Quando não sei
Por vezes há barulho demais. Um barulho interno, uma mistura
e uma confusão de pensamentos e escolhas possíveis – barulhos demais. E então
fico sem saber. Quando as alternativas são todas e nenhuma; quando os caminhos
são diversos e em diversas direções – fico sem saber.
E quando não sei, é tempo de silenciar. Deixar os barulhos “barulharem”
e deixar-me estar à parte, à margem, aguardando o silêncio chegar. Deixar
falarem as vozes altas, os gritos e as turbulências e aguardar a calmaria
regressar.
Quando não sei, é preciso deixar minha mente gritar o quanto
quiser, meus pensamentos voarem tudo o que têm para voar – e manter o coração
resguardado e em silêncio; esperar.
Pois é preciso primeiro o barulho, para depois o silêncio
fazer-se ouvir. É preciso primeiro a turbulência para a calmaria poder depois entrar.
Quando não sei, simplesmente não sei. Não sei nada – e é tempo
de esperar. Esperar não significa passividade ou inércia. Não adianta içar as
velas em mares demasiado agitados – irão rasgar-se. É preciso deixar a
correnteza levar, manter a atenção e aguardar o instante exato para conduzir a
embarcação.
Quando não sei, é a atenção e o estado de alerta o que
resta. Reconhecer o instante em que os gritos da mente tornam-se meros sussurros
– só então o coração poderá falar livremente e se fazer ouvir.