12 de jul. de 2016

Gaivotas... todos somos.

Vai, e levanta vôo...
Vai com as nuvens, ergue alto as asas e encontra a brisa suave e o sol radiante lá do alto.
Não olha para baixo, não olha para trás, segue em frente - para cima e para frente - a estrada e o caminho são ilusões, fazem-se conforme se cria o traçado de onde se pretende chegar.
Ainda que seja lugar nenhum, o ir é a único sentido possível.
Pode ser que venham rajadas de vento para atordoar o vôo, podem surgir nuvens ou até tempestades, mas mesmo elas tem a sua beleza, não tem?
Fortalecem-nos asas, mostram-nos todo o potencial que temos guardado e às vezes até escondido inclusive de nós mesmos.
Não tem importância o rodopio, ou mesmo que se perca o caminho vez ou outra... seguir adiante, sorrir para o que surgir à frente e... voar!

8 de jul. de 2016

Recordar

Para recordar que em certas ocasiões só através da pele rasgada pode se produzir algo tão belo e raro como uma pérola. Em algumas ocasiões, as dores e os riscos são necessários.

"Chegar a um lugar e ver a estonteante paisagem tem um efeito, uma consequência. O cheiro de mar e maresia, o verde intenso da mata atlântica, o cantar de centenas de pássaros de diferentes espécies tem um impacto único, intenso, perigoso.

O mar imenso e azul, com ondas que não passam de uma pequena marolinha, o vento leve, suave, o sol a produzir pequenas centelhas prateadas sobre a água cristalina e os pés descalços a experimentar a temperatura da areia coroam o momento.

A tentação incontrolável de deixar a água abraçar a pele e sentir a temperatura do universo escondido sob a superfície fazem o resto.

Águas tão rasas que é possível andar metros e metros sem sentir o mar sequer chegar aos joelhos, avistar pedras a uma distância pequena, apenas sendo necessária uma pequena travessia, pé ante pé, para se chegar a um paraíso de conchas.

Como a história de que ostras que nunca sofreram impactos e ferimentos não são capazes de produzir pérolas, o risco de se ferir parece pequeno diante a paisagem que se possa avistar daquelas pedras mais distantes.

E assim, devagar e seguindo em frente, vou a caminhar pelas águas, tentando chegar ao outro lado para apanhar conchinhas solitárias na paisagem mais a frente.

E chego, com os pés descalços na areia formada por rochas que ao longo de anos e anos se desintegraram, subo um pouco, vejo a paisagem sem máquina fotográfica para registrar o momento da vitória.

Mas ainda há um caminho de volta a se fazer, caminho para se chegar ao porto seguro, à zona de conforto, ao que é tranquilo e confortável. A paisagem foi vista, o caminho feito – é hora de regressar.

Entro na água novamente, agora a pensar que talvez eu mereça um mergulho de corpo inteiro para sentir a água fresca abraçar-me por inteira. Mas não ainda, pois é raso demais para isso.

Sigo agora a pensar em fazer um caminho diferente, talvez mais curto, pois é possível ver que existe uma zona mais funda entre eu e a praia. Penso que é dar apenas alguns passos para a areia sob meus pés simplesmente desaparecer e assim eu poder nadar livremente.

Mas não chega a acontecer isso. A areia não desaparece, apenas sinto uma dor ligeira e cortante rasgar a pele que eu pensava grossa, calejada, resistente.

Não olho, pois é preciso ainda percorrer um bom caminho para poder parar.

Sigo a caminhar, sentindo a cada passo a dor ficar mais aguda, insistente, cortante. Sinto a areia e as pequeninas conchas entrarem mais na pele que eu acreditava grossa, e a areia fina raspar onde já pensei que não era possível doer ainda mais.
Mas sigo em frente, não olho e consigo sorrir – está tudo bem.

Saio da água sentindo a dor das conchas quebradas fazerem seu papel na pele já rasgada, sinto que o sangue parece descer do meu rosto, sinto meu estômago revirar-se em si mesmo – a dor é grande demais sequer para eu tentar ver.

Vejo sangue tingir a areia.

O importante é não parar, é seguir em frente, continuar a andar.

Uma ostra, um ser fechado em si mesmo, isolado do restante do mundo me feriu, cortou-me.

Ostras só produzem pérolas quando machucadas. Talvez, agora aquela ostra possa produzir a mais linda pérola já feita.

Talvez, agora também eu." Agape