrimos a eternidade de simplesmente ser." Agape
24 de jun. de 2012
Estar pronto
Dois coelhos indefesos, numa toca que aparentemente não dava
toda a proteção que deveria. Não somos nós exatamente assim, indefesos no meio
de um mundo que as vezes pode ser tão hostil? A pensar nisso, cheguei a
conclusão de que o mundo é muito menos hostil do que podem ser as próprias
pessoas umas com as outras, tantas e tantas vezes.
Já não precisamos nos preocupar com predadores naturais, nem
precisamos lutar para construir cavernas que nos protejam do frio do inverno.
Nossa luta é para ter o suficiente que nos permita ir ao mercado comprar
comida, e ter algum teto sobre a cabeça. Mas sempre lutamos por mais, sempre
queremos mais, e acabamos muitas vezes por devido a isso, tornarmo-nos hostis
uns com os outros – já não sei “em nome de quê”.
Sem interferir com os planos e escolhas da natureza, foi com
apreensão que fiquei a espera do desfecho da história desses coelhos tão
pequeninos, até que quando sentiram-se ambos prontos, simplesmente um dia
abandonaram a toca e foram viver suas vidas.
Tiveram o apoio da mãe que mesmo nunca tendo se deixado
apanhar nem mesmo para uma foto, esteve presente a garantir o alimento, a
proteção, o abrigo e o que mais tenha sido necessário. Em determinado instante,
os coelhos estavam prontos para os riscos do mundo desconhecido – e foram-se
embora.
Existem animais assim, que assumem o risco do que pode ser
hostil sem que por isso tornem-se hostis também. Mantem de alguma forma um
interior “intacto”. Não sei bem se é mesmo assim, mas gosto de pensar que sim.
Tambem gosto de pensar que somos capazes de fazer o mesmo,
não importa o quanto a vida ou o mundo já tenha sido hostil conosco. Preservar
nossa essência, coração e alma intactos também é uma escolha que podemos nos
dar o direito de ter. E a beleza de acreditar.
Ainda que surjam predadores e perigos que levem a finais
menos felizes, o realmente importante parece-me que está na tentativa. Talvez
os dois pequenos coelhos já nem estejam mais a saltar por aí ou talvez estejam
mais felizes e livres do que posso eu supor. Não me parece importante...
Importante é eles terem tido o necessário para ir, para tentar, para viver.
22 de jun. de 2012
Ir não é chegar
Gosto muito do pensamento que me fez escrever um dia que “o
erro mais comum dos seres humanos é acreditar que ir já é chegar”. As vezes,
quando queremos muito alguma coisa, ou quando nos deparamos com decisões
difíceis a tomar, cometemos esse erro de acreditarmos que após ultrapassado o
primeiro (ou primeiros) obstáculo (s), já atingimos o ponto de chegada para
aquilo que desejávamos.
Seria bom se fosse assim? Mais fácil pelo menos de certeza
que seria, mas se seria melhor eu realmente não sei... Não existe uma lição que
não nos leve à outras lições, não existe caminho que realmente valha a pena ser
percorrido que não nos possibilite novos passos. Viver é aprender, é crescer, é
nos transformarmos na pessoa que nosso potencial latente tornaria possível para
nós, ser.
Do futuro, do amanhã, das idéias, sonhos e dos planos, o que
sei eu? Nada, a não ser das sementes que planto. Germinarão? Se tornarão
árvores? Darão frutos? Não sei... sabe alguém? O que mais além daquilo que nos
é o melhor possível podemos fazer? Existe espaço para preocupação, aflição,
angústia ou medo quando a consciência repousa tranquila sabendo fazer de si, o
seu melhor?
Seja a vida (ou circunstâncias) generosas ou não, que a
consciência esteja atenta para evitar o engano de “acreditar que ir, é já
chegar”. Agape
20 de jun. de 2012
Histórias da Baixa de Albufeira II - Diuk
Diuk
Não estão esquecidas as histórias sobre o Buzzi, Mandinho, a
doce Palhaça e nem a da gaivota misericordiosa. Mas essa de agora passa à
frente, não por ordem cronológica mas pelo instante que representa.
Ontem enquanto estava a trabalhar passa por mim um amigo com
ar apressado, mãos em concha e mostra-me um pequeno pardal muito assustado que
não conseguia voar. Iam os dois (meu
amigo e o pardal) no sentido da praça, aonde o pardal ia ser libertado. Tive
que intervir, ainda mais ao ouvir o canto esfomeado das gaivotas ali perto...
(sim, as gaivotas comem de tudo...)
Assumi a responsabilidade de ter eu as mãos em concha, e fui
a procura de uma caixa ou lugar aquecido e seguro até que o trabalho acabasse.
Trouxe comigo para casa o tal bichinho, já denominado Diuk,
e com a doçura de amigos do trabalho Diuk veio comigo já com comida e lugar
para beber água. Durante a noite cheguei a pensar que pela manhã eu teria
alguma surpresa triste, mas prefiro antes a tentativa ao invés de encher com
tanta facilidade a barriga de algum gato ou gaivota com instintos caçadores
muito aflorados...
Pela manhã acordo com um bom dia (muitos “bom dias”) em
forma de pio e farfalhar de asas. Sem saber bem o que fazer e a pensar nos
perigos que podem existir nos cantos atrás de máquina de lavar roupa e afins,
preparo a casa de banho (banheiro) para receber o ansioso Diuk.
Neste instante que agora escrevo fui expulsa da casa de
banho para dar espaço ao treino de grandes acrobacias e tentativas de vôo, que
só me fazem lembrar Fernão Capelo e seu caminho rumo ao infinito, infinito que
para o Diuk começa entre a banheira e a pia com paradas estratégicas sobre meu
roupão pendurado na parede, tudo com trilha sonora de pios esganiçados
motivados pela adrenalida dos primeiros vôos de independência.
Penso que não fará mal algum um dia de treino para
fortalecer os músculos e asas tão pequeninas, e amanhã Diuk poderá fazer seu
grande vôo de liberdade pelos céus de Albufeira e quem sabe quais outros céus
mais...
7 de jun. de 2012
"Só os mortos conhecem o fim de uma guerra"
Platão disse: “Só os mortos conhecem o fim da guerra”.
Existem diversos tipos de guerra, a que travamos em nosso dia a dia para nossa sobrevivência, a que travamos com nós mesmos, ou a que enfrentamos por nossos objetivos ou ideais. Guerras realmente importantes são aquelas que escolhemos lutar, as que nos fazem sentido. Abandonar uma guerra que em algum momento foi nossa escolha nunca é uma decisão fácil, implica na desistência de uma batalha por uma guerra que se tornou mais importante para nós. Quando desistimos de um trabalho, de um relacionamento ou de um sonho, estamos a assumir uma derrota em uma batalha por uma guerra maior – a de conquistarmos algo mais importante naquele instante.
Ao longo da vida escolhemos nossos caminhos, nossas batalhas, a bandeira que defendemos e os ideais que buscamos, um processo que deixa atrás de si alguns feridos e alguns mortos, pessoas que se distanciam, se esquecem, pequenas lápides no cemitério de nossas lembranças. Teremos durante nossa guerra os heróis e os desertores no exército de pessoas que cruzam nossas vidas, poderemos ou não ter nossos mártires, salvadores e traidores – mas seremos sempre nós a comandar e a decidir as batalhas que iremos lutar. E sempre haverão batalhas, sempre haverão vitórias e sempre haverão perdas.
Como disse Platão, “Só os mortos conhecem o fim da guerra”; acrescento que: “somos nós a decidir o fim de uma batalha”.
Existem diversos tipos de guerra, a que travamos em nosso dia a dia para nossa sobrevivência, a que travamos com nós mesmos, ou a que enfrentamos por nossos objetivos ou ideais. Guerras realmente importantes são aquelas que escolhemos lutar, as que nos fazem sentido. Abandonar uma guerra que em algum momento foi nossa escolha nunca é uma decisão fácil, implica na desistência de uma batalha por uma guerra que se tornou mais importante para nós. Quando desistimos de um trabalho, de um relacionamento ou de um sonho, estamos a assumir uma derrota em uma batalha por uma guerra maior – a de conquistarmos algo mais importante naquele instante.
Ao longo da vida escolhemos nossos caminhos, nossas batalhas, a bandeira que defendemos e os ideais que buscamos, um processo que deixa atrás de si alguns feridos e alguns mortos, pessoas que se distanciam, se esquecem, pequenas lápides no cemitério de nossas lembranças. Teremos durante nossa guerra os heróis e os desertores no exército de pessoas que cruzam nossas vidas, poderemos ou não ter nossos mártires, salvadores e traidores – mas seremos sempre nós a comandar e a decidir as batalhas que iremos lutar. E sempre haverão batalhas, sempre haverão vitórias e sempre haverão perdas.
Como disse Platão, “Só os mortos conhecem o fim da guerra”; acrescento que: “somos nós a decidir o fim de uma batalha”.
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