Porquê: Eu sou uma alma livre presa em um corpo, mas não limitada por ele.
25 de mar. de 2014
12 de mar. de 2014
Dois Lados
Ando por essa ponte, tão alta e tão estreita que balança
para a direita, balança para a esquerda, estremece, ameaça mas não cai nem tão
pouco se equilibra.
Essa ponte que me divide, que me corta e me separa pelo
meio. Uma metade terra, a outra metade ar. Uma metade terrena, a outra metade
luz. E o coração por inteiro em cada uma das metades.
O amor do espírito e o amor da luz. E não, não me digam que
se trata do mesmo amor. Pois não é. Não é e nem é ao menos parecido. São mais
opostos do que semelhantes. Em comum muitas coisas, desde que não se trate de
escolhas – apenas de sentimento. Pois em comum está o desejo do bem, a intenção
de saber o coração amado, feliz. E apenas isso, pois de resto se conflitam, se
atormentam. O amor do espírito gosta da proximidade, do abrigo, do conforto na
alma. O amor da luz não vê distância, nem sequer se importa com a existência ou
ausência de tempo e espaço. Nem mesmo considera essas coisas – elas não
existem. O amor do espírito busca, procura crescer, amadurecer, auxiliar. É
ativo e entusiasta. O amor da luz é passivo, transcende por osmose, é como a
luz refletida por um lago – o movimento pode ou não existir nas águas, a
luminosidade não se altera.
E essa ponte, essa trilha é estreita, é de extremos, é
incerta. Não há desvio errado ou ruim, não há escolha mal feita. Mas há
escolha.
E as escolhas envolvem ganhos, envolvem perdas. E envolve
amor. Tudo envolve amor.
Qual é o amor mais forte? Qual é o amor mais certo?
Mas há talvez o amor mais desapegado, o mais calmo, o mais
humilde. O amor da compreensão e abnegação, o amor imutável, inatingível, a
chama que arde para sempre.
Talvez nem seja nada disso. Talvez não existam diferentes
amores, talvez a única coisa que os diferencie seja o foco – e o sentimento
seja então sempre o mesmo.
Pode sim haver o foco talvez no espírito, talvez na luz,
talvez num anseio ou em um desejo. Mas quem sabe sejam apenas os focos...
Focar em uma paixão, focar em um trabalho, em uma ambição...
o foco, embora o sentimento seja o mesmo. O puro, o poderoso amor.
E nossas histórias, nossas experiências, nossos medos e
nossas dores sejam a lente de nossos focos. E não poderão haver focos errados,
mas sim em seu lugar mágoas profundas... como alterar a lente para obter
diferente imagem? A imagem não muda... mudam os nossos olhos.
E então, no fundo de tudo, o amor. Pura e unicamente o amor.
O amor que desfocado causa as guerras, as ofensas, as injúrias. As traições, as
violências, as torturas. Tudo apenas amor. Amor para defender a ferida
inflamada, para proteger as esperanças dilaceradas e as perdas ao menos suportáveis.
As eternas procuras por justificativas, desculpas para agir conforme o foco do
nosso amor...
E assim minha ponte desaba, não oscila, experimenta balançar
de forma mais lenta e contida, experimentando o ligeiro movimento. Estremece e
para, avaliando se afinal deixaram de existir as metades esquerda e direita.
Parece que fundiram-se, encontraram a forma de as unir.
Podemos nos tornar caleidoscópios, cristais... reflexos de
um único sentimento capaz de transbordar em todas as direções.
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